Blog do Professor Rafael Rodrigues
(UFCG, campus Cuité-PB)
Se houvesse nocaute no vôlei, a final olímpica de Londres teria durado apenas 21 minutos. Foi o tempo que as americanas gastaram para carimbar nas brasileiras um primeiro set avassalador, com incríveis 15 pontos de diferença. Mas a disputa não era de boxe e, além do mais, as meninas que vestiam amarelo neste sábado conhecem muito bem a receita para ficar de pé antes que a contagem chegue a dez. O contragolpe foi imediato na segunda parcial, e, dali para a frente, a torcida que lotou a Arena em Londres viu um Brasil gigante. Valente. Campeão. Bicampeão olímpico. A vitória na final por 3 a 1 (11/25, 25/17, 25/20, 25/17) mostra que os Estados Unidos não são imbatíveis. Que Hooker não é inalcançável. Que as meninas não têm medo de bicho-papão. E que José Roberto Guimarães é o único dos 200 milhões de brasileiros capaz de encher o peito e dizer que tem três ouros em Olimpíadas. Para um grupo tão acostumado a viradas heroicas, nada mais adequado do que festejar a conquista trocando o tradicional peixinho por cambalhotas em série no chão da quadra, diante de um ginásio lotado e eufórico.
Não é do feitio de Zé Roberto encher o
peito para alardear qualquer feito pessoal. Ele prefere entrar na festa
com as jogadoras na quadra, mergulhar no peixinho, extravasar no grito.
Ajoelhou-se no chão, vibrou muito com cada atleta e, enfim, respirou
aliviado após sua campanha mais dramática. Campeão em 1992 com os homens
e em 2008 com as mulheres, Zé carregou este grupo na ponta dos dedos
até o título em Londres. Ficou por um fio na primeira fase, de
calculadora na mão, torcendo – ironia das ironias – por uma vitória das
americanas na última rodada para sobreviver.
Sobreviveu e, mais que isso, cresceu.
Derrubou a Rússia em jogo espetacular nas quartas, salvando seis match
points no tie-break. Arrasou o Japão na semi, com um 3 a 0 sem
ressalvas. E marcou para este sábado o reencontro com os EUA, quatro
anos depois de batê-las em Pequim. Desta vez, o favoritismo estava do
outro lado da rede, com todos os confrontos recentes pendendo para o
lado americano. O primeiro set arrasador deixou a torcida com o estômago
na boca. Mas a reação provou que, quatro anos depois, as brasileiras
ainda são as melhores jogadoras de vôlei do planeta.
- A gente joga por amor. Sabemos que em
alguns momentos a gente não conseguiu fazer o melhor e as críticas foram
importantes pra gente ver que as pessoas acreditavam na gente. Não
posso deixar de agradecer a esse grupo que foi incrível. Nas horas mais
incríveis, a gente se uniu, se honrou – disse a líbero Fabi ao SporTV.
Fernanda Garay solta o braço: ela foi um dos
destaques do Brasil na final (Foto: Agência AFP)
destaques do Brasil na final (Foto: Agência AFP)
Nocaute no início
Nervosa, assim como a torcida, a seleção
não conseguia se encontrar no início da decisão. Até fez 1/0 com uma
largadinha de Sheilla, mas as americanas entraram com o pé na porta e
jeitão de favoritas. Abriram 6/1 com o luxo de não precisar de nenhum
ponto de Hooker. Zé Roberto parou o jogo, os ânimos se acalmaram um
pouco, mas só um pouco. Se na primeira parada o placar era de 8/3, na
segunda já era de 16/7. Tonto em quadra, o Brasil viu as rivais abrirem
22/8 e praticamente só conseguiam pontuar nos erros do outro lado da
rede, como os dois em sequência que deixaram o placar em 22/10. Nada
aconteceu além disso. Em apenas 21 minutos, fim de papo, com incríveis
25/11.
Quando pareciam mortas, as meninas de Zé
Roberto renasceram do nada e abriram a segunda parcial vencendo por
3/0. Ainda viram as rivais empatando logo em seguida, mas conseguiram se
manter à frente, até com certa folga. Quando Garay soltou o braço e fez
11/6, o técnico Hugh McCutcheon parou para conversar com suas atletas.
Zé estava mais calmo, e o time também, a ponto de segurar a reação e
abrir de novo para 18/12, em bom momento de Jaqueline. As nocauteadas da
vez eram as americanas, que não acharam as bolas e viram o Brasil
igualar o jogo com a autoridade de um 25/17.
Thaisa chega ao bicampeonato, assim como Sheilla, Fabiana, Fabi, Paula e Jaqueline (Foto: Getty Images)
“O campeão voltou”, gritava a
torcida em altos decibéis numa arquibancada completamente tomada pelo
amarelo, com pequenos focos de azul, vermelho e branco. O Brasil estava
em casa, e motivado. Abriu o terceiro set vencendo por 6/2. Com
autoridade, foi conduzindo bem a vantagem
e segurou uma forte reação americana na metade da parcial. Na segunda
parada, vencia por 16/13. Com Akinradewo virando todas, não foi fácil
arrastar o set até o fim. Mas deu. Com Jaque, Garay e Sheilla largando o
braço no ataque, veio o que ninguém imaginava após aquele primeiro set:
25/20 e uma virada na raça.
Na quarta parcial, nada de apagão.
Concentrado, o time brasileiro sabia que do outro lado da rede não
haveria entrega, mas manteve a cabeça no lugar para chegar à primeira
parada técnica com 8/6. Com a capitã Fabiana crescendo, o que já estava
bom ficou ótimo nos 16/10. Zé mandou à quadra Natália, outro símbolo de
reação no grupo. Quase cortada por uma lesão na canela, ficou até o fim,
entrou poucas vezes, mas é tão campeã quanto qualquer outra. Àquela
altura, as americanas até ensaiavam uma reação, mas já não pareciam tão
ameaçadoras. E o Brasil segurou até o fim, com a pancada de Garay que
imortalizou o momento: 25/17, 3 a 1, ginásio histérico.
Festa dupla para as bicampeãs Sheilla,
Fabiana, Fabi, Paula Pequeno, Thaisa e Jaqueline. Festa inédita para
Dani Lins, Fernanda Garay, Fernandinha, Natália, Tandara, Adenízia.
Festa mais do que merecida para Zé Roberto, ou apenas Zé. O único Zé
tricampeão olímpico.
Globoesporte.com
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