Há uma
maldição que acompanha o viajante em terras distantes. Muito embora ele seja
recebido com generosas hospitalidades, sempre dele será exigido coisas que aos
nativos, em geral, não são. Ele, além de estrangeiro, sempre será visto como um
estranho.
O mais comum é que lhe seja solicitado um atestado de integridade da saúde física e mental e outros semelhantes. Até mesmo comprovantes de qualidades das quais ele nunca se disse possuidor, mas lhe eram atribuídas.
- Cure o meu filho. Nem precisas ir ao encontro dele, basta uma palavra tua. Ele é o Enviado! – Prove que cura, prove que tu és o Enviado! Vozes que nem sempre se originam de bocas diferentes.
Difícil, quase que impossível, satisfazer tamanha expectativa. De modo que o estranho ou parte livremente ou será expulso. Nunca, jamais, ele será visto por todos como um entre nós. Nem adianta declarar que o “meu reino não é deste mundo”, pois haverá sempre a desconfiança de que se trata de um rei deste mundo, ou melhor, de um falso rei, de um possível usurpador.
- O que quer ele entre nós? – Ele declara que somos todos irmãos, que absurdo! Nós somos os eleitos, nada nós pedimos! Tudo já nos foi dado ou prometido por Deus. Já o estranho...
Ao declarar que perdoava quem lhe,
por ventura, tenha feito um mal, causou escândalo. E ao declarar que amava a
todos, inclusive ao inimigo, nada mais lhe foi dito. De fato, ali estava um
estranho no ninho, que a tudo perturbava com a sua simples presença. Ele era um
testemunho vivo de uma coisa que todos diziam ter, mas que de fato não
possuíam.
Mais do
que um testemunho da existência do amor, da possibilidade da existência de uma
relação amorosa sem finalidades de lucros ou de trocas, ele era a prova viva da
impossibilidade do outro de amar de forma extrema, sem pedidos permanentes de
novos atestados.
Terras
distantes, aqui, são nada mais que famílias que habitam em territórios de uma
mesma nação, mas que - cada uma - forma um mundo particular. Assim, alguém que
se aproxima, membro de outra família, é sempre um estranho no ninho.
Blog rafaelrag com o professor Hiran de Melo (UFCG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário