“Me
ajuda, me ajuda, eu não aguento mais. Eu quero ser preso”. Esse apelo
foi feito por um jovem de 21 anos aos policiais da delegacia de Brumado,
no sul da Bahia, na noite de sexta-feira (18 de outubro). Segundo Jair Santos,
funcionário do setor administrativo da unidade, o rapaz pediu para ser
detido com a intenção se livrar do consumo de drogas.
“O rapaz chegou na delegacia e como o delegado estava ocupado, eu fui
ver o que era. Aí ele me disse que estava querendo ser preso. Eu
perguntei porquê e ele disse que era porque não tem pai, não tem mãe e
que estava querendo sair das drogas. Ele estava bem alterado, meio
perdido”, relata Santos.
Segundo o funcionário, o jovem revelou que trabalhava na zona rural
da cidade e gastava todo o dinheiro que ganhava comprando drogas. “Dava
para ver nas mãos dele que ele trabalhava na roça, que é trabalhador. Ele
disse que trabalhava lá e vinha para a cidade gastar tudo com todo tipo
de drogas”.
Após saber do pedido do jovem, Santos entrou em contato com Manoel
Gonçalves, que faz parte do grupo de Alcoólicos Anônimos (AA) da cidade.
“Quando veio o pedido de ajuda, imediatamente eu compareci. Quando
cheguei, o rapaz estrava chorando desesperadamente. Ele ficava dizendo:
‘Me ajuda, me ajuda, não aguento mais’”, descreve Gonçalves.
O membro do AA relata que em conversa com o rapaz, ficou sabendo que
ele consumia drogas desde a infância. “Disse que desde criança usava
drogas porque o pai usava, a mãe usava. A mãe dele foi morta por causa
de drogas. Ele trabalhava, falou que nunca roubou nada de ninguém, mas
gastava tudo que tinha com pedras [de crack]“, conta.
Diante da situação, o jovem foi convidado para fazer um tratamento em
um centro de recuperação mantido pelos Alcoólicos Anônimos e pela
igreja local. “Como nós temos um centro de recuperação mantido pela
igreja, nós convidamos ele. Ontem [sexta-feira] mesmo ele veio para cá.
Foi bem recebido, tomou um banho e agora vou sempre que puder acompanhar
ele”, promete Gonçalves.
Manoel Gonçalves diz que durante toda a vida teve contato com
histórias tristes de usuários de drogas, mas nenhuma que se compare à
situação do rapaz que pediu ajuda. “Alcoólatra a gente nunca deixa de
ser. É uma doença. Eu precisei ser internado e agora estou há 30 anos
contínuos de sobriedade. Já vi muita gente nessa situação. Mas uma
pessoa chegar assim e pedir para ser preso, se afastar, foi a primeira
vez. É uma atitude difícil e muito rara. Foi ele mesmo que tomou a
iniciativa. Geralmente as pessoas negam o problema”, afirma Gonçalves.
Jair Santos, da delegacia de Brumado, conta que nem chegou a
registrar o caso na delegacia e procurou de imediato conseguir ajudar o
rapaz. “Me sinto na obrigação de ajudar de alguma forma. Quando vejo
alguma pessoa assim, procuro sempre resolver. Talvez ele tenha feito
isso porque não tem pais e outras pessoas nessa situação têm a ajuda dos
pais. É uma situação muito difícil, é uma doença”, lamenta.
G1
Blog rafaelrag/focando a notícia
Nenhum comentário:
Postar um comentário