O grande momento: atleticanos comemoram o título da Libertadores no Mineirão (Foto: AFP)
Mas quando o lado heroico do Atlético prevalece, ele sempre sai de campo glorificado” (DRUMMOND, Roberto)
O Atlético-MG é campeão da Libertadores 2013. O Atlético-MG é campeão da
Libertadores. O Atlético-MG é campeão da Libertadores... Leia, releia,
diga, repita, fale no espelho para ver se acredita. Acredita. Acredita
sempre!
O Atlético-MG da fé, dos dribles, da raça, da torcida, dos versos de
Drummond, da voz de Beth Carvalho. O Atlético-MG dos pênaltis, de uma
idolatria sem tamanho, sem fronteiras, que foi à Bolívia, à Argentina, a
São Paulo, ao México, ao Paraguai, e terminou no Mineirão com um final
feliz, esperado, desejado.
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Os campeões do gelo fervem! Derretem os corações de sua Massa
apaixonada. Com tudo, absolutamente tudo a que têm direito. Nenhuma
palavra vai explicar a vitória por 2 a 0 sobre o Olimpia no tempo
normal, o 0 a 0 da prorrogação, os 4 a 3 nos pênaltis.
As lembranças de cada pessoa que foi ao estádio ou viu pela televisão
contarão à sua maneira como a bola passava a um fiapo de cabelo dos pés
de Bernard, mas não entrava. Como os chutes de Diego Tardelli e
Ronaldinho teimavam em encontrar obstáculos.
A eternidade vai tratar de dar uma satisfação a Ferreyra, que poderia
ter exterminado o sonho atleticano, mas escorregou. Teria sido o olhar
de São Victor, que já ficara para trás? Teria sido a camiseta de Cuca? E
o que provocou a expulsão de Manzur logo em seguida? E segundos depois,
o gol de Leonardo Silva, de onde veio? De onde ele surgiu?
Alguém, um dia, conseguirá dizer como os jogadores tiveram tanta calma e
categoria para se encaminharem diretamente para a história.
O jogo que começou no dia 24 e terminou em 25 de julho de 2013. Belo
Horizonte, hoje, é branca e preta. Luta, luta, luta com toda raça para
vencer. E faz as malas rumo ao Marrocos, onde alguns duelos memoráveis
podem acontecer: Cuca contra Guardiola, Ronaldinho versus
Schweinsteiger... Que venha o Bayern! E que o mundo descubra, em
dezembro, o imponderável, a paixão e a fé que moveram o Galo ao melhor e
maior dia de sua história.
Vai, Jô! Pega, Jô! Assim não, Galo...
Futebolista dos melhores que foi Djalma Santos, deve ter abençoado o
minuto de barulho em sua homenagem: 60 segundos de hino do Atlético-MG
cantado a plenos pulmões. O tempo... Esse ingrediente cruel das
decisões.
O Galo tinha 90 minutos para fazer dois gols, mas parecia ter 90
segundos, tamanha pressa no início. Pressa inimiga da perfeição, todos
aprenderam. A bola pouco parou no chão. Ronaldinho, que tão bem sabe o
que fazer com ela, abusou dos lançamentos.
O Olimpia teve o peso da camisa tricampeã da Libertadores, mas não só
isso. Os paraguaios não parecem ter sido tratados com a devida
consideração. Os destaques do Galo foram mal no primeiro tempo, como já
havia ocorrido no Paraguai. Não haveria mérito do técnico Hugo Almeida e
sua linha neutralizadora de cinco defensores?
Bola para o Jô, que é final de campeonato. Sempre nele, que só
conseguiu receber e fazer o pivô uma vez, mas o chute de Tardelli saiu
alto. “Eu acredito! Eu acredito!” O mantra ecoava, e a Massa não
acreditava que a bola cruzada por Tardelli passou a milímetros do pé de
Bernard. Ah, se ele fosse um tiquinho mais alto...
A unha de Cuca sofria tal qual a garganta e o coração do torcedor, que
viu Bareiro e Silva entrarem livres na área, mas finalizarem mal, sem
força, nas mãos de São Victor dos Milagres.
Bernard trocou empurrões com Benítez. Victor socou o ar quando o
árbitro interrompeu sua saída rápida. Ronaldinho não se conformou com
mais um passe errado. E o primeiro tempo, que acabou com Josué como
destaque, jogando e orientando, se foi. Hora de Cuca rezar, roer a unha e
botar os nervos no lugar.
O momento da esperança: Leonardo Silva cabeceia e supera Martín Silva, fazendo 2 a 0 (Foto: Reuters)
Esperança, angústia, medo e alegria
Assim que Wilmar Roldán encerrou a primeira etapa, Cuca foi apressado
ao vestiário. Pensava no que fazer. Talvez pedindo uma luz à Virgem da
camiseta e do coração. A luz veio em forma de Rosinei. E que luz
rápida... Um minuto! O cruzamento dele não foi perfeito, mas Pittoni
furou. A bola encontrou Jô, aquele a que todos procuravam. Gol! A Massa
tirou o grito do peito.
Jô virou artilheiro isolado da Libertadores com sete gols, mas queria
mais. Recebeu outra vez de Rosinei e tentou duas vezes. Uma nas mãos de
Silva, outra para fora.
Faltava um. Só um... Tão pouco para o ataque que já fez quatro aqui,
cinco ali. Mas uma enormidade para chegar ao título. Que ruído era
aquele no Mineirão? Era esperança, aflição. Era inexplicável. O Olimpia
se tornou absolutamente coadjuvante. Pareciam fantoches à espera do que
aconteceria. Eles também têm fé. Como devem ter orado...
Como explicar o chute de Diego Tardelli, sem goleiro, por cima do gol?
Estava impedido, o que alivia o erro incrível. Ele saiu logo depois, e
entrou Guilherme. Substituição também de fé, de confiança em sua
técnica, de superstição na expectativa que ele repetisse a semifinal e
fizesse o segundo gol salvador.
Como explicar o escorregão de Ferreyra, sem goleiro, sem ninguém à sua
frente? Ele não estava impedido. Um lance incrível, surreal, que
arrancou mais um coro de “Eu acredito!”. Coro reforçado com a expulsão
de Manzur. E era pra acreditar mesmo.
Como explicar que Leonardo Silva tenha precisado de três cabeçadas? Na
primeira, não foi possível espichar o travessão para que ela entrasse.
Na segunda, não foi possível tirar Martín Silva do caminho. Na terceira
não houve trave ou goleiro que impedisse a catarse mineira, o delírio do
"uai", a explosão absoluta de alegria. Alegria, alegria, alegria...
O Galo tinha um jogador a mais, 56 mil torcedores a mais e 30 minutos mais para entrar na história.
O momento da dor: Cuca socorre Bernard, que ficou em campo mesmo sem condições (Foto: EFE)
O ato final
9-0-0. Ok, não era bem esse o esquema do Olimpia na prorrogação, mas
era quase esse. Contra a paciência do Galo, que virava para cá, para lá,
achava espaços. A bola aérea era um trunfo. Réver acertou o travessão.
“O Galo é o time da virada, o Galo é o time do amor!”. Josué, que
jogador. Grande, vitorioso. Que chutaço. E que defesa do ótimo Martín
Silva, uruguaio ícone da resistência paraguaia.
Na teoria, 9-0-0. Na prática, o esquema era “não tem mais jogo”. Valia
puxar o braço de Victor, ir direto ao corpo de Bernard... Valia tudo. O
Olimpia queria pênaltis. De novo?
Cuca já estava sem agasalho. Sem ar. Sem unhas. O Galo não pressionou
como se esperava. Bravos paraguaios, valorosos. Bernard desabou, sem a
menor condição de jogar. Mas voltou. Falta para o Olimpia. Igualzinha
àquela em Assunção. No mesmo lugar, no mesmo pé direito de Pittoni.
Alecsandro dessa vez não correu para o gol. A bola saiu. Pênaltis. De
novo!
Todas as orações a Victor. Todas. Até Miranda parecia devoto. O
zagueiro abriu as cobranças tão mal... Como se o goleiro precisasse de
ajuda. Pegou no meio do gol. Alecsandro pensou, olhou, bateu com
perfeição e reverenciou o público. Ferreyra também bateu mal, mas fez.
Era a vez de Guilherme, o talismã. Categoria pura. Galo na frente!
Candía bateu no meio. Fez o simples, fez o gol. Jô não perdoou. Gols em
decisões por pênaltis não contam na artilharia do torneio. Nem
precisou. Na cobrança de Aranda, São Victor mal viu a bola.
Indefensável. Assim como o chute de Léo Silva, zagueiro que tem calma de
centroavante para botar a bola na rede.
Se Giménez errar... Se São Victor pegar, o Galo é campeão. Se a bola
não entrar, o Galo é campeão. Era esse o cenário no Mineirão quando
Giménez tomou distância. A torcida sabia que acabaria ali. A bola
acertou o travessão, acertou o coração de milhares, milhões de
atleticanos. Milhões de campeões. Valeu a pena acreditar!
O momento do alívio: Cuca, com sua camisa de Nossa Senhora, festeja a conquista (Foto: AFP)
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