quarta-feira, 22 de maio de 2024

Soledade e Minervina – poesia, viola e cantoria. Veja o vídeo





 Foi aos dezenove anos, conservando a mesma paixão pelos repentes, que ela assumiu a profissão de cantadora. Rebelou-se contra a vontade de seus pais e o preconceito da família e da comunidade, foi atrás de realizar o seu sonho.

Trilhar o caminho da cantoria não foi fácil, mas com seu talento e teimosia, aos poucos, Soledade foi superando os obstáculos. Encontrou em Minervina Ferreira sua parelha dos palcos. Pedagoga e repentista, esta talentosa violeira de Cuité (PB) era filha de parteira e rezadeira, mas a música também corria nas veias de sua família: Minervina era irmã de violeiro.

A parceria com Minervina Ferreira (in memoriam) durou mais de trinta anos. Com a viola e a literatura de cordel, participaram de festivais de repentistas, deixaram a força e a marca da voz feminina, afirmando que mulher também é boa na arte do repente. Foram premiadas, reconhecidas e respeitadas. Juntaram-se a outras repentistas, inspirando muitas mulheres artistas a perseguirem seus sonhos. 

Nos anos de 1980, aconteceram diversos encontros de mulheres cantadoras. “Não deixávamos os homens competir, [participavam] apenas como convidados. Por isso, diziam que eram encontros feministas”, lembra Soledade.

Maria da Soledade gravou quatro CDs: Mulheres no repente – volumes I e II, e As vozes que se misturam –  volumes I e II, estes gravados com os poetas Santino Luiz, Agamenon Santos e a poetisa Minervina Ferreira. Publicou o livro Soledade: uma antologia (Editora Arribaçã) com cinco de seus inúmeros cordéis: O período da adolescênciaPor que Lula na PrisãoA namorada de JacksonO milagre de Santo AntonioDois corações e um segredo. 

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Por onde passavam, as repentistas eram bastante aplaudidas e elogiadas e tornaram-se referência das poetisas do Nordeste do Brasil. Mas, para tristeza de muita gente, aos 80 anos de idade, em 28 de abril de 2023, Minervina Ferreira disse adeus à cultura brasileira e encantou-se. A amiga Soledade e diversos/as violeiros/as choram a partida desta grandiosa mulher repentista. Mas o choro foi acalentado no evento “Na noite de poesia, em homenagem a Minervina Ferreira”, organizado por Bibiu do Jatobá e Maria da Soledade, em Alagoa Grande, PB, no dia 17 de fevereiro de 2024.

A partida da amiga e parceira de viola e do repente deixou um enorme vazio na vida de Soledade, como ela mesmo relata: “perdi a outra metade da viola”. E enfatiza: “irei seguir com o legado do repente, levando para todos os cantos, porque nossa história é exemplo principalmente para a nova geração”.


O homem malvado está queimando

Nossa Mãe Natureza está cobrando
Tudo quanto foi destruído dela

Os rios, riachos e vertentes
Vem o rico malvado destruindo
Faz barragem, destrói e sai sorrindo
Sem olhar para os pobres tão carentes
Vão matando de fome os inocentes
Nem um peixe se ver na fonte bela
A pobreza gritando na favela
Os ricos em palácios gargalhando

Nossa Mãe Natureza está cobrando
Tudo quanto foi destruido dela

Minha Eterna Companheira

Criança , jovem e mulher.
Artista e simpatizante
Tomei gosto pela luta
Achando ser importante
Abraçei essas bandeiras
Não me arrependo
Um instante

Na luta fui militante
No Sindicato guerreira
Na Arte sou repentista
Cordelista e violeira
A viola é minha arma
Minha fiel companheira

Subi e desci ladeira
Com a viola abraçada
Pasava a noite cantando
Findava na alvorada
Estou com 80 anos
Inda não estou cansada

A minha viola amada
Não tem a cor amarela
Não é viola do ano
Mais pra mim é a mais bela
Deito ela no meu colo
E canto no braço dela

Essa viola é aquela
Que faz parte do meu eu
Que ninguém venda nem troque
Esse velho pinho meu
Por morte minha viola, irá ficar no museu

É esse o desejo meu
À minha última vontade
Se netos e nem bisnetos
Pra arte sentir vontade
O Museu ganha a viola
De Maria Soledade


Fonte de imagens: arquivos pessoais de fotos de Maria da Soledade Leite e Soraia Jordão.

Fontes de pesquisas: informações cedidas por Maria da Soledade Leite e recolhida do livro Maria Soledade Leite – Nossa História em Poesias, organizado por Maria Ignes Novaes Ayala e Josélio Paulo Macário de Oliveira (2016); site: https://www.polemicaparaiba.com.br/entretenimento/minervina-ferreira-a-cultura-paraibana-chora-a-morte-da-grande-violeira-repentista/

 Blog rafaelrag


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