O paraibano Joaquim Davi da Silva Neto, conhecido como Joca dos Galos, sobrevive do artesanato de resíduos descartados desde 2000.
Alguns objetos são considerados lixo descartável para a maioria da população, mas para os artesãos são produtos que podem ser reutilizados como matéria-prima para transformar lixo em arte. Com isso, o artesanato passa a ser um grande referencial de uma reciclagem com responsabilidade ecológica, beleza e qualidade das peças produzidas e comercializadas, conforme explica a gestora do Programa de Artesanato da Paraíba (PAP), Lu Maia.
"A gente está incentivando o uso responsável das matérias-primas e o que se tem observado é que os artesãos tiram muita coisa do lixo, que são reaproveitadas e transformadas em peças artesanais belas, de muita qualidade e que preservam nossa identidade cultural. Os artesãos paraibanos que trabalham com metal, por exemplo, utilizam 100% de matéria-prima da reciclagem de sucatas", complementa.
Joaquim Davi da Silva Neto, conhecido como Joca dos Galos, é um desses artesãos cuja arte flui de