Como
criança em festa infantil, João Paulo Cunha divertia-se nos últimos
dias enchendo o balão para ver se arrebentava. Parecia decidido a
descobrir o ponto exato que antecedia o pipocar do balão. Ao requerer à
Justiça autorização para deixar a cadeia durante o dia e "trabalhar"na Câmara, o presidiário petista ficara a um sopro do estrondo.
Antevendo
o pior, operadores políticos de Dilma Rousseff entraram em cena para
evitar o último hálito. Companheiros do próprio PT fizeram ver a João
Paulo que o balão não estouraria senão na sua cara.
Súbito, o
preso se deu conta de que, ao esquecer de maneirar, desafiara a
capacidade do saco nacional de suportar a desfaçatez. Percebendo que já
enchera o bastante, João Paulo Cunha renunciou ao mandato de deputado. Parou de soprar.
Preso na Papuda desde terça-feira (4 de fevereiro), João Paulo Cunha apressou-se
em protocolar na Vara de Execuções Penais de Brasília um pedido para
trabalhar fora da cadeia durante o dia. Tem direito. Foi condenado pelo
STF a 9 anos e 4 meses de cana por peculato, lavagem de dinheiro e
corrupção passiva. O regime seria fechado. Mas como há um recurso
pendente de julgamento, a pena inicial é de 6 anos e 4 meses. No regime
semiaberto. O condenado precisa apenas dormir no xadrez.
Conforme a petição do doutor Alberto Toron, seu advogado, João Paulo deseja dar
expediente na Câmara. Natural. Já está acostumado com a rotina: semana de três
dias, salário alto e todas as vantagens que o dinheiro público é capaz
de pagar. Porém, em nome da reabilitação do preso, a Justiça precisa
indeferir o pedido. Diz-se que as penitenciárias brasileiras são escolas
do crime. Considerando-se o passado de João Paulo e dos seus
companheiros de cela, o Congresso é a universidade.
A confusão da
política brasileira começa no plenário da Câmara. Nenhum deputado senta
na cadeira. Fica todo mundo de pé, na frente da mesa. A atmosfera é de
boteco. Ou de pátio de penitenciária. Na melhor das hipóteses, dá em
anedota e cutucão na barriga. Na pior das hipóteses, termina em
mensalão, nunca em reabilitação.
De resto, João Paulo levaria para
a Câmara os vícios novos que vai adquirir na prisão. Com a autoridade
de ex-presidente da Casa, ele bateria na mesa e exigiria que as facções
governistas lhe fornecessem pequenos agrados. A turma do PMDB entregaria
maços de cigarro. O PT talvez providenciasse as últimas edições da
Playboy. Tudo isso diante das lentes da TV Câmara, na frente das
crianças.
Os jornais estampariam fotos inusitadas. As tevês
exibiriam imagens inimagináveis. De camburão, seu novo carro oficial,
João Paulo chegaria à Câmara para o primeiro dia fora do xilindró. No
plenário, lhe retirariam as algemas. A administração da Casa
providenciaria crachás especiais para os policiais. Que montariam guarda
nas portas de saída.
Tudo, no fim das contas, é uma questão de
compostura. É preciso ter linha. Convertido em escândalo no primeiro
reinado de Lula, o Congresso demonstrou que seu conceito de “linha” é
elástico. Mas convém maneirar. Ao negar-se a cumprir a determinação do
STF de impor aos condenados do mensalão a cassação automática, a Câmara
injetou tragédia no teatro. Agora, João Paulo quer introduzir galhofa na
tragédia. Quando os mensaleiros foram condenados, muita gente boa disse
que o futuro da nação seria melhor. Hoje, o brasileiro já sussurra para
os seus botões: “Se esse é o país do futuro, por favor, me arranjem um
do passado!''
Blog rafaelrag co m Josias de Souza
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