sexta-feira, 31 de agosto de 2012

SUCATEAMENTO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS


Fonte: Gauss M. Cordeiro(*)
As universidades federais estão, literalmente abandonadas, e a maioria dos seus departamentos persiste engessada com seus chefes sem poder comprar o básico para tocá-los com uma infraestrutura básica mínima, salvo alguns departamentos de informática e engenharia que podem captar recursos por meio de projetos na iniciativa privada. Como diretor do Centro de Ciências Exatas (CCEN) da UFPE, que engloba quatro departamentos nas áreas de estatística, matemática, física e química, sendo considerado um dos melhores do País com cerca de 130 doutores, a maioria formada por pesquisadores de renome internacional, não disponho de recursos para enviar uma simples correspondência. Pesquisadores de áreas básicas como as citadas e outros das ciências sociais e humanas não conseguem obter recursos da iniciativa privada para dar andamento às suas pesquisas e, portanto, dependem inteiramente do governo federal.

O ministro Mercadante demorou muito em negociar com os professores e cometeu um grande erro: negligenciar por completo os servidores administrativos. A universidade é formada por professores, servidores e alunos e não pode existir sem nenhum desses segmentos. No início de 2008, as universidades elaboraram seus projetos de expansão, dentro da proposta do MEC intitulados Reestruturação das Universidades (Reuni). Novos câmpus foram criados e houve um aumento de vagas ofertadas, mas foram aprovados projetos sem qualidade e desprovidos de estudo detalhado de demanda e, o que é pior, sem a alocação financeira compatível com a expansão.


O MEC sinalizou uma equiparação salarial dos professores com os servidores do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e um novo plano de carreira, com prazo final de implementação em 31 de maio de 2012, mas não cumpriu. Depois de a greve ter-se prolongado por quase dois meses, apresentou uma proposta que foi rejeitada pela Associação Nacional de Docentes (Andes). Os pontos polêmicos da proposta são: a) aumento da carga didática para 12 horas semanais por semestre para docentes que tenham projetos de pesquisa aprovados. Torna-se imperioso enfatizar que essa condição produzirá a destruição de grande parte do sistema de pós-graduação de qualidade do País, b) não apresentou um plano de carreira para os servidores (administrativos e técnicos) com um reajuste salarial real para eles, c) o montante de R$ 4 bilhões que será alocado para o aumento dos professores num período de três anos não produz irá ganhos reais em salários já defasados.


Por outro lado, existe um gigantismo que assola as nossas universidades públicas, e muitos professores que recebem a gratificação de dedicação exclusiva (DE) só aparecem nas universidades para ministrarem suas aulas, pois se dedicam a outras atividades que lhes oferecem maior retorno financeiro. Esse fato é maléfico para o ensino e a pesquisa no País e precisa ser corrigido.


Aqueles professores DE que realmente trabalham, ganham muito mal, mas aqueles outros que usam a universidade como um mero bico ganham muito bem. Essa distorção precisa ser corrigida pelas reitorias das universidades de forma firme.


O impasse está criado: urge que o governo seja sensato e aloque mais recursos para a educação pública superior do País para que seus cursos que são ofertados a mais de um milhão de estudantes não permaneçam sucateados e que as universidades federais não se transformem em meros formadores de diplomas como ocorre no ensino superior privado do Brasil.


(*)Gauss M. Cordeiro, Ph.D em estatística, é diretor do CCEN-UFPE


(Departamento de Estatística da UFPE, Tel (81) 21267434)

Blog rafaelrag

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