Dez pacientes do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, receberam
alta do hospital entre a noite de sexta-feira (1) e a manhã deste sábado
(2). Agora são 109 as pessoas internadas em hospitais do Rio Grande do
Sul, segundo a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. A tragédia
provocou a morte de 236 pessoas.
São 53 pessoas internadas em Santa Maria, sendo 29 em UTI e oito
respirando por ventilação mecânica. Em Porto Alegre, 51 pacientes estão
hospitalizados, sendo 44 em UTI e 33 precisando de respiração assistida.
Ainda são mais três pacientes em Canoas, dois com ventilação mecânica,
um em Caxias do Sul, também precisando de auxílio na respiração, e uma
pessoa sendo atendida em Ijuí.
Para ajudar no tratamento dos feridos, lotes de um medicamento
indicado para o tratamento de intoxicação por gás chegaram ao Brasil na
manhã deste sábado (2). A expectativa do Ministério da Saúde é a de que
as doses, chamadas de “antídotos”, anulem os possíveis efeitos tóxicos
do cianeto no organismo.
Os 140 kits do medicamento hidroxicobalamina (vitamina B12 injetável)
serão transportados em uma caixa por um avião da Força Aérea Brasileira
(FAB) até Porto Alegre e Santa Maria, onde serão distribuídos aos
hospitais em que há sobreviventes internados.
Chamado de “antídoto de gás tóxico”, a hidroxicobalamina ainda não
está aprovada no Brasil, que possui apenas uma versão similar, porém
menos concentrada. Os medicamentos foram doados pelos Estados Unidos.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 236 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 236 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono
da boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o
vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um
funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela
segurança e outros serviços.
Investigação
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.
O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também
na terça que a Polícia Civil tem “diversos indicativos” de que a boate
estava irregular e não podia estar funcionando. “Se a boate estivesse
regular, não teria havido quase 240 mortes”, disse em entrevista. “Mas
isso ainda é preliminar e precisa ser corroborado pelos depoimentos das
testemunhas e os laudos periciais”, completou.
Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um
sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não
deveria ser usado durante show em local fechado. “O sinalizador para
ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$
70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o
equipamento para ambiente aberto porque era mais barato”, disse o
delegado.
O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu
em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador
aceso durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira
Dutra. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do
artefato tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia
manipulado esse tipo de artefato por diversas vezes em outras
apresentações.
A boate Kiss desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e
municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio.
Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam
exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma
segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha
apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi
cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento
utilizado como isolamento acústico.
A Brigada Militar informou nesta quarta que a boate não estava em
desacordo com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número
de saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao
possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não
davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através
de uma só porta. “Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu
colocar”, disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo
de Bombeiros de Porto Alegre.
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate,
disse que a casa noturna estava em ”plenas condições” de receber a
festa. Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse
que a banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores
naquela noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público
vistoriou o local “diversas vezes”.
A Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo
incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de validade de
inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de Bombeiros. A
prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará
de localização, que é válido com a vistoria do ano corrente. O documento
informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de 2012.
O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros,
major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna tinha todas as
exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. “Quem falhou, que
assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso
alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra”, afirmou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na
terça para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por
parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de
Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate
Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e
sanitária vencidas.
G1
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