Blog do Professor Rafael Rodrigues
(UFCG, campus Cuité)
Hiran de Melo – professor da UFCG
Depois de mais de cem dias de greve, há quem defenda o retorna às atividades de ensino na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) por entender que não temos nada mais a ganhar com a paralisação. Como se as demandas sindicais tivessem sido amplamente atendidas. Vamos analisar esta posição.
A primeira questão é avaliar se ganhamos alguma coisa. Pensamos que sim. Em particular, no que diz respeito à conscientização do valor do serviço público e da missão da escola. Outro ganho de fundamental importância foi o resgate da Associação Docente (ADUFCG) como um espaço privilegiado de reflexão do fazer docente, retomando sua força original.
Há muito tempo que a entidade vinha se pautando por um papel predominantemente sindical. Nesta greve, ela retornou a sua vocação original de associação de docentes comprometida com os destinos da escola pública, gratuita e de qualidade.
É emocionante participar de uma assembléia convocada pelo comando de greve local e dirigida pelo presidente da ADUFCG. Lá são apresentadas, em um clima de cordialidade e respeito aos colegas, visões diferentes e até mesmo excludentes do processo histórico. Rótulos de direita e de esquerda foram superados pelo tempo e por mentes arejadas e conscientes de que precisamos caminhar juntos.
Construir uma universidade melhor e apropriada às exigências contemporâneas é o que se percebe nas atitudes e nas hipóteses subjacentes aos discursos dos que se fazem ouvir. Não existe esforço de superar a visão do outro e nem se mostrar superior. Há sim, uma compreensão de que ninguém é dono da verdade e que ela, a verdade histórica, é construída ou descoberta no convívio fraterno e leal com os colegas.
A segunda questão é se devemos retornar às atividades de ensino que estão paralisadas. Pensamos que devemos considerar o valor da dinâmica interna dos interesses particulares, antes que ela se volte contra o movimento docente. Pois, não devemos esquecer que as demais atividades docentes não pararam, nunca pararam; ao contrário, foram intensificadas por muitos. Em particular, as atividades de pesquisa e consultoria.
O governo poderia tomar medidas repressivas na tentativa de pôr fim ao movimento grevista. Mas, não será necessário. Basta esperar pelas contradições internas, inerentes a um processo em que umas atividades são paralisadas, outras não. Talvez esta seja a aposta do governo em encerrar as negociações.
Por fim: o movimento grevista obteve ganhos que justificam a sua existência. Todavia, não suficientes para alardearmos que a greve deve parar em razão destes ganhos, uma vez que as demandas sindicais não foram satisfatoriamente atendidas.
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