Adendo do Blog rafaelrag. Lamento informar que hoje, 2 de setembro, a CAPES anunciou cortes de bolsa de estudos de pós-graduação previstas para as universidades brasileiras esse ano.
Na manhã do dia 20 de agosto do corrente ano, não consegui segurar as lágrimas ao abrir meu e-mail. Nele constava uma mensagem informando que a minha cota de bolsa, relativa ao projeto “MARAVILHAS E INCERTEZAS DO NANOMUNDO: ABORDANDO A NANOCIÊNCIA E A NANOTECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA”, havia sido cancelada. Sim, cancelada!
Sou doutora em Física Teórica pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e
professora do Curso de Licenciatura em Física, da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), Campus Cajazeiras, no Alto Sertão Paraibano.
O projeto em tela objetivava trabalhar
a Nanociência e a Nanotecnologia (N&N) na Educação Básica, a fim de tornar
esses conceitos mais familiares aos estudantes desse nível de ensino, tornando-os
menos vulneráveis ao engodo pseudo científico, que muito comumente tem sido
difundido nas diferentes mídias sociais, especialmente no que diz respeito à
temática N&N.
Mas, eu não sou apenas uma professora
universitária, sou também filha da periferia, filha de um motorista de ônibus e
de uma empregada doméstica, que sempre apostaram na Educação como ferramenta de
transformação social.
Quando iniciei minha formação
acadêmica, trabalhava em uma fábrica durante o dia e cursava a Licenciatura em
Física à noite, para conseguir arcar com os custos de uma estudante
universitária. Só pude largar o emprego quando recebi uma bolsa da
universidade. Durante toda a minha formação acadêmica me mantive com bolsas,
estas mesmas bolsas que hoje estão sendo cortadas e sem as quais eu
dificilmente teria conseguido alcançar o espaço que hoje ocupo na universidade.
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Nós, professores e professoras do
ensino superior, dedicamos horas de nosso tempo, sempre buscando desenvolver um
projeto de pesquisa que traga contribuições científicas relevantes para a
sociedade. Sim, eu sou uma idealista, e acredito que a Ciência pode ser a chave
para a salvação deste mundo doente. E na hora que li aquele e-mail, senti como
se meu trabalho tivesse sido jogado na lama, desrespeitado. As lágrimas caíram!
Temos sido diuturnamente
desrespeitados, desde que a recente gestão do executivo federal assumiu. É
lastimável a situação em que as universidades públicas se encontram, vivendo
sob ameaças, prestes a fecharem as portas por falta de recursos. Eu me nego a
aceitar essa situação! A universidade é um espaço crítico e reflexivo, local
onde as ideias devem ser respeitadas, valoradas e legitimadas. Um governo que
negligencia esse espaço não é digno de gerir o futuro de uma nação.
A suposta benfeitoria proposta por essa
gestão diz respeito a um projeto intitulado FUTURE-SE, que em tese traria mais
autonomia para as universidades, mas que na prática consiste em uma tentativa
de entregar nosso patrimônio intelectual à iniciativa privada e às especulações
do mercado financeiro. A ideia não é investir em educação, tampouco em
pesquisa, que nos trazem autonomia intelectual, política e financeira. O
objetivo é tornar o país ainda mais subserviente aos ditames do capital
estrangeiro.
As pessoas precisam se dar conta do
desmonte que está sendo feito em todos os setores, precisam deixar de lado o
fanatismo e avaliar com a razão o que está ocorrendo no Brasil. O caminho que
estamos trilhando resultará em anos de retrocesso, que dificilmente
conseguiremos resgatar. Precisamos tomar um posicionamento contra esse descaso,
do contrário, a universidade pública, assim como outras instituições
estratégicas, serão sumariamente fadadas ao fracasso, no qual ainda não nos
encontramos. Por isso, é hora de enxugar as lágrimas, respirar fundo e buscar
forças para enfrentar de cabeça erguida os desafios postos. Sejamos
resilientes!
Blog rafaelrag
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