domingo, 7 de julho de 2024

LEMBRANÇAS DO MEU PAI NA SEGUNDA GUERRA

 

                                              Martinho Ramalho de Melo

Meu pai na velhice, sempre tinha a mania de me recontar episódios da sua vida.

A mocidade dele era narrada sempre intercalada com o período da segunda grande guerra.

Ele nasceu no período anterior a primeira guerra mundial e quando a segunda começou, era apenas um jovem de 21 anos. 

Eu falo dele, porque eu nem era nascido, e minha vida futura já dependia. dele continuar vivo  e ainda  por cima casar, e ter filhos.

Se a gente refletir bem, a nossa vida é apenas fruto do acaso e das contingências da vida de um casal, um homem e uma mulher. 

Para eu estar escrevendo esta crônica, meu pai por acaso, não morreu no período entre a primeira e a segunda guerra.

A geração mais traumatizada e sofrida da história recente, foi a que viveu no período das duas maiores guerras que o mundo já conheceu.

A sorte riu para mim, e garantiu a vida que vivo. Meu jovem pai se apaixonou por uma bonita jovem em Alagoa Grande. Mais seus pais (pai e mãe), impediram o romance de Romeu e Julieta.

Ele foi forçado a se exilar no Rio de Janeiro e viajou na época da segunda guerra mundial.

Justamento de navio e quando os navios brasileiros estavam sendo bombardeados no oceano atlântico.

O navio em que viajou como passageiro por pouco não foi atingido por um torpedo. Se isso acontece, ele mesmo me contou, iria ser comida dos peixes no mar.

Finalmente chegou com vida no Rio, onde se instalou, e arranjou um bom emprego na Light.

Jovem, empregado, com parentes e morando num local bom. A tendencia era ele ficar definitivamente como a maioria dos migrantes que ia para a cidade maravilhosa.   

Mas a guerra finalmente terminou, e ele, que tinha uma boa vida, decidiu por conta própria voltar. No momento em que se toma uma decisão difícil e sem volta.

E se ele não volta?        

 O imperador romano Júlio Cesar, antes do início da batalha ao cruzar o rio Rubicão, pronunciou a seguinte decisão

- Alea jacta est!” (A sorte está lançada).    

A sorte estava lançada, meu pai cruzou o Rio de Janeiro e voltou.

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