Fonte: Bruna Sensêve, em.com.br Minas Gerais de 22.08.2012
Por outro lado, pouco mais de 7% de estrangeiros se estabelecem no país. Índia lidera o ranking, exportando 40% de cientistas
“Brain drain” é uma expressão em inglês utilizada para identificar a saída de cientistas de um país para trabalhar em instituições estrangeiras. Trata-se, cada vez mais, de um fenômeno global. Mas quais países mais “perdem” cérebros, e quais mais atraem pesquisadores? E o que os especialistas levam em conta na hora de buscar trabalho em instituições estrangeiras? Responder questões como essas foi o objetivo de um estudo conduzido no Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos que analisou informações de quase 20 mil cientistas espalhados em 16 países, incluindo o Brasil.
Segundo o levantamento, entre as nações estudadas, a Índia é a que mais exporta mão de obra científica, com quase 40% de seus pesquisadores fora do país. No lado oposto do ranking, o Japão consegue reter 96% de seu pessoal. A Suíça, por sua vez, tem uma balança migratória equilibrada. O país europeu compensa o fato de 33,1% de seus cientistas estarem fora do país com um índice de 56,7% de estrangeiros atuando em suas instituições. No Brasil, essa dinâmica também pode ser considerada equilibrada, mesmo que pouco expressiva: 8,3% de seus especialistas estão fora do país, enquanto 7,1% dos cientistas que trabalham aqui vieram de fora.
Não surpreendentemente, os Estados Unidos são o principal destino de emigrantes de 13 dos outros 15 países estudados. Nos dois restantes (Bélgica e Dinamarca), os EUA estão em segundo lugar. Mesmo assim, o país não aparece em primeiro lugar no ranking das nações que mais utilizam, proporcionalmente, contribuições de fora. Lá, 38,4% dos cientistas são estrangeiros, mas três países superam esse índice: Suíça (56,7%), Canadá (46,9%) e Austrália (44,5%).
O professor de química aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Peter Bakuzis contrariou o fluxo mundial e saiu, em 1970, dos EUA rumo à Universidade de Brasília. Na época, o norte-americano já havia feito pós-doutorado e encontrava dificuldades em ser aceito em alguma instituição de seu país. Assim, a estada de um ano foi estendida indefinidamente. Foi na capital que ele conheceu a mulher e teve três filhos brasileiros.
Para ele, a situação vivida atualmente é muito diferente da de quatro décadas atrás. Segundo o químico, havia mais liberdade para pesquisas, já que as verbas eram apresentadas à universidade como um todo. “Foi uma das coisas que me atraíram. Hoje é mais difícil, mas não penso em voltar.” A qualidade de vida do brasileiro é outro fator que vigora até hoje para essa decisão. “Aqui, tenho vida fora do laboratório, menos tensão. Ao mesmo tempo, isso é ruim, porque vemos menos pessoas acompanhando a literatura e os avanços do meio.”
Ele considera a mobilidade brasileira muito pequena se comparada à norte-americana, até mesmo dentro do próprio país. “Aqui temos muitas contratações de pessoas que se formaram na mesma instituição. Isso é inimaginável nos EUA. A falta de mobilidade entre as instituições faz com que tudo seja feito da mesma forma sempre, não há renovação de ideias.”
Perspectivas
Como mostra a história de Bakuzis, os motivos que levam cientistas a sair de seus países são diversos, mas o estudo consegue apontar como principal deles o desejo de melhorar as perspectivas na carreira ao trabalhar em instituições de pesquisa proeminentes. Os laços culturais e linguísticos também são importantes: muitos ingleses vão para a Austrália (21,1%) e para o Canadá (13,5%), por exemplo. E Argentinos, colombianos e peruanos representam cerca de 40% dos pesquisadores estrangeiros vivendo no Brasil.
O que faria um pesquisador voltar à terra natal foi outra pergunta feita no levantamento. Nesse caso, a resposta mais comum foi uma boa oportunidade de emprego. Curiosamente esse motivo aparece apenas em terceiro lugar na lista de motivos para retornar dada por brasileiros. A razão mais citada para justificar um possível retorno ao país é de cunho pessoal ou familiar (mencionada por 75,4% dos ouvidos), seguida da vontade de ter melhor qualidade de vida (citada por 46% dos entrevistados).
