As universidades de Portugal —país com uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa e uma população cada vez mais envelhecida— estão apostando nos estudantes estrangeiros, sobretudo brasileiros, como forma de preencher as vagas ociosas.
Nos últimos dez anos, a quantidade de alunos internacionais em instituições portuguesas praticamente dobrou. Houve uma alta de 95%, segundo estatísticas do setor.
Os estudantes brasileiros lideram o ranking. São mais de 12,2 mil alunos: quase a mesma quantidade que têm, somados, os outros quatro países do top 5 —Angola, Espanha, Cabo Verde e Itália.
Os estrangeiros são também uma cobiçada fonte de receita. Desde 2014, as universidades, inclusive as públicas, podem cobrar valores mais caros do que pagam os portugueses.
As instituições têm liberdade: algumas cobram o mesmo valor, enquanto outras praticam preços até sete vezes mais altos pelo mesmo curso.
Mas essa diferença não tem retraído os brasileiros.
O consulado de Portugal em São Paulo registrou um aumento de mais de 35% na solicitação de vistos de estudante em 2017, e 2018 deve ter ainda mais pedidos. Com tanta demanda, a demora pela documentação aumentou. No ano passado, houve quem perdesse o início do ano letivo devido ao atraso no visto.
As instituições de ensino, por sua vez, tentam facilitar cada vez mais a entrada dos brasileiros. Atualmente, 31 delas já aceitam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
A vontade de atrair brasileiros também cria novos produtos de olho nesse público.
A Universidade Nova de Lisboa, por exemplo, lançou um pré-semestre acadêmico destinado ao mercado internacional, com muita ênfase nos estudantes brasileiros.
Espécie de `test drive` dos cursos e do ambiente universitário, o pré-semestre garante um período de orientação e aulas de adaptação antes de começar a graduação para valer.
A ideia é que os alunos tenham contato com o ambiente acadêmico da Europa e se familiarizem com os diferentes cursos e a realidade de Portugal antes de baterem o martelo sobre que curso fazer.
`É um processo muito menos traumatizante para o aluno. Isso é muito mais fácil do que ele estar no Brasil e se candidatar para uma coisa que ele não conhece, vir para cá e ter de ficar quatro anos aqui`, diz o vice-reitor João Amaro de Matos.
Prestes a acabar seu pré-semestre, a carioca Carolina Nunes, 20, gostou de conhecer os cursos antes de se decidir.
`Eu gostei muito da experiência, porque a gente tem a oportunidade de conhecer e se adaptar um pouco mais antes de começar o curso para valer. Ainda mais por ser um país diferente e por ter uma forma de educação totalmente diferente da que nós temos no Brasil`, diz.
Natural de Vinhedo (SP), Gustavo Schliemann, 20, diz que um dos pontos positivos foi também estar mais próximo dos polos de tecnologia da área que quer seguir.
`Quero fazer engenharia biomédica e isso é muito mais forte aqui na Europa do que no Brasil. Além disso, as empresas que contratam mesmo ficam principalmente aqui.`
Pioneira na incorporação do Enem, em 2014, a Universidade de Coimbra é a mais brasileira entre as universidades estrangeiras. São mais de 2.000 alunos, entre graduação e pós-graduação.
Segundo a instituição, a demanda dos brasileiros pela universidade tem sido tão grande que quase 500 interessados não foram admitidos.
A Universidade do Algarve também tem uma comunidade brasileira expressiva: são mais de 600 estudando lá.
O número de brasileiros cresceu 59% de 2017 para 2018, sendo ainda mais acentuado nos mestrados: uma alta de cerca de 103%, em 35 cursos diferentes.
Fonte: UOL Educação, Giuliana Miranda, 04.06.2018
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