quinta-feira, 2 de maio de 2019

Sem dinheiro, centrais fazem evento unificado com discursos divergentes


Foto: Nelson Antoine (P)/Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O inédito ato unificado das centrais sindicais realizado nesta quarta-feira (1º) para celebrar o Dia do Trabalho não escondeu as divergências entre as entidades.
No palco montado no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, os líderes reforçavam a importância da união, mas alguns ouviram vaias pontuais de militantes de sindicatos rivais enquanto falavam.

O ato reuniu, segundo a organização, 200 mil pessoas.

Para garantir a presença de todas as entidades, foi definida uma pauta comum em defesa de direitos dos trabalhadores e crítica à proposta de reforma da Previdência do governo.

Vagner Freitas, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), disse que “a pauta é única, contra a reforma previdenciária”.

Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, é preciso reformar a Previdência, mas ele critica o plano do governo.

“Essa revisão não deve prejudicar os mais pobres. Esse projeto não respeita o valor do salário mínimo e não mexe em privilégios de servidores e militares. Vamos ver se ele [o presidente Jair Bolsonaro] vai ser macho com desembargadores e não só falar grosso com quem é pobre.”

Em outra frente, a UGT, segunda maior central em número de trabalhadores –fica atrás da CUT–, busca se aproximar do governo.

Conforme relatou a coluna Painel S.A., o presidente da entidade, Ricardo Patah, foi recebido por Bolsonaro na segunda-feira (29). Foi a primeira reunião entre o presidente e um líder de central sindical.
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A UGT é a única das dez centrais que organizaram o evento a não defender a convocação de uma greve geral programada para 14 de junho.

“Sou contra a greve e a favor do diálogo, por isso fui falar com o Bolsonaro. Acho que greve só deve ser usada quando o diálogo for exaurido”, disse Patah.

Em um ensaio de aproximação entre o governo e o movimento sindical, o ministro da Economia, Paulo Guedes, receberá Patah no dia 23 de maio para discutir a pauta da central para a reforma da Previdência.

O líder sindical, porém, não fez qualquer menção à reforma em seu discurso no Anhangabaú. Ele diz que foi pedir a Bolsonaro equilíbrio no que chamou de movimento para extinguir os sindicatos.

Para Juruna, as reuniões da UGT com o governo “são normais, não têm problema”.

Ele disse que “nenhum sindicalista vai para o tudo ou nada. O anúncio de greve é para quebrar a intransigência, fortalecer nossos deputados no Congresso e mostrar que estamos insatisfeitos”.

Freitas, da CUT, afirmou que foi a hostilidade do governo aos direitos trabalhistas favoreceu a união das centrais.

A necessidade de reduzir gastos também influenciou na organização de um evento só.

O imposto sindical foi extinto pela reforma trabalhista de Michel Temer (MDB), em 2017.

Uma medida provisória 873 editada neste ano piorou a situação dos sindicatos ao determinar que o pagamento da contribuição só poderia ser feito por meio de boletos, e não mais automaticamente.

“A luta dos trabalhadores sempre foi feita sem dinheiro. Sindicatos não são entidades financeiramente poderosas. Mas agora a CUT perdeu 85% do que arrecadava. Tem de se organizar politicamente”, afirmou Freitas.

O deputado federal Paulinho (SD-SP), ligado à Força, disse que trabalha para deixar caducar a MP.

Uma medida provisória tem 120 dias para virar lei. Segundo o deputado, restam 58 dias para que isso aconteça e ainda não foi instalada comissão especial para analisar o texto.

Em anos anteriores, as principais centrais organizavam seus próprios eventos separadamente e chegavam a realizar sorteio de carros e prêmios, além de shows de cantores famosos.

A Força, por exemplo, sorteou 19 Hyundai HB20 0 km em suas festas em 2014 e 2017.

No ato unificado deste ano, foram mantidos apenas os shows de artistas como Leci Brandão e Ludmilla.

Em seus discursos, líderes sindicais e políticos de esquerda criticaram a mudança da política de reajustes do salário mínimo. Disseram ainda que a reforma trabalhista não tem gerado empregos.

O catador de material reciclável Aparecido Roberto Machado, 69, não tem carteira assinada há 40 anos. Ele afirmou ter ido ao Anhangabaú por causa dos sorteios.

“Disseram que ia ter, mas até agora não vi nada. Estou sem o almoço, só com uma garrafa de água aqui na mochila”, disse. Ele afirmou que tenta se aposentar pelo INSS.

Já Ronaldo Pires Correia, 55, está desempregado há três anos. Antes, era supervisor de loja de shopping.

“Como eu só tinha o primeiro grau completo, decidi fazer o supletivo para tentar me recolocar, mas até agora nada”, afirmou. Hoje, faz curso técnico em telecomunicações.

Ele disse que consegue se manter fazendo bicos como pintor de paredes e assistente de eventos, além do auxílio da instituição de ensino em que estuda. “Por mês, dá para tirar uns R$ 700.”

A ambulante Vanessa Oliveira Jesus, 19, foi ao evento para vender água e bebidas.

“Estou aqui para arrumar um dinheiro para comprar as coisas para minha filha de cinco meses, mas o movimento não está muito bom”, disse. Por mês, ela afirmou lucrar R$ 500.

Vanessa contou que nunca chegou a trabalhar com carteira assinada. “A maioria dos lugares querem que a gente já chegue com experiência.”
(FOLHAPRESS)

Blog rafaelrag

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