quinta-feira, 6 de junho de 2013

As lembranças de João de Manezin ecoam na memória de Erivaldo Duarte, o galego Cacaré.


JOÃO DE MANEZIN.... 

Por Erivaldo Duarte

Folclórico por nascença, irreverentepor natureza, político-nato – assim viveu e morreu João de Manezin. Por isso, deve, essas alturas, seguir a estrada em busca do céu. Céu que, para os que nascemos no sertão, não deve ser perto, isso porque crescemos ouvindo jargão do tipo – tá pensando que o céu é perto?

Pois bem, daqui até chegar lá deverá promover muitas presepadas. Sim, porque – pr´os que convivemos com ele, temos no mínimo umas ou quatro pra contar.


Teve uma que presenciei durante o recreio no Colégio Estadual, onde João trabalhava abrindo e fechando o portão dos carros. Foi um dia desses em que, um pai, que aguardava pela saída do filho, comia um cachorro quente, na barraca, perto da entrada. Foi então que João de Manezin se aproximou e , com todo floreio que lhe era próprio, (já) foi pedindo também um. Aí, a medida que mastigava o bicho, jogava conversa do tipo, "num se aperrei não, porque, se num tiver dinheiro trocado eu pago o seu". Assim, mastigando lenta e propositadamente seu cachorro quente, chega, de repente o colega, por quem o pai aguardava. Ora, apressado, devolvendo a gentileza primeira (o pai do colega) num teve outra saída, se não a de pagar o lanche dele, deJoão – é claro. Nessa hora, João, como se se apressasse a engolir o resto, e a esboçar esforço e gesto de tirar o dinheiro do bolso, falava: - mas omi, eu num disse que era por minha conta! Mas, se já tá pago, tá pago. Fica pra próxima. Conte comigo! Amigo é pr´essas coisas.

Como essa, há muitos causos e contos a respeito desse ilustre personagem da terra do Padre Rolim. Do sujeito que, pelo menos no meu tempo, só andava numa bicicleta – toda adornada de “parangolé”. João, que onde estivesse, tinha sempre uma roda de gente em seu entorno. Podia ser noEstádio Higino Pires ou na Praça Camilo de Holanda, por onde passava, João era mais conhecido que o papa. Aliás Frei Damião que o diga. Menino, lembro que João animava-se com a ideia de que seria recebido pelo frei. E contava esse fato, isto é, esse plano, com a maior farofa possível. Pra ser sincero, não tenho notícias de que, se – de fato – Joãochegou a “se confessar”, o que aliás, enquanto para os demais fiéis/pelegrinos tratava-se de exercício de fé, pra ele – João- deveria ser um fato politicamente aproveitável.
Sabe aquela da “mulher que vira peixe”!?. Essa, como se conta ainda hoje, se deu no seu (dele) circo de empanada, lá na Camilo de Holanda, em Cajazeiras-PB, imediações da hoje Igreja de São João Bosco (hoje sob a égide do reverendíssimo Padre Janilson Rolim, que, por sinal é nosso sobrinho-primo), quando, então, teria João de Manezin alardeado por toda cidade de que, naquela noite o bicho ia pegar; que a mulher viraria peixe etc. E aí, de empanada cheia, aparece uma mulher que, a medida que desfilava com um peixe num prato, virava o bicho prum lado e pro outro, pra riba e pra baixo –João botava pra torar, pra gerar!

Ainda nesse contexto circense, tem outra que... certa noite, desesperada em busca da filha que havia sumido (de casa) sem informar rumo ou destino, a mãe, aproximando-se da bilheteria, de onde João num se afastava muito, perguntara a ele- João, me diz uma coisa, visse se minha fia entrou aqui? E que, João, irreverente por natureza, teria respondidocom outra pergunta: - E sua fia é virgem?. Ao que então, a mãe indagara: - por quê?. E João responde- por quê? porque.., se for, só se pulou a empanada ou passou por baixo do arame. 

Antônio Quirino discursa no velório de João de Manezin
João de Manezin, além de ter sido vereador, salvo melhor lembrança nos idos de Doutor Epitácio, era cabo eleitoral pra ninguém botar defeito. Parece que João era da ARENA!, ou era do PMDB?. Interessante!. Como as cousas mudam. Muita gente, certamente, que acabou de ler “A.R.E.N.A” deve ter sido arremessado mentalmente a uma das praças esportivas em construção por esse país afora. Mas, essa sigla refere-se (nobres jovens) à Aliança Renovadora Nacional, que remonta aos tempos em que rolava nas feiras do nosso Sertão afora certo cordel, em cuja capa/gravura lia-se: “OS CARNEIROS QUE ENGORDARAM NA SECA”. Nesse mote, Doutor Quirinodeve ter boas lembranças de João de Manezin.

João era, no nosso dizer mais coloquial possível, aquele sujeito “sem vergonha”. Um caba que num tinha vergonha nem de botar os outros pra andar nu. Quem num “se lembra” daquelas meninas bonitas, que João, filarmonicamente, fazia desfilar na sua “Escola de Samba”, em trajes minúsculos pros tempos de então!?

João não era só engraçado e irreverente. Era foda mesmo.Encarava tudo de frente. Tanto assim que, na sua mundialmente conhecida música, o refrão-maior diz assim:“Ei!, olhe pra mim. Eu sou João de Manezin. Quer mais o quê? Aquele outro, igualmente bem conhecido: Ruim por mim, vote no João de Manezin”, ou aquela dos “dois pauzin”. João era foda mesmo!.

Enfim, como se disse no começo, como o céu é longe pra cacete, daqui até chegar lá – quiçá - , queira Deus!, João se ajeite maisSe não vai ser mando de volta pra cá, pro nosso inferno diário, pr´aqui, pr´esse chão terreno, lugar em que – enquanto vivo – soube, como poucos, gozar intensamente seus melhores momentos, sempre arrodeado de gente, bicho difícil de administrar, principalmente diante de boato saído de bolsa – famia ou não. Dá-lhe Joao!

Que Deus deixe João de Manezinho entrar no céu. Porque, lá chegando, a festa vai ser grande. 
Blog rafaelrag com sete candeeiros de Cajazeiras.

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