Uma nova e boa fase
A “fuga” de cérebros sempre foi uma preocupação no Brasil, que lamentava a perda de profissionais qualificados para instituições estrangeiras. No entanto, para Ary Mergulhão, oficial de Ciência e Tecnologia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o problema tem assustado menos. “No passado, a intenção era que o pesquisador se formasse e voltasse para o Brasil. Só que isso não acontecia, porque as condições de trabalho em países desenvolvidos eram muito melhores. Hoje, somos um país em desenvolvimento, com uma economia aquecida em um mundo que começa a apresentar uma crise geral.”
A história da bióloga brasileira Angela Mehta, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ilustra bem a situação. Ela voltou ao país em novembro de 2011, após uma temporada de um ano na Espanha, na Universidade de Sevilha, onde fez um pós-doutorado. Mehta conta que pôde observar dificuldades financeiras no laboratório onde estudou: durante o período que passou lá, cerca de um terço dos pesquisadores foram dispensados por falta de recursos.
“Alguns estavam indo para os Estados Unidos e outros consideravam o Brasil, pela boa imagem que o país conserva diante da crise mundial”, detalha. Ela nem levou em conta ficar no país ibérico. “Fui com a intenção de voltar, de manter meu emprego na Embrapa. Vi também que lá as coisas são bem mais difíceis.”
Segundo o diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Guilherme Sales Melo, no passado houve um incentivo para a retenção dos cientistas no Brasil para a formação de massa crítica nas universidades. Gerou-se, porém, a falta de interação com as universidades estrangeiras.
Para melhorar essa situação, o governo federal aposta no Programa Ciência sem Fronteira, que tem o objetivo de distribuir 100 mil bolsas para brasileiros que desejam estudar fora durante um período e para estrangeiros que queiram ter uma experiência no país. O retorno dos brasileiros fica condicionado contratualmente para que os beneficiados passem no Brasil um período igual ao que permaneceram no exterior com o auxílio financeiro.
“Brain drain” é uma expressão em inglês utilizada para identificar a saída de cientistas de um país para trabalhar em instituições estrangeiras. Trata-se, cada vez mais, de um fenômeno global. Mas quais países mais “perdem” cérebros, e quais mais atraem pesquisadores? E o que os especialistas levam em conta na hora de buscar trabalho em instituições estrangeiras? Responder questões como essas foi o objetivo de um estudo conduzido no Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos que analisou informações de quase 20 mil cientistas espalhados em 16 países, incluindo o Brasil.
Segundo o levantamento, entre as nações estudadas, a Índia é a que mais exporta mão de obra científica, com quase 40% de seus pesquisadores fora do país. No lado oposto do ranking, o Japão consegue reter 96% de seu pessoal. A Suíça, por sua vez, tem uma balança migratória equilibrada. O país europeu compensa o fato de 33,1% de seus cientistas estarem fora do país com um índice de 56,7% de estrangeiros atuando em suas instituições. No Brasil, essa dinâmica também pode ser considerada equilibrada, mesmo que pouco expressiva: 8,3% de seus especialistas estão fora do país, enquanto 7,1% dos cientistas que trabalham aqui vieram de fora.
Não surpreendentemente, os Estados Unidos são o principal destino de emigrantes de 13 dos outros 15 países estudados. Nos dois restantes (Bélgica e Dinamarca), os EUA estão em segundo lugar. Mesmo assim, o país não aparece em primeiro lugar no ranking das nações que mais utilizam, proporcionalmente, contribuições de fora. Lá, 38,4% dos cientistas são estrangeiros, mas três países superam esse índice: Suíça (56,7%), Canadá (46,9%) e Austrália (44,5%).
O professor de química aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Peter Bakuzis contrariou o fluxo mundial e saiu, em 1970, dos EUA rumo à Universidade de Brasília. Na época, o norte-americano já havia feito pós-doutorado e encontrava dificuldades em ser aceito em alguma instituição de seu país. Assim, a estada de um ano foi estendida indefinidamente. Foi na capital que ele conheceu a mulher e teve três filhos brasileiros.
