FABIO ANDRIGHETTO
da Livraria da Folha
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Vista como única ou dividida em quatro cardeais --justiça, temperança,
coragem e prudência--, na antiguidade, os estoicos argumentavam que a
virtude era o bem supremo. A ideia contrariava outras escolas da mesma
época, estas defendiam que a felicidade era o sumo bem. O estoicismo
condenava comportamentos opostos, ou os vícios, como a covardia. Aqui,
Luiz Felipe Pondé concorda com a ética estoica, e é difícil vê-lo
concordar com alguma coisa.
Marisa Cauduro/Folhapress |
Luiz Felipe Pondé se prepara para lançar "Por Que Virei à Direita", com Denis Rosenfield e João Pereira Coutinho, ainda neste mês |
'Politicamente correto é censura fascista'
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Quem acompanha os textos de Pondé percebe o seu descontentamento com os covardes. É um assunto recorrente. Pode ser visto em "Contra um Mundo Melhor", "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia" e no posfácio de "Diário da Corte".
No "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia", o autor e colunista da Folha inicia o processo de escalada do politicamente correto com a história do general Patton e o soldado covarde, encontro imortalizado no filme "Patton: Rebelde ou Herói?".
Em entrevista à Livraria da Folha, Pondé, que se prepara para lançar "Por Que Virei à Direita",
escrito em parceria com Denis Rosenfield e João Pereira Coutinho, falou
sobre as vicissitudes humanas, a indústria dos transtornos psicológicos
e o niilismo chique.
*
Livraria da Folha - Como um estoico, você costuma criticar a covardia. Seria ela a pior das vicissitudes?
Divulgação |
Intelectuais explicam a sua adesão ao pensamento conservador |
Luiz Felipe Pondé - Acho que sim, sempre se soube disso.
No século 21, os estoicos seriam considerados politicamente incorretos?
Com certeza, quase toda a filosofia seria. Os estoicos seriam também,
seriam vistos como depressivos, resignados e "antifelicidade".
Um governo nos moldes de "A República", de Platão, seria mais eficiente que a democracia de hoje?
Não, não sou contra a democracia, acho-a o menos pior dos sistemas, mas
acho que as críticas à vocação sofista da democracia, que na Grécia já
se sabia, é um fato. O que acho risível é o culto da ideia que tudo pode
ser democrático, até o Corinthians, isso é um modo, como na educação,
de se esquivar da autoridade.
Você inicia a escalada do politicamente correto com o exemplo do
general Patton e do soldado com problemas nervosos. Esse também é o
começo da indústria dos transtornos psicológicos?
Interessante questão. Recomendo a leitura do " Therapy Culture", de
Frank Furedi. Acho que a indústria da terapia é mais tardia. Como mostra
Furedi em seus estudos empíricos, é a partir da década de 1990 que,
pelo menos na mídia impressa em língua inglesa, termos típicos dessa
indústria da terapia, como estresse, autoestima, etc. começam a aparecer
em alta frequência estatística, revelando o grau de "terapeutismo" de
nossa cultura, mas isso nada tem de contra as terapias em si.
Divulgação |
Aborda temas como capitalismo, religião, preconceito e covardia |
A psicologia está se mesclando com a autoajuda? Como você analisa essa relação?
Sim, mercantilizarão de produtos baratos, assim como comer miojo sozinho em casa no lugar de comida.
Em outra conversa, você criticou o que nomeou de "budismo de boutique".
Esse comportamento religioso seria um reflexo de uma crise no
cristianismo? Se sim, como explicar o crescimento das religiões
pentecostais no Brasil?
Não crise do cristianismo em si, mas dos modelos mais tradicionais. O
neopentecostalismo brasileiro é um híbrido de umbanda com cristianismo.
Também existe um niilismo de boutique?
Sim, niilismo chique é o que não falta... sempre foi chique ser melancólico.
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