Rogério Cezar de Cerqueira Leite
TENDÊNCIAS/DEBATES
Ao deixar de suprimir o salário de professor grevista, o governo age
como um pai relapso que não dá limites ao filho, que com "birra" seguirá
testando limites
Freud, entre as inúmeras contribuições que constituiriam a teoria
psicanalítica, propôs este revelador fenômeno que consiste na transição
sofrida pela criança: a passagem do princípio do prazer para o princípio
da realidade.
Durante aquela fase inicial, a criança vê o seu mundo como um aparelho
cuja única função é satisfazer seus desejos. Não há limites. O agente, o
instrumento desse domínio, é a mãe.
O início da transição para atuação sob o princípio da realidade -ou
seja, para a maturidade- ocorre quando limites começam a ser impostos
aos desejos da criança.
Este papel é responsabilidade principalmente do pai, pois a mãe,
acostumada a satisfazer os desejos da criança, é menos capaz de impor
limites a ela.
Portanto, para que a criança amadureça e se torne um cidadão saudável, é
absolutamente necessário que o pai exerça a sua obrigação.
É claro que é desejável que a transição entre os princípios do prazer e
da realidade se faça suavemente, tornando a passagem tolerável. Eis
porque a intermediação pela mãe é desejável.
A proposta do executivo federal para o ensino superior é não apenas
generosa. Ela é também extremamente inteligente, pois concilia os
valores acadêmicos com os interesses individuais.
Oferece salários competitivos, equivalentes, talvez até superiores,
àqueles típicos de universidades europeias. Estimula o aumento da
competência acadêmica ao privilegiar o tempo integral e a titulação.
Além do mais, como também acontece com as universidades do mundo
desenvolvido, salários de professores ainda podem ser complementados
pelo CNPq com relativa facilidade para aqueles que realizam pesquisas
com alguma seriedade.
Olhando, por outro lado, o estímulo representado pelo aumento, que seria
de 25% a 40% (que, descontando uma inflação prevista de 15% para os
próximos três anos, resultaria aumento de 25% para fins de carreira, 15%
para posições intermediárias e 10% para iniciantes), não deixa de ser
elogiável o esforço.
Embora Freud não tivesse se preocupado, em sua análise dos princípios do
prazer e da realidade, com excessos de comportamento da criança, é hoje
consenso que ela procurará, para encontrar seus próprios limites de
atuação, infringir regras, abusar de seus direitos. Para isso, desafia
os progenitores. Se eles não exercem as suas obrigações, o caos advém.
E agora, tomando como paradigma a descoberta do saudoso Stephen J. Gould
de que "a filogenia imita a ontogenia", assumindo que a evolução do
comportamento social imita a da psicológica, podemos concluir que a
comunidade acadêmica ainda opera de acordo com o princípio do prazer.
O amortizador natural para excessos grevistas é a supressão de salários.
Sem este dispositivo, a greve perde sua legitimidade e grevistas se
destituem de autoestima, como crianças de pais ausentes, alienados.
A greve deixa de ser um ato respeitável, por vezes heroico, para se
tornar um acontecimento prosaico. Pretender, todavia, que reitores,
promanados que são do corporativismo interno das universidades, venham a
exercer sua inequívoca responsabilidade seria de grande ingenuidade,
embora não haja dúvidas de que grevistas estão apenas testando seus
limites, como as crianças que fazem "birra".
Como propõe a moderna pedagogia, palmadas não são adequadas. O único
aliado que tem o Executivo é, portanto, a consciência do cidadão, que
percebe o mal que está fazendo para a sociedade e para si mesmo com o
próprio comportamento insólito e injustificável.
Comentário do Professor Dr. Wilson Curi da UAF-CCT-UFCG
Muito bom o discurso deste 'pseudo' professor/pesquisador (que também já deve ter sido uma destas crianças), pois há muito tempo deixou de publicar, assim como lecionar, mas faz questão de remeter-se aos velhos tempos da ditadura militar (década de 70 e anterior) quando ainda produzia alguma coisa (veja como redige sua mini biografia vs o seu curriculum vitae). Entendo como o olhar de um 'externo' ao meio acadêmico (como a grande maioria deles) que não tem conhecimento da preocupação dos REAIS professores universitários. Lamentavelmente a Folha anda pisando na bola, pois não procura avaliar a qualidade da matéria ou expertise dos seus autores, apesar de 'tentar' se excluir do processo mencionando que não tem nada a ver com a matéria publicada (mas entendo que, se foi publicada, houve o consentimento e o desejo de fustigar os grevistas e a sociedade civil). Eu, em e-mail bem anterior, disse que a greve seria enfraquecida com a proposta do governo e os movimentos advindos desta (sindicatos, governo, imprensa, sociedade civil, próprios professores, outras greves paralelas, pensamento nas férias,...). Alia-se a isso a falta de divulgação (com convicção: com pauta de reivindicações, o que alcançou, o que pode ser alcançando, as ações a serem empreendidas, as probabilidades de sucesso, etc.) dos motivos da continuação da greve, que, juntos, levaria ao seu enfraquecimento e abandono (a exemplo do que anda ocorrendo nas discussões paralelas e em certas universidades). Acredito que houve uma grande união (que começa a esfacelar) e ganhos, podendo ter ido bem mais além. Portanto, parabenizo o 'comando de greve', independente do que virá a seguir, respeitando-se os direitos democráticos desta e de outras comunidades. Att. Wilson Danieverton enviou o liknk do Currículo do autor desta matéira da folha: "http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4780227T0" Há uma correlação interessante entre a matéria e o cabeçalho do currículo. Matéria: "http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/61050-a-greve-universitaria-e-o-principio-do-prazer.shtml"
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