domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cuiteense, o cabeleireiro Jassa fala sobre o tempo que viveu na Paraíba



O sol da Paraíba talhou a identidade profissional de José Jacenildo dos Santos. Na roça, em Serra de Cuité, ele exercitou as mãos pela primeira vez para ajudar o pai a sustentar os 19 irmãos. Sessenta anos depois, em um luxuoso casarão de 450 metros quadrados em São Paulo, elas não guardam qualquer resquício de terra por debaixo das unhas. Mas preservam as habilidades que o transformaram em Jassa, o cabeleireiro mais famoso do Brasil.

"Aos sete anos virei engraxate. Aos 12 papai pediu para eu mudar de profissão porque eu trabalhava no sol e, como barbeiro, eu trabalharia na sombra, em condições melhores", conta, enquanto contempla a praça particular que acabou de construir em seu novo salão, um empreendimento cujo valor do investimento o deixa crispado. "Não digo quanto eu gastei, mas recebi proposta de R$ 8 milhões para vender a metade e não quis", revela, com uma pontinha de orgulho e um sorriso. A trajetória de Jassa, inclusive, ultrapassa as máximas pré-estabelecidas pelas cartilhas de administração e gestão.

O empreendedorismo não foi uma escolha. Por necessidade, aprendeu o ofício que o tirou da pobreza e o fez realizar o sonho nordestino na maior capital do País. "Quando eu me entendi por gente me perguntei: o que sei fazer? ‘Sei cortar cabelo e estou sobrevivendo com isso’, respondi a mim mesmo. Então, investi naquilo que eu dominava", relembra.

Jassa correu atrás do que a vida pobre o privou e foi buscar capacitação. Viajou, fez cursos no exterior e conseguiu lapidar a técnica e aumentar ainda mais a intimidade com as tesouras. Em doze anos, ganhou autonomia e quilometragem nos negócios. Trabalhou como empregado em vários salões de beleza da cidade até conhecer o apresentador Silvio Santos, em 1976. Na época, ele já havia conquistado clientes importantes, tinha carro do ano na garagem e apartamento próprio.

"Fui convidado para fazer o penteado da Nicete Bruno e do Paulo Goulart no Teatro Arena. Naquele dia, o relações públicas das Confecções Camelo – a marca vestiu Silvio Santos por mais de 30 anos – passou lá e também dei um jeito no cabelo dele. Quando eles se encontraram para uma reunião, o Silvio viu, gostou do resultado e quis me conhecer", conta. Começava ali uma parceria que já dura quase 40 anos. Para Jassa, o retorno alcançado ao cair nas graças do apresentador foi imediato.

"Eu ganhava o equivalente ao que hoje seria R$ 2 ou R$ 3 mil. No primeiro mês em que o Silvio começou a falar de mim na TV, passei a ganhar R$ 60 mil", lembra. Com dinheiro no bolso, Jassa teve que aprender a lidar com a visibilidade e não descuidar do negócio.

"A estrutura era pequena e como o faturamento estava aumentando, eu tive condições de me instalar na Rua Iguatemi, onde fiquei por 34 anos", explica. "Lá, o salão começou pequeno e chegou aos 240 m². A medida que o trabalho aumentava, eu contratava mais funcionários e ao longo do tempo fui aprendendo a lidar com mais gente", revela o empreendedor.

Entre um corte e outro, o cabeleireiro aprendeu também a extrair ensinamentos das conversas com os clientes, muitos deles políticos e empresários famosos no País. "Eu tenho uma gama enorme de professores e me espelho nos vencedores. E se ele for um empresário perdedor, aproveito para ver os erros que ele já cometeu", ensina.

Comedido, Jassa levou anos para dar um passo maior nos negócios. Preocupado em dar boa educação aos filhos – ele fica visivelmente comovido ao constatar que realizou também o sonho de mandá-los estudar no exterior –, Jassa despertou no caçula, Robson, 33 anos, a vontade de seguir a sua profissão. "Meu objetivo não é ser rico. É ser feliz. E para ser feliz você precisa ter uma família e um trabalho tranquilo. Para viver bem a gente não precisa só do dinheiro. A gente tem que ter o necessário para ser feliz."

O que acertei

Para Jassa, baixar o padrão das expectativas ajuda na gestão. "Aprendi que o negócio é não sonhar muito alto e trabalhar bem. Não dá para transformar o trabalho em obsessão. O Silvio também começou sem nada e construiu (algo) ao longo dos anos, relacionando-se bem e se divertindo."

O que errei

O cabeleireiro prefere não analisar sua performance como administrador. "Eu poderia ter feito tudo pior. Mas melhor, não. Desde que eu comecei, as coisas só foram ficando melhores. E a gente não tem como se enganar. A conta sempre chega. Para o lado ruim ou para o lado bom."

Uma dica

Segundo Jassa, o segredo para o sucesso é estar sempre atualizado na sua profissão e atento às mudanças. "É isso que eleva um empresário ao patamar de respeito. O meu grande acerto como empreendedor foi conseguir acompanhar com humildade as pessoas que sabiam muito mais do que eu."

Estadão
Blog rafaelrag com cuitepbonline

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