Foi aos dezenove anos, conservando a mesma paixão pelos repentes, que ela assumiu a profissão de cantadora. Rebelou-se contra a vontade de seus pais e o preconceito da família e da comunidade, foi atrás de realizar o seu sonho.
Trilhar o caminho da cantoria não foi fácil, mas com seu talento e teimosia, aos poucos, Soledade foi superando os obstáculos. Encontrou em Minervina Ferreira sua parelha dos palcos. Pedagoga e repentista, esta talentosa violeira de Cuité (PB) era filha de parteira e rezadeira, mas a música também corria nas veias de sua família: Minervina era irmã de violeiro.
A parceria com Minervina Ferreira (in memoriam) durou mais de trinta anos. Com a viola e a literatura de cordel, participaram de festivais de repentistas, deixaram a força e a marca da voz feminina, afirmando que mulher também é boa na arte do repente. Foram premiadas, reconhecidas e respeitadas. Juntaram-se a outras repentistas, inspirando muitas mulheres artistas a perseguirem seus sonhos.
Nos anos de 1980, aconteceram diversos encontros de mulheres cantadoras. “Não deixávamos os homens competir, [participavam] apenas como convidados. Por isso, diziam que eram encontros feministas”, lembra Soledade.
Maria da Soledade gravou quatro CDs: Mulheres no repente – volumes I e II, e As vozes que se misturam – volumes I e II, estes gravados com os poetas Santino Luiz, Agamenon Santos e a poetisa Minervina Ferreira. Publicou o livro Soledade: uma antologia (Editora Arribaçã) com cinco de seus inúmeros cordéis: O período da adolescência; Por que Lula na Prisão; A namorada de Jackson; O milagre de Santo Antonio; Dois corações e um segredo.
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Por onde passavam, as repentistas eram bastante aplaudidas e elogiadas e tornaram-se referência das poetisas do Nordeste do Brasil. Mas, para tristeza de muita gente, aos 80 anos de idade, em 28 de abril de 2023, Minervina Ferreira disse adeus à cultura brasileira e encantou-se. A amiga Soledade e diversos/as violeiros/as choram a partida desta grandiosa mulher repentista. Mas o choro foi acalentado no evento “Na noite de poesia, em homenagem a Minervina Ferreira”, organizado por Bibiu do Jatobá e Maria da Soledade, em Alagoa Grande, PB, no dia 17 de fevereiro de 2024.
A partida da amiga e parceira de viola e do repente deixou um enorme vazio na vida de Soledade, como ela mesmo relata: “perdi a outra metade da viola”. E enfatiza: “irei seguir com o legado do repente, levando para todos os cantos, porque nossa história é exemplo principalmente para a nova geração”.
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