Duas
vereadoras que receberam apenas um voto nas últimas eleições municipais
vão concorrer à reeleição em 2012. Sirlei Brisida, de 44 anos, e
Constança de Melo de Carvalho, de 79 anos, ficaram como suplentes no
pleito de 2008 e assumiram o mandato neste ano em Medianeira (PR) e
Coivaras (PI), respectivamente.
Sirlei, que é manicure, entrou para a Câmara Municipal de Medianeira,
no Paraná, no último mês de junho. Ela garante não ter votado em si
mesma e diz não saber quem é o seu único eleitor. “Não tenho ideia de
quem votou em mim. Todo mundo brinca: ‘fui eu, fui eu’. Mas, neste ano,
até eu vou votar em mim”, afirma a candidata, que pediu para não receber
votos na época da campanha porque estava tratando um câncer.
Ela conta que ainda está aprendendo a trabalhar como vereadora e que o
mandato “está sendo uma escola”. A candidata não parou de atender as
clientes que procuram o serviço de manicure. “Sei que isso é temporário,
trabalho com os pés no chão”, afirma. No entanto, diz que na atual
campanha busca os votos necessários para a reeleição. “Diferente de
2008, estou com material de campanha, buscando eleitores. Espero que
tenha mais votos do que daquela vez”.
Constança, que já havia sido vereadora por dois mandatos (1992-1996 e
1999-2000, também como suplente) em Coivaras, no Piauí, perdeu um filho
durante a campanha passada e pediu para ninguém votar nela. A
professora aposentada acabou votando em si mesma por orientação do
partido. “Me disseram que eu tinha que ter um voto na época para não
quebrar a coligação”.
“Na época da eleição, perdi meu filho de câncer e pedi para não
votarem em mim. Não estava bem, não fiz comício nem campanha. Eu não
esperava nunca, minha filha, ser chamada a assumir. Foi Deus que me
levou para lá”, afirma.
Ela assumiu depois que dois antecessores – o vereador eleito e o
primeiro suplente – foram cassados por infidelidade partidária,
permitindo que ela tivesse seu terceiro mandato. Em busca de mais quatro
anos no cargo, Constança faz planos para um possível novo mandato.
“Acho que o tripé besta da política é pensar em saúde, educação e
segurança. Tem que olhar para todos os lados e aparar as arestas. Meu
primeiro projeto em 2013 será uma casa para a diversão dos idosos. Tenho
muita garra ainda, minha filha”.
3.640 candidatos com 1 voto
Levantamento realizado pelo G1 com base nos dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) aponta que 3.640 candidatos receberam apenas um
voto nas eleições municipais de 2008, todos eles postulantes ao cargo
de vereador. Nenhum foi eleito diretamente – o vereador eleito com menor
número de votos recebeu 27, em Borá (SP).
Dos 3.640 candidatos que receberam apenas um voto em 2008, 1.341
ficaram como suplentes, podendo ser chamados a qualquer momento durante
os quatro anos de legislatura. Diversos motivos podem levar à
convocação, como cassação, mudança de partido (que provoca a perda do
mandato eletivo) ou até mesmo a decisão do próprio titular de abdicar da
vaga, seja por motivos pessoais ou para concorrer a outro cargo.
Sistema proporcional
O processo eleitoral brasileiro é composto por dois esquemas
distintos: o sistema majoritário (para eleição de presidente,
governador, prefeito e senador) e o sistema proporcional (para escolher
deputados federais, estaduais, distritais e vereadores).
No sistema proporcional, a quantidade de votos nem sempre elege um
candidato. Ao votar para vereador, por exemplo, o eleitor escolhe o
candidato e, também, o partido ou coligação ao qual ele é filiado. No
final do pleito, cada partido obtém uma quantidade de vagas proporcional
à soma das votações de todos os seus candidatos. As vagas são
preenchidas, por ordem, pelos candidatos mais votados do partido. Se o
candidato tiver pelo menos um voto, está apto a assumir.
Para o ex-ministro do TSE Torquato Jardim, “não há discrepância e
nada de errado” no fato de candidatos de um só voto assumirem em
detrimento de outros mais votados.
“Isso faz parte do processo eleitoral. Por isso o sistema se chama
‘lista aberta’, onde o voto do eleitor tem dois significados, permitindo
que ele opte tanto em um candidato quanto na legenda”, afirma.
“É tradição brasileira desde 1932 o voto proporcional nas eleições
para vereador, buscando romper o domínio de um ou outro partido e maior
representação de todos”, diz.
O juiz eleitoral de Alagoas Domingos de Araújo Lima Neto, no entanto,
acredita que o sistema proporcional “gera casos injustos”. “Assumem
pessoas que você nunca ouviu falar, totalmente desconhecidas, porque a
cadeira é do partido. A votação proporcional tem um cuidado com a
legenda partidária, mas peca na questão da representatividade”.
‘Não sabia o que um vereador fazia’
O G1 encontrou outra candidata a vereadora que recebeu um só voto em
2008 e assumiu o cargo durante o mandato. Há também um vereador que
assumiu tendo recebido dois votos. Nenhum deles, no entanto, concorre à
reeleição.
Jorge Azevedo Filho, de 29 anos, suplente da irmã em Serra Caiada
(RN), assumiu o cargo em maio deste ano depois que a vereadora perdeu o
mandato por infidelidade partidária. Ele havia recebido apenas dois
votos. “Antes de entrar na Câmara Municipal, eu não sabia o que um
vereador fazia. Acho que todo cidadão tinha que ser vereador por alguns
dias, pelo menos, para saber a importância do cargo”, diz.
“Eu tinha muita vontade de continuar, mas, com a minha irmã
concorrendo à prefeitura, gera um certo ciúme. Decidimos investir na
candidatura dela”, afirma o vereador, que, após o curto mandato, vai
retomar o trabalho em uma empresa familiar.
Em Ceará-Mirim (RN), município de 66 mil habitantes a 38 km de Natal,
a farmacêutica Cláudia Roberta Câmara ficou como suplente em 2008, após
receber apenas o voto do marido. “Minha família tem atuação política,
mas eu nunca me envolvi. Quando vi meu nome, com um voto, no resultado
final da votação, me surpreendi”, relembra.
Um irmão de Cláudia é candidato a prefeito do município e a família
optou por “concentrar esforços”. “Já fiz vários requerimentos e tomo
mais minha atenção para pavimentação e iluminação pública. Estou
aprendendo bastante, mas vamos focalizar a candidatura do meu irmão, que
já é uma briga grande”.
G1
blog rafaelrag
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