Tenho falado bastante sobre a desvalorização salarial dos professores nas universidades federais. inclusive apresentei um estudo mostrando que hoje um professor com doutorado recebe inicialmente menos do que no ano de 1998, durante o Governo FHC.
De lá para cá, as carreiras foram progressivamente se recolocando no Governo Federal, à exceção dos professores universitários.
Para termos uma ideia, um pesquisador do IPEA com doutorado entrava
ganhando R$ 300 a menos que um Professor Federal, e hoje entra ganhando
R$ 5 mil a mais.
Será que essa desvalorização do conhecimento é geral na carreira de professor?
Em outras palavras, será que na inicitiva privada se pagaria menos que isso?
Para começar, é difícil falar em iniciativa privada nestes casos
porque praticamente não há pós-graduações e pesquisa em instituições
privadas. Apenas alguns poucos casos.
Podemos citar 4 deles: a PUC-Rio, a FGV, o Insper (antigo Ibmec-SP) e a Mackenzie-SP.
Falar da PUC-Rio é até covardia, porque tem hoje a melhor nota média
das pós-graduações no Brasil. A FGV ainda consegue pagar melhor. O
Insper também poderia ser um caso à parte, já que tem uma lógica muito
própria de mercado. Mas nos três casos o menor salário pago a um Doutor
em 40 horas semanais é de R$ 15 mil, incluindo aí alguns ganhos com
pós-graduações pagas.
Vamos falar especificamente da Mackenzie, que é uma instituição que
possui graduação e pós-graduação, tem como meta melhorar sua imagem com
publicações, em situação bastante semelhante a uma Universidade Federal
de razoável reputação. A Mackenzie não tem fama de ser pagadora de
salários altos. Tem uma pós-graduação com nota 5 na Capes (igual a UFPE)
na área de Administração.
Está aberta uma seleção para Professor na minha área (Finanças), exigindo-se o Doutorado, para ser Professor Adjunto.
Salário inicial? R$ 12.197,45
Só para efeitos de comparação, nas Ifes é de R$ 7.333,00.
Você pode pensar…nas federais se trabalha muito menos, já que o
professor apenas faz pesquisa e pega duas ou três turmas turmas, além de
participar de algumas outras atividades.
Vejamos o que diz o Item 1 da Seleção da Mackenzie, sobre as condições de trabalho.
O candidato aprovado será contratado en regime de 40 horas semanais, na categoria de Professor Adjunto I, para dedicar-se a tarefas de docência na Graduação (4 horas) e na Pós-Graduação Strito Sensu (4 horas), às atividades de orientação, pesquisa vinculada ao núcleo de pesquisa da respectiva linha, extensão, trabalhos administrativos eventuais e à participação de reuniões colegiadas.
Isso mesmo, já especificam que ele vai dar uma turma de
graduação, uma de pós, e fazer pesquisa. Algo muito parecido com os
contratos das Ifes.
E sem Dedicação Exclusiva. nada impede que o professor faça uma pesquisa externa ou mesmo uma consultoria.
Pode-se pensar que nas federais outros benefícios seriam
oferecidos, como a aposentadoria integral, mas isso já acabou. Os que
entrarem agora entrarão em um serviço de previdência complementar.
Mas aí o Item 3 fala disso:
Os professores selecionados serão contratados com base na CLT, como Professor Adjunto I, com o salário de R$ 12.197,45. Além do salário e benefícios usuais o funcionário pode optar por uma previdência privada. Para suporte à pesquisa a Instituição conta com o apoio financeiro do Fundo Mackenzie de Pesquisa.
A Instituição está também pagando uma previdência complementar e o
principal: ajuda com apoio financeiro a pesquisa. Isso proporciona ao
pesquisador se incluir em grupos internacionais, ao dispor de recursos
para passagens e outras despesas. Estes recursos são ridicularmente
distribuídos nas Ifes. No caso da UFPE, a última vez que pedi dinheiro
para apresentar um trabalho no exterior me deram R$ 300,00 que me neguei
a receber.
Na PUC-Rio, onde estudei, paga-se ao Professor até R$ 10 mil por um
trabalho publicado em uma revista no Brasil. O valor é maior se for no
exterior. Nos últimos anos publiquei aproximadamente 30 artigos, muitos
apresentados no exterior, e o máximo que a UFPE me ofereceu foram os R$
300,00. Como estudante de Doutorado da PUC-Rio apresentei trabalho na
Rússia, Suécia, EUA e Chile, financiados pela Universidade carioca, que
tinha em mente que isso era importante para sua imagem.
Por que não tento ir para lá ou para a Mackenzie?
Já me perguntei isso várias vezes e a única resposta que encontrei é
porque gosto da UFPE e do Recife, onde estão minha família e amigos.
E se você pensa que esta seleção da Mackenzie será concorridíssima,
está enganado. Não tem muita gente disponível nessa área. No Brasil não
passa de 100 pessoas com Doutorado que publicam em finanças. Muitos
foram para os bancos (os meus amigos de Doutorado).
Isso tudo foi apenas para mostrar como a defasagem salarial do professor universitário é real.
E olha que lá na Mackenzie (foto acima) não vou precisar cuidar de
burocracia para progressão, e muito menos ouvir meus alunos reclamarem
que nem papel higiênico há no banheiro.
Acerto de conta
Blog rafaelrag
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