Com muita raiva em sua defesa após a publicação na Revista
Forbes, Silas Malafaia, que se diz empresário e pastor, novamente ataca
as LGBTs em programa de televisão no domingo.
por Felipe Chagas*
Não é a primeira vez que a população LGBT é energeticamente atacada em
rede nacional no horário nobre, como aconteceu no programa de
entrevistas de Marília Gabriela na TV aberta quando chamou para uma
conversa franca aquele que se diz pastor, empresário e psicólogo de
almas, Silas Malafaia.
O segundo bloco do programa do SBT trouxe o que há de mais expurgo e
avesso aos conceitos éticos e de direitos humanos que se pode ter em um
ser humano que se diz esclarecido e em plenas capacidades mentais.
Furtivamente a entrevistadora abre os trabalhos colocando o tema com o
discurso de posse do reeleito presidente norte americano Barack Obama,
onde em texto diz: “Nossa jornada não estará completa enquanto nossos
irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer pessoa” e brinca,
seriamente, que na igreja de Silas ele não seria reeleito.
Enfaticamente, sempre que pode, o pastor coloca em mesmo plano LGBTs,
assassinos, dependentes de drogas e bandidos, numa clara tentativa de
colocar a população contra si própria, enquanto enriquece às custas dos
trabalhadores e cumpre um papel de defesa do poder econômico. Mas não
para por aí. Durante uma discussão de quase uma hora, toca em um assunto
importante, a PLC 122 que está em tramitação no Senado e na Câmara
desde 2006 que tenta criminalizar a homofobia no Brasil.
Segundo o pastor, a PLC 122 atribui direitos extra aos LGBTs em
detrimento da coletividade. Com muita perspicácia a entrevistadora
defende que os únicos direitos que tentam ser garantidos são os de serem
respeitados, não serem mortos, agredidos e perseguidos, por conta da
sua orientação sexual ou identidade de gênero como recentemente
aconteceu em uma lanchonete da rede estadunidense McDonald’s em
Campinas, interior de São Paulo, quando um casal homoafetivo brincava
com as batatas fritas e foi reprimido por uma funcionária da rede.
Impulsionado pelo projeto de lei, o pastor defende que se aprovada, a
Lei colocará em um outro patamar a população LGBT. Exaramente o
contrário. A PLC 122 garante os mesmos direitos a todas as pessoas,
apenas incluindo como preconceito civil a perseguição seja ideológica,
seja ética ou seja moral aos LGBTs que não estão incluidos nos textos
das leis que já estão em vigor.
Uma das coisas que espantam no discurso do líder religioso é exatamente o
seu embasamento que tenta influenciar diretamente a construção
legislativa do Brasil. Em se tratando de um Estado Laico, o conjunto de
Leis deve, além de abranger toda a população, defendê-las em todos os
aspectos e isso deve incluir “discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência,
gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero” (atual texto do
art. 1º da PLC 122).
Mesmo que ele não influencie diretamente a constituição do Estado, como
bem anotou a jornalista, possui grande influencia principalmente entre
os fiéis de sua igreja para que eles o façam ou discriminem ou tenham
preconceito com as LGBTs. Um Estado laico não pode aceitar leis que se
baseiam em textos religiosos, pura e simplesmente por ser laico.
No final do bloco é proposto um problema em que casais LGBTs adotam
crianças de casais heteros que o abandonaram, hoje sabe-se que muitos
orfanatos são bastante lotados e as crianças ficam abandonados ao
próprio destino: “você acha que um casal homossexual não pode criar uma
criança e fazer dela um belo cidadão e uma bela cidadã e criar um
cidadão digno, com todos seus direitos, com toda sua inteligência, com
todo seu amor e compaixão pelo outro?”. Furiosamente a resposta foi mais
do que esperada, “não”; e disse mais, segundo ele um casal homoafetivo
não é capaz de criar uma criança perfeita e defende que qualquer tipo de
família diferente daquela de pai, mãe e prole não é capaz de
desenvolver uma unidade familiar. Podemos citar aqui as inúmeras
famílias que tem como formação pais solteiros, separados, crianças
criadas por avós e até mesmo, como colocou a entrevistadora, familias
LGBTs que adotam crianças. O problema não é como a família se forma e
sim em que sociedade ela nasce e cresce.
Não muito distante, algum tempo atrás o pastor Malafaia se destacou na
mídia ao ser convidado pela Câmara para dar seu parecer como psicólogo a
respeito de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia, onde
proibia aos psicólogos indicar o tratamento à “cura gay”, que é
totalmente descabido e sem embasameno científico. O Deputado Federal
Jean Wyllys (PSOL – RJ) que é homossexual assumido e ativista LGBT em
uma fala simples de alguns minutos conseguiu refutar boa parte da
entrevista do pastor concedida no último domingo ao SBT, além de
problematizar o fato de o Brasil não ter paixão religiosa, ou seja, ser
um Estado laico em que as determinações não podem ter por base qualquer
tipo de religião ou fé religiosa, e apontou o interesse de certos grupos
religiosos de intervir em alguns assuntos, principalmente no que se
refere aos direitos LGBTs e se esquecem de outras questões como o
tráfico de mulheres, o abuso infantil e o trabalho escravo, problemas
sérios que ainda existem no nosso país
Vale lembrar, também, que o pastor Silas Malafaia, além de ser um dos
mais ricos pastores do Brasil segundo a revista Forbes, possui um canal
de televisão aberta que é concessão pública e utiliza desse espaço para
incitar o discurso de ódio às LGBTs. Não podemos permitir que em um
Estado laico, qualquer pessoa ou grupo favoreça, incite, apoie ou
divulge qualquer tipo de discurso de preconceito ou de ódio com seus
espaços. O Juntos repudia qualquer ato ou discurso de preconceito contra
qualquer tipo de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de
deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero e
luta diariamente contra esse tipo de discurso.
Fazemos lembrar os inúmeros ataques em 2012 contra a população LGBT e
não podemos deixar que isso aconteça em 2013. O Juntos apoia a aprovação
da PLC 122 pela criminalização da homofobia e do Casamento Civil
Igualitário em todos os Estados da Federação e luta diariamente para que
não mais aconteçam casos de preconceito, ódio, discriminação ou
perseguição contra um dos grupos da sociedade que mais sofrem agressões
pelo simples fato de amar. Venha construir conosco uma sociedade mais
humana, vamos Juntos lutar por outro futuro!
*Felipe Chagas é militante do Juntos! São Paulo e do Junt@s Pelo Direito de Amar!
Blog rafaelrag com o Professor Damáiso de Guarabira
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