Para ele, a situação vivida atualmente é muito diferente da de quatro décadas atrás. Segundo o químico, havia mais liberdade para pesquisas, já que as verbas eram apresentadas à universidade como um todo. “Foi uma das coisas que me atraíram. Hoje é mais difícil, mas não penso em voltar.” A qualidade de vida do brasileiro é outro fator que vigora até hoje para essa decisão. “Aqui, tenho vida fora do laboratório, menos tensão. Ao mesmo tempo, isso é ruim, porque vemos menos pessoas acompanhando a literatura e os avanços do meio.”
Ele considera a mobilidade brasileira muito pequena se comparada à norte-americana, até mesmo dentro do próprio país. “Aqui temos muitas contratações de pessoas que se formaram na mesma instituição. Isso é inimaginável nos EUA. A falta de mobilidade entre as instituições faz com que tudo seja feito da mesma forma sempre, não há renovação de ideias.”
Perspectivas
Como mostra a história de Bakuzis, os motivos que levam cientistas a sair de seus países são diversos, mas o estudo consegue apontar como principal deles o desejo de melhorar as perspectivas na carreira ao trabalhar em instituições de pesquisa proeminentes. Os laços culturais e linguísticos também são importantes: muitos ingleses vão para a Austrália (21,1%) e para o Canadá (13,5%), por exemplo. E Argentinos, colombianos e peruanos representam cerca de 40% dos pesquisadores estrangeiros vivendo no Brasil.
O que faria um pesquisador voltar à terra natal foi outra pergunta feita no levantamento. Nesse caso, a resposta mais comum foi uma boa oportunidade de emprego. Curiosamente esse motivo aparece apenas em terceiro lugar na lista de motivos para retornar dada por brasileiros. A razão mais citada para justificar um possível retorno ao país é de cunho pessoal ou familiar (mencionada por 75,4% dos ouvidos), seguida da vontade de ter melhor qualidade de vida (citada por 46% dos entrevistados).
Uma nova e boa fase
A “fuga” de cérebros sempre foi uma preocupação no Brasil, que lamentava a perda de profissionais qualificados para instituições estrangeiras. No entanto, para Ary Mergulhão, oficial de Ciência e Tecnologia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o problema tem assustado menos. “No passado, a intenção era que o pesquisador se formasse e voltasse para o Brasil. Só que isso não acontecia, porque as condições de trabalho em países desenvolvidos eram muito melhores. Hoje, somos um país em desenvolvimento, com uma economia aquecida em um mundo que começa a apresentar uma crise geral.”
A história da bióloga brasileira Angela Mehta, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ilustra bem a situação. Ela voltou ao país em novembro de 2011, após uma temporada de um ano na Espanha, na Universidade de Sevilha, onde fez um pós-doutorado. Mehta conta que pôde observar dificuldades financeiras no laboratório onde estudou: durante o período que passou lá, cerca de um terço dos pesquisadores foram dispensados por falta de recursos.
“Alguns estavam indo para os Estados Unidos e outros consideravam o Brasil, pela boa imagem que o país conserva diante da crise mundial”, detalha. Ela nem levou em conta ficar no país ibérico. “Fui com a intenção de voltar, de manter meu emprego na Embrapa. Vi também que lá as coisas são bem mais difíceis.”
Segundo o diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Guilherme Sales Melo, no passado houve um incentivo para a retenção dos cientistas no Brasil para a formação de massa crítica nas universidades. Gerou-se, porém, a falta de interação com as universidades estrangeiras.
Para melhorar essa situação, o governo federal aposta no Programa Ciência sem Fronteira, que tem o objetivo de distribuir 100 mil bolsas para brasileiros que desejam estudar fora durante um período e para estrangeiros que queiram ter uma experiência no país. O retorno dos brasileiros fica condicionado contratualmente para que os beneficiados passem no Brasil um período igual ao que permaneceram no exterior com o auxílio financeiro.
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