A SDH (Secretaria de Direitos Humanos) do governo federal registrou em 2011 uma média de 3,4 denúncias diárias de violência praticada contra homossexuais no Brasil.
A violência fruto da intolerância é um dos temas combatidos no Dia
Internacional contra a Homofobia e a Transfobia (rejeição a transexuais e
travestis) – celebrado nesta quinta-feira,17 de maio.
A comemoração foi criada por ativistas franceses em 2005 para marcar a
dada em que a homossexualidade foi tirada, há 22 anos, da lista de
doenças mentais da Organização Mundial da Saúde.
No Brasil, a data foi explorada por 500 manifestantes já na quarta-feira em Brasília.
As 1.259 denúncias foram recebidas de forma anônima pela secretaria por meio do telefone 100 do Disque Direitos Humanos.
Elas englobam casos de violência física, sexual, psicológica e
institucional, além de episódios envolvendo de discriminação relacionada
à opção sexual do indivíduo.
Cada caso, segundo a pasta, foi repassado para a polícia e governos locais.
Entre os Estados que mais registraram queixas estão São Paulo (210),
Piauí (113), Bahia e Minas Gerais (105 cada), e Rio de Janeiro (96).
Homicídios
Homicídios
O governo federal e a maioria dos Estados não fazem levantamentos sobre o número de crimes praticados contra homossexuais.
A estatística nacional mais aproximada é produzida pela entidade GGB
(Grupo Gay da Bahia), que faz sua contagem por meio de notícias
publicadas na imprensa.
Segundo o levantamento, em 2011 ocorreram 266 homicídios – um recorde
desde o início dos levantamentos na década de 1970. De acordo com o
GGB, foi o sexto ano consecutivo em que houve aumento desse tipo de
crime.
“A relação é que a cada um dia e meio ocorre uma morte. O Brasil é um
país relativamente perigoso para homossexuais”, disse o presidente do
GGB, Marcelo Cerqueira.
“Não temos muito o que comemorar neste 17 de maio. Além da questão da
violência, ações como o kit de combate à homofobia e a campanha de
combate à Aids no Carnaval (com foco na comunidade LGBT) foram vetadas
pelo governo”, disse ele.
São Paulo
Apesar de nominalmente registar o maior número de denúncias de
violência contra homossexuais, segundo a contagem da SDH, São Paulo tem
se destacado no cenário nacional pela criação de instituições e medidas
de combate à homofobia.
Para tentar estimular a denúncia e contabilizar os crimes de
intolerância contra homossexuais, o governo criou há um mês uma forma de
se registrar boletins de ocorrência pela internet, segundo Heloisa Gama
Alves, a coordenadora de Políticas para a Diversidade Sexual da
Secretaria de Estado da Justiça.
O software permite à polícia registrar à distância as comunicações de
crimes contra a honra (injúria, calúnia, difamação, etc), discriminando
se eles foram cometidos por homofobia – o que permite que uma contagem
seja feita eletronicamente.
Em paralelo, uma lei estadual prevê advertências e multas a
indivíduos e empresas que tenham se envolvido em casos de discriminação
por homofobia. Estabelecimentos comerciais podem até ser fechados se
reincidirem na prática.
O número de sanções aplicadas no Estado subiu de 33 em 2010 para 63 em 2011, segundo Alves.
Outras duas iniciativas são a criação de uma delegacia da Polícia
Civil especializada em crimes de intolerância e uma unidade de saúde
dedicada apenas a transexuais.
“Temos o que comemorar (no 17 de maio), mas muito ainda tem que ser feito”, disse ela.
Legislação
Tramita no Senado uma proposta para criminalizar atos de discriminação praticados contra homossexuais.
O projeto transforma em crime formas de preconceito relacionado a
orientação sexual ou identidade de gênero praticado no mercado de
trabalho, nas relações de consumo e no serviço público.
A proposta, porém, encontra resistência de alguns membros da bancada evangélica da casa.
Atualmente, agressões e injúrias praticadas contra homossexuais são punidas com base no código penal.
“O crime de intolerância não é um crime praticado só contra uma
pessoa, é uma agressão à toda a sociedade e por isso muito mais grave”,
afirmou a defensora pública Maíra Coraci Diniz, do Núcleo de Combate à
Discriminação, Racismo e Preconceito, da Defensoria Pública de São
Paulo.
BBC Brasil
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