Quem não é capaz de tomar partido tem de calar-se
(Walter Benjamin, 1892-1940).
Os
professores e militantes do movimento docente Roberto Leher (UFRJ) e
Marcelo Badaró (UFF) escreveram e fizeram circular na internet um artigo
intitulado “Docentes contra zumbis” (ver a íntegra em:
www.adufcg.org.br). O texto trata da força da greve iniciada nas
universidades federais no dia 17/05/2012 e seu impacto na atual
configuração política do movimente docente, particularmente o embate
envolvendo ANDES-SN X PROIFES. É justamente nesse ponto que gostaria de
tecer alguns comentários.
Para
começo de conversa, gostaria de deixar claro que concordo, no
essencial, com os argumentos dos autores expressos no citado artigo,
especialmente os desdobramentos da história do sindicalismo brasileiro
no atual movimento docente.
Como
o artigo deixa claro, a ANDES (hoje o ANDES-Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino Superior) surgiu no contexto mais
amplo de luta política e social contra a ditadura militar-civil
implantada no Brasil com o golpe de Estado de 1º de abril de 1964.
Como toda ação histórica de relevo, o movimento docente das
instituições de ensino superior desde sua gênese trouxe consigo
diferentes tendências e concepções, que buscam estabelecer a hegemonia
na dinâmica da luta de classes.
No
caso da história do movimento classista, houve uma inflexão política
entre os anos 1990 e início dos anos 2000, devido às transformações
históricas internacionais que afetaram o mundo do trabalho e a
experiência dos trabalhadores, com a emergência do “Estado de Mal-Estar
Social”: a faceta do capitalismo em seu estágio neoliberal. No caso do
Brasil, a grande "novidade" foi a chegada ao poder em 2002 de uma
coalizão de forças políticas de "esquerda"- capitaneadas pelo Partido
dos Trabalhadores- que se converteu com o tempo ao status quo e a ordem do capital, levando de roldão lideranças e movimentos sociais até tidos e havidos como combativos.
A
universidade e o movimento docente não ficaram imunes a esse processo
mais amplo. A tendência a mercantilização de todas as dimensões da vida
humana em sociedade se expressou no mundo acadêmico com o projeto
atualmente em curso de uma universidade de "resultados", em que cada
professor luta por um lugar ao sol da meritocracia e da guerra de todos
contra todos, na busca por verbas, vaidade e poder, contribuindo desse
modo para o estilhaçamento de qualquer possibilidade de construção
coletiva de uma identidade de classe dos trabalhadores da educação
superior. O fetiche do “Currículo Lattes” é a expressão maior desse
estado de espírito regressivo predominante no mundo universitário
brasileiro e, quiçá, ocidental.
O
chamado PROIFES é a expressão sindical e ideológica dessa espécie de
"darwinismo acadêmico", com seu conhecido cortejo de pragmatismo
reacionário. Para que todas as implicações desse processo fiquem claras,
é necessário ter em mente a história e os métodos políticos que
informam a ação deste ente. O grupo que formou o hoje PROIFES (até o ano
passado Fórum, hoje Federação de Sindicatos de Professores das
Instituições Federais de Ensino Superior) se originou em uma tendência
política que atuava no interior do ANDES. Por não se conformarem com as
sucessivas derrotas sofridas em eleições- diga-se de passagem,
democraticamente organizadas- ao longo do tempo, eles resolveram se
retirar da estrutura legal do sindicato e atuar, por assim dizer, por
fora. Como nunca tiveram bases reais sólidas, saíram em busca da
chancela oficial do governo Lula da Silva. Não é por acaso que o "ovo da
serpente" tenha sido incubado em 2005 nos gabinetes do Ministério da
Educação e Cultura, na gestão do então ministro Tarso Genro. Depois
deste gesto inaugural eles resolveram dar um ar de “legitimidade”, ao
convocarem uma assembleia dos professores das IFES em setembro de 2008,
tendo como local a cidade de São Paulo. Esse evento se constituiu em um
dos mais grotescos lances da história do movimento sindical no Brasil. O
local em que se deu a dita reunião (não por acaso a sede da Central
Única dos Trabalhadores, no bairro do Brás) foi cercado por aparato
paramilitar constituído de verdadeiros “cães de guarda”, que com sua
truculência tradicional impediram que centenas de professores tivessem
acesso ao interior do prédio, lembrando os dias mais sombrios da mesma
ditadura que no passado recente tanto o PT como a CUT ajudaram a
derrotar. Assim, estes professores foram impedidos de expressar livre e
democraticamente seus pontos de vista sobre o processo em curso, já que o
edital convocava a todos os docentes das IFES, e não apenas aos
adeptos daquele ente prestes a ser criado. Porém, o pior ainda estava
por vir. Acuados pela manifestação democrática dos docentes que foram
autoritariamente barrados, os sindicalistas “chapa branca”
protagonizaram um fato patético: em pouco mais de 15 minutos não só
criaram a entidade, como também aprovaram os seus estatutos e
constituíram sua primeira diretoria. Detalhe: essa dita "assembleia"
contou com votação, em sua maior parte, de professores "virtuais" (pois
centenas de docentes se fez representar por procurações conseguidas
sabe-se lá como) do que de docentes de "carne e osso", procedimento esse
que se tornou uma marca registrada das práticas sindicais proifianos.
Em outras palavras, mais uma vez a história se repetiu como farsa.
Para
se diferenciar das práticas sindicais tidas como “ultrapassadas” do
ANDES-SN, os arautos do sindicalismo oficial no interior das IFES
armaram mais uma fraude ideológica. Segundo eles, o ANDES-SN perdeu sua
legitimidade histórica porque foi paulatinamente se afastando da base da
categoria, passando a gravitar em torno de grupelhos ultra-esquerdistas
ligados ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e o
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Nesse contexto, o PROIFES passou
desde então a se apresentar ao público interno e externo como uma
entidade democrática e pluralista, ao incorporar métodos de
participação direta, como o plebiscito. Contudo, este fenômeno não
resiste a qualquer análise crítica, pois aqui "participação" é
reduzida quase sempre a consulta por instrumentos eletrônicos. Ou seja,
estamos diante de um simulacro de democracia condizente, aliás, com
estes tempos de cotidiano administrado, em que a realidade passa a ser
encarada como um mero produto de representações e discursos. Aqui
estamos diante da ideologia conservadora do pós-moderno, embora essa
“novíssima” versão do movimento docente e acadêmico às vezes apareça
travestida de marxismo de salão.
Curioso
é que ao acusar o ANDES-SN de ser instrumentalizado por partidos
políticos sectários, o que não é verdade, o PROIFES se apresenta como
paladino da moralidade e dos bons costumes, como se não tivesse nada a
ver com essa história. Ora, está provado hoje que esta entidade é o
braço sindical do governo no movimento docente capitaneado pelo Partido
dos Trabalhadores, o Partido Comunista do Brasil e seus satélites
stalinistas, ou seja, a mais pura tradução e o exemplo concreto da
esquerda brasileira que se "endireitou". Não é por acaso que essa gente
tem defendido com “unhas e dentes” propostas dos tecnocratas de Brasília
para o ensino superior, como o REUNI, PROUNI e PRONATEC, outros tantos
“pacotes” educacionais gestados no Banco Mundial. Por se disporem a
fazer esse “serviço sujo”, volta e meia recebem migalhas materiais que
sobram do bolo das elites brasileiras responsáveis pela mercantilização
do saber. A esse respeito, é sintomático que um dos principais
dirigentes nacionais do PROIFES, o professor Gil Vicente, seja alvo de
investigação em função de suspeita do uso indevido de recursos
proveniente do Ministério do Planejamento. Essa promiscuidade entre
interesses privados e públicos é um traço caracterizador do que Roberto
Leher e Marcelo Badaró denominam em seu texto de “sindicalismo de Estado
na vida universitária”.
Apesar
do apoio dos governantes/gestores de ocasião, a recorrentes tentativas
de desqualificação do ANDES-SN como representante histórico dos
professores, a busca infrutífera de suspensão do registro sindical do
ANDES-SN, despolitização da categoria, dentre outras práticas nefastas, a
estratégia adotada pelos proifianos parece não ter surtido os resultado
que imaginavam inicialmente. Isso porque atualmente este ente dirige
apenas sete sindicatos docentes nas IFES (ADUFG, ADUFMS, ADUFRGS,
ADUFScar, APUB, ADURN e ADUFC), em um universo de mais de meia centúria.
Talvez seja por isso que eles tenham mudado de tática recentemente.
Prova disso é que nas duas eleições do ANDES-SN, realizadas em 2010 e
2012, se aliaram com alguns "inocentes úteis" para tentar formar chapas
de oposição. Mais uma vez a falta de legitimidade dessa gente ficou
comprovada, pois nos referidos pleitos os pedidos de registro foram
indeferidos, isso pela simples razão de que nas duas ocasiões não
conseguirem juntar 83 nomes para compor as respectivas composições
sindicais. A título de exemplo, convém lembrar que enquanto a diretoria
do ANDES-SN é constituída de 83 diretores distribuídos nacionalmente, a
diretoria executiva do PROIFES é formada de, no máximo, 13 membros.
Estes formam uma verdadeira casta sindical de burocratas encastelados em
Brasília e seus arredores, vivendo parasitariamente e à revelia do
conjunto dos professores.
O
que tudo isso tem a ver com a greve dos trabalhadores da educação em
curso no Brasil, em especial os professores das federais? Eu diria que
tudo. Ao expor as fraturas do projeto de expansão sem qualidade, com
uma pauta que combina melhores condições de trabalho, defesa de
uma carreira decente e a universidade pública como um patrimônio
estratégico da sociedade brasileira, o ANDES-SN tem conseguido uma
adesão expressiva das suas bases e o apoio de segmentos importantes da
população, o que tem obrigado o governo a ensaiar um efetivo processo de
negociação com a categoria em greve. Esse processo teve desdobramentos
na área de atuação do PROIFES, cujas direções, literalmente, têm sido
atropeladas pelas suas bases, a exemplo do que ocorreu na ADUFG, ADUFMS,
ADUFScar, ADUFC e APUB.
Não
sabemos ao certo o desfecho desta greve, principalmente em termos do
atendimento de nossa pauta de reivindicação. Quanto mais mobilizados
estivermos, maiores as chances de conquistas, nesta que é uma das
maiores greves de nossa história. Uma coisa, porém, é quase certa: nunca
mais a história do movimento docente será a mesma, com o
enfraquecimento do neopelegismo e o conseqüente fortalecimento do
protagonismo dos docentes e seu principal instrumento de luta: O
ANDES-SN.
Luciano Mendonça de Lima é professor da Unidade Acadêmica de História e Membro do CLG/ADUFCG
Blog rafaelrag
Ciências e educação
Agra ressaltou que tirou um fardo das costas, “Um homem não pode ficar em cima do muro. Estou com Cartaxo, é um excelente candidato, equilibrado, tem bom coração. Estou tentando recompor o campo da esquerda”, ressaltou.
Blog rafaelrag
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Ciências e educação
AGRA, CARTAXO E NONATO SE UNEM CONTRA RC E ESTELIZABEL
Depois de ser
humilhado e escanteado, o prefeito de João Pessoa, Luciano Agra dá a
volta por cima, deixa o PSB e decide apoiar a chapa do PT que tem
Luciano Cartaxo como pré-candidato a prefeito e ainda indicou o
jornalista Nonato Bandeira do PPS para vice.
O feitiço virou contra o feiticeiro - Todos contra RC e sua Estelizabel
O prefeito
Luciano Agra falou durante a coletiva de imprensa no final da manhã
de ontem, terça-feira (26) que tirou um peso das costas ao decidir apoiar a
candidatura de Luciano Cartaxo (PT) com Nonato Bandeira (PPS) como vice
na chapa.
Agra ressaltou que tirou um fardo das costas, “Um homem não pode ficar em cima do muro. Estou com Cartaxo, é um excelente candidato, equilibrado, tem bom coração. Estou tentando recompor o campo da esquerda”, ressaltou.
COMENTÁRIO DO PROFESSOR RAFAEL. Por que Agra ainda não se filiou ao PT?
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