Encha os bolsos de confete e serpentina e venha conhecer a história do carnaval carioca
Colocar uma fantasia, juntar-se a um bloco na rua e cair na folia: quem está passando o carnaval no Rio de Janeiro provavelmente experimentou essa festa. Mas muitos foliões e foliãs de hoje não sabem que esta maneira de celebrar o carnaval tem origens lá no início do século 19.
Naquela época, a festa tomava as ruas, com músicas de todos os ritmos tocando sem parar e pessoas jogando água umas nas outras. Esse jeito de brincar o carnaval era chamado “entrudo” e, por mais que parecesse divertido, tinha gente que não gostava.
O “entrudo” era para todos. Em alguns lugares da cidade, reuniam-se os pobres, cuja maioria era de negros; em outros pontos, ficavam os brancos de classes mais altas. Porém, depois da chegada da Corte portuguesa no Brasil, em 1808, os hábitos começaram a mudar. Os tais ricos resolveram proibir o “entrudo” e copiar o elegante carnaval dos desfiles, típico da cidade francesa de Nice.
Por volta de 1840, formaram-se as chamadas sociedades carnavalescas. Eram grupos organizados que, em geral, usavam fantasias reproduzindo as roupas da Corte e desfilavam em carros maravilhosos pelas ruas do centro da cidade. Nessa época, surgiram também os bailes de máscaras. Essa nova maneira de brincar o carnaval era considerada muito mais bonita que o “entrudo”. Só que os pobres não podiam entrar na festa…
Carnaval às escondidas
A partir de 1907, a recém-construída Avenida Rio Branco virou passarela dos pomposos carros alegóricos. Nas ruas transversais a essa avenida principal, os que eram excluídos da festa enfrentavam a polícia e faziam seu próprio carnaval. Eles vinham a pé, formando os chamados cordões, que deram origem aos blocos.
Além dos cordões, um grupo vindo da
Bahia depois da abolição da escravatura, em 1888, denominado negros
baianos, também teve papel importante na luta pela manutenção do
carnaval popular. Eles formavam os ranchos, que a princípio eram uma
espécie de procissão religiosa – só que, como tudo acaba em samba,
também eram parte do carnaval.
As classes média e alta continuavam
sem querer ouvir falar dessa folia de pobres e insistiam com a polícia
para impedi-lo. Mas existia um lugar na cidade em que os pobres podiam
fazer seu carnaval sossegados: a Praça Onze. Os mais ricos não iam lá
porque achavam que os batuques eram de mau gosto e que todos os que lá
estavam eram ladrões e encrenqueiros.
Mal sabiam eles que os
batuques virariam o nosso famoso samba e que, dentre os que eram
considerados foras-da-lei, estavam pessoas que mais tarde seriam
reconhecidas como grandes compositores!
Ricos e pobres na avenida
Só
depois de 1920 o tal carnaval dos pobres ganhou força. Alguns
intelectuais da época passaram a frequentar a Praça Onze, onde
conheceram homens que eram vistos como malandros só porque queriam
ganhar a vida compondo e cantando samba.
Na
década de 1930, o carnaval popular foi reconhecido e começou a se
organizar melhor. O desfile das escolas de samba foi oficializado e, em
pouco tempo, o Rio de Janeiro passou a atrair turistas de todos os
cantos do mundo para esta grande festa!
(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 65.)
Rachel Soihet,
Departamento de História, Universidade Federal Fluminense)
Blog rafaelrag com Ciência Hoje
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