A maioria dos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) –seis votos a dois– condenou ontem, terça-feira
(9) o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu por um dos crimes de que é
acusado, corrupção ativa (oferecer vantagem indevida).
Dirceu é apontado pela
Procuradoria-Geral da República como o “chefe da quadrilha” do mensalão,
esquema de compra de votos no governo Lula. Ainda faltam votar os
ministros Ayres Britto e Celso de Mello.
O ex-ministro também responde pelo
crime de formação de quadrilha, último item a ser julgado pelo Supremo. A
pena de Dirceu e dos demais réus condenados será definida ao final do
julgamento do processo do mensalão.
Segundo a denúncia, Dirceu comandou o
esquema de compra de votos de deputados no Congresso para aprovar
projetos de interesse do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Em defesa do cliente, no último dia 6 de
agosto, o advogado de Dirceu, José Luís de Oliveira Lima, afirmou que
não houve compra de votos no Congresso e que as testemunhas do processo
mostraram que o mensalão não existiu (confira as versões da acusação e
das defesas de cada um dos réus).
Além de Marco Aurélio Mello, votaram
nesta terça pela condenação o relator do processo, Joaquim Barbosa, e os
ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes – veja
como cada ministro votou.
O revisor da ação penal do mensalão,
ministro Ricardo Lewandowski, e o ministro José Dias Toffoli votaram
pela absolvição de Dirceu. Eles argumentaram não haver provas de que o
réu tinha conhecimento do esquema de pagamento de propina a
parlamentares da base aliada em troca de apoio ao governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
”Restou demonstrado, não bastasse a
ordem natural das coisas, que José Dirceu realmente teve uma
participação acentuada, a meu ver, nesse escabroso episódio”, declarou
Marco Aurélio Mello ao anunciar a condenação de Dirceu.
Marco Aurélio Mello afirmou em seu voto
que as negociações políticas do PT com partidos eram feitas, segundo
relato de parlamentares réus no processo, com a participação do
ex-presidente do PT, José Genoino, e do ministro da Casa Civil. “E essas
reuniões ocorreram, pasmem, no Palácio do Planalto”, disse.
Sobre a tese da defesa de que o PT
repassava dinheiro a partidos para pagamentos de dívidas de campanha,
Marco Aurélio Mello disse ser pouco provável a existência de legendas
“altruístas”. “Com a disputa partidária acirrada, não se concebe a
existência de partidos altruístas, que se socorram mutuamente e com
altas cifras”, disse.
Antes do voto de Marco Aurélio, já
havia se formado maioria para a condenação de outros seis réus – o
ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares,
Marcos Valério, os sócios dele Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, além da
ex-diretora das agências de Valério Simone Vasconcelos.
Com o voto de Marco Aurélio Mello, também formou-se maioria pela condenação de Rogério Tolentino, ex-advogado de Valério.
O ex-ministro dos Transportes Anderson
Adauto e Geiza Dias, ex-funcionária de Valério foram absolvidos pela
maioria dos ministros.
Validade das leis pós-mensalão
Ao final do voto de Marco Aurélio, o ministro Gilmar Mendes adiantou posição de que a compra de votos dos parlamentares não deve gerar a nulidade das leis aprovadas durante a época em que o mensalão estaria em prática.
Ao final do voto de Marco Aurélio, o ministro Gilmar Mendes adiantou posição de que a compra de votos dos parlamentares não deve gerar a nulidade das leis aprovadas durante a época em que o mensalão estaria em prática.
Ao absolver Dirceu e Genoino, o
ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, havia afirmado que a posição da
Corte de que houve compra de apoio político compromete as reformas
tributária e previdenciária, propostas aprovadas, segundo a denúncia,
com apoio de partidos que receberam dinheiro do PT.
O ministro-relator, Joaquim Barbosa, se
manifestou no sentido de que a compra de apoio político não deve
interferir, necessariamente, na validade das leis. “A aprovação ilícita
não se transmite, não se comunica com o produto legislativo que
eventualmente decorra, ainda que parcialmente, dessa motivação espúria.”
Voto de Marco Aurélio Mello
Assim como a maioria dos ministros que já proferiram voto, Marco Aurélio Mello condenou José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, seus sócios, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, e Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Valério.
Assim como a maioria dos ministros que já proferiram voto, Marco Aurélio Mello condenou José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, seus sócios, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, e Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Valério.
O ministro discordou dos outros sete ministros que absolveram Geiza Dias da acusação de corrupção ativa e a condenou.
“Era ela pessoa de confiança de Marcos
Valério, quem transmitia à agência bancária as instruções para efetuar
os pagamentos milionários. E saídas eram configuradas na contabilidade
como destinadas a fornecedores. Será que ela imaginava que a agência
tinha assim tantos fornecedores, inclusive de gabarito maior, alguns
integrando o Congresso Nacional?”, questionou. “A meu ver, não. A meu
ver, Geiza se mostrou coautora da prática de corrupção ativa, autora
material”, concluiu o ministro.
Marco Aurélio ironizou o fato de José
Genoino dizer que não sabia do destino de empréstimos avalizados pelo PT
a partidos da base aliada. Para o ministro, não é possível que o réu,
como presidente do partido, desconhecesse os repasses a parlamentares.
“Poupe-me de atribuir a José Genoino,
com a história de vida que tem, tamanha ingenuidade. Aliás, no Brasil há
essa prática de nada se saber. Pelo menos notada nos últimos anos”,
afirmou. Além de Genoino, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sempre afirmou desconhecer o esquema do mensalão.
Para Marco Aurélio, dizer que não há
provas contra Genoino no processo do mensalão é dar um “passo
demasiadamente largo”. “O presidente José Genoino era o interlocutor
político do grupo. Era o presidente do partido que esteve envolvido
nessa tramoia.”
Ao condenar Delúbio Soares, Marco
Aurélio afirmou não ser coerente a tese de que o réu atuou com
independência para os pagamentos a parlamentares da base aliada. Para
ele, essa conclusão “subestima a inteligência mediana”.
“Tivesse Delúbio Soares de Castro a
desenvoltura intelectual e material a ele atribuída, certamente não
seria apenas tesoureiro do partido. Quem sabe tivesse chegado a um cargo
muito maior”, disse.
Segundo o ministro, o ex-tesoureiro é
usado como “bode expiatório” do esquema do mensalão. “Apontar Delúbio
Soares, e parece que ele próprio aceita posar como tal, como bode
expiatório, como se tivesse autonomia suficiente para levantar milhões e
distribuir esses milhões, [...] a conclusão subestima a inteligência
mediana.”
Julgamento
Ao todo, 25 dos 37 réus do processo do mensalão já sofreram condenações na análise de quatro tópicos da denúncia: desvio de recursos públicos, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e corrupção entre partidos da base. Para que o julgamento seja concluído, os ministros ainda vão votar sobre os itens lavagem de dinheiro por parte do PT, evasão de divisas e formação de quadrilha.
Ao todo, 25 dos 37 réus do processo do mensalão já sofreram condenações na análise de quatro tópicos da denúncia: desvio de recursos públicos, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e corrupção entre partidos da base. Para que o julgamento seja concluído, os ministros ainda vão votar sobre os itens lavagem de dinheiro por parte do PT, evasão de divisas e formação de quadrilha.
Até a sessão desta terça (9), foram
inocentados cinco réus pelo conjunto dos ministros do Supremo: os
ex-ministros Luiz Gushiken e Anderson Adauto, o ex-assessor do extinto
PL Antônio Lamas, além da ex-funcionária de Valério Geiza Dias e da
ex-diretora do Banco Rural Ayanna Tenório, que ainda serão julgadas por
outros crimes.
G1
Blog rafaelrag
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