A vida em função da construção do conhecimento. Esse é o lema do pedreiro sergipano Evando dos Santos, que dedicou e continua dedicando seus dias à manutenção de um sonho, a maior biblioteca comunitária do país, localizada na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro.
É na edificação de três andares que funciona a Biblioteca Comunitária
Tobias Barreto de Meneses. Criada em 17 d e julho de 1998, recebeu o
nome do autor preferido do pedreiro, que é seu conterrâneo.
Nessa biblioteca, as regras para o empréstimo são simples: o leitor
preenche um cadastro e pode ficar com o volume pelo tempo que achar
necessário. “Se a pessoa não devolve o livro é porque precisa”, diz
Evando dos Santos.
Cheio de orgulho, Evando diz que esse era seu sonho: uma biblioteca
sem “burrocracia”, funcionando de domingo à domingo. Segundo ele, com
livros que não se encontram na Biblioteca Nacional. Exemplo disso é uma
gramática da língua bunda que era a falada pelos escravos.
Oscar Niemeyer
Com a casa abarrotada de livros empilhados por todos os cômodos,
Evando percebeu que precisava de um espaço definitivo para abrigar os
livros. E a ajuda veio de maneira inesperada. Com a ousadia que o
caracteriza, Evando ligou para um programa de TV que entrevistava ao
vivo o arquiteto Oscar Niemeyer. “A minha ligação entrou no ar e ele
prometeu me ajudar. Foi uma pessoa divina. Fui a casa dele que me ouviu
por uma hora. Um mês depois ele me entr egou o projeto da biblioteca”,
lembrou.
Eram idos de 2002. O ministério da Cultura autorizou a captação de
recursos e a prefeitura concedeu à biblioteca o título de utilidade
pública. Mas Evando amargou mais quatro anos tentando conseguir que o
projeto saísse do papel. Finalmente em 2006, o BNDES investiu no projeto
e as obras começaram. Em 12 de dezembro de 2008, o novo prédio da
biblioteca foi inaugurado.
Calçada da Fama
Com a cabeça cheia de ideias, Evando não limita seus projetos às
atividades na biblioteca. Promove “arrastões literários” em vários
bairros do Rio, distribuindo livros da zona norte à zona sul. Ajudou a
fundar bibliotecas comunitárias em várias cidades do País e até no
exterior. Evando doou 15 mil livros para o processo de reconstrução de
Angola, devastada pela guerra civil.
Evando pintou na principal praça da Vila da Penha, a praça do largo
do Bicão, uma calçada da fama, estrelas com os nomes de personalidades
ligadas à história do bairro e/ou da biblioteca especificamente. O
projeto foi incorpor ado na última reforma da praça, a pintura deu lugar
à placas de metal cravadas no concreto. Para o bairro que ama, escreveu
um livro, contando a história do lugar através dos moradores mais
antigos.
Reconhecimento
A Academia Brasileira de Letras homenageou o pedreiro em 2007. Evando
foi condecorado com a medalha comemorativa dos 110 anos da entidade. A
Câmara de Vereadores e a Assembleia de Legislativa do Rio de Janeiro
concederam a medalha Pedro Ernesto e Tiradentes respectivamente.
A cineasta Anna Azevedo produziu e dirigiu o documentário Homem-Livro
contando a história de Evando durante a mudança da biblioteca da casa
de Evando para o prédio projetado por Niemeyer. O curta ganhou o prêmio
de melhor filme do Júri Popular e de melhor direção do júri oficial do
Festival de Brasília em 2006.
“O que me impressionou naquela casa foi que os livros eram os grandes
reis daquele espaço. Uma casa labiríntica E um personagem que tem um a
compulsão pelos livros e em dividir o saber, o conhecimento”, explicou a
cineasta.
Fonte: UOL
BLOG RAFAELRAG
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