segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Relato de uma Professora da UFCG Sobre os Cortes de Bolsas de Estudos do Governo Brasileiro

                         Professora Dra. Mirleide Dantas Lopes (UACEN/CFP/UFCG). Foto do Professor Rafael Rodrigues.
Adendo do Blog rafaelrag. Lamento informar que hoje, 2 de setembro, a CAPES anunciou  cortes de bolsa de estudos de pós-graduação previstas para as universidades brasileiras esse ano.
         Na manhã do dia 20 de agosto do corrente ano, não consegui segurar as lágrimas ao abrir meu e-mail. Nele constava uma mensagem informando que a minha cota de bolsa, relativa ao projeto “MARAVILHAS E INCERTEZAS DO NANOMUNDO: ABORDANDO A NANOCIÊNCIA E A NANOTECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA”, havia sido cancelada.  Sim, cancelada!
         Sou doutora em Física Teórica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)  e professora do Curso de Licenciatura em Física, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus Cajazeiras, no Alto Sertão Paraibano.
         O projeto em tela objetivava trabalhar a Nanociência e a Nanotecnologia (N&N) na Educação Básica, a fim de tornar esses conceitos mais familiares aos estudantes desse nível de ensino, tornando-os menos vulneráveis ao engodo pseudo científico, que muito comumente tem sido difundido nas diferentes mídias sociais, especialmente no que diz respeito à temática N&N.
         Mas, eu não sou apenas uma professora universitária, sou também filha da periferia, filha de um motorista de ônibus e de uma empregada doméstica, que sempre apostaram na Educação como ferramenta de transformação social.
         Quando iniciei minha formação acadêmica, trabalhava em uma fábrica durante o dia e cursava a Licenciatura em Física à noite, para conseguir arcar com os custos de uma estudante universitária. Só pude largar o emprego quando recebi uma bolsa da universidade. Durante toda a minha formação acadêmica me mantive com bolsas, estas mesmas bolsas que hoje estão sendo cortadas e sem as quais eu dificilmente teria conseguido alcançar o espaço que hoje ocupo na universidade.
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         Nós, professores e professoras do ensino superior, dedicamos horas de nosso tempo, sempre buscando desenvolver um projeto de pesquisa que traga contribuições científicas relevantes para a sociedade. Sim, eu sou uma idealista, e acredito que a Ciência pode ser a chave para a salvação deste mundo doente. E na hora que li aquele e-mail, senti como se meu trabalho tivesse sido jogado na lama, desrespeitado. As lágrimas caíram!
         Temos sido diuturnamente desrespeitados, desde que a recente gestão do executivo federal assumiu. É lastimável a situação em que as universidades públicas se encontram, vivendo sob ameaças, prestes a fecharem as portas por falta de recursos. Eu me nego a aceitar essa situação! A universidade é um espaço crítico e reflexivo, local onde as ideias devem ser respeitadas, valoradas e legitimadas. Um governo que negligencia esse espaço não é digno de gerir o futuro de uma nação.
         A suposta benfeitoria proposta por essa gestão diz respeito a um projeto intitulado FUTURE-SE, que em tese traria mais autonomia para as universidades, mas que na prática consiste em uma tentativa de entregar nosso patrimônio intelectual à iniciativa privada e às especulações do mercado financeiro. A ideia não é investir em educação, tampouco em pesquisa, que nos trazem autonomia intelectual, política e financeira. O objetivo é tornar o país ainda mais subserviente aos ditames do capital estrangeiro.
         As pessoas precisam se dar conta do desmonte que está sendo feito em todos os setores, precisam deixar de lado o fanatismo e avaliar com a razão o que está ocorrendo no Brasil. O caminho que estamos trilhando resultará em anos de retrocesso, que dificilmente conseguiremos resgatar. Precisamos tomar um posicionamento contra esse descaso, do contrário, a universidade pública, assim como outras instituições estratégicas, serão sumariamente fadadas ao fracasso, no qual ainda não nos encontramos. Por isso, é hora de enxugar as lágrimas, respirar fundo e buscar forças para enfrentar de cabeça erguida os desafios postos. Sejamos resilientes!

Blog rafaelrag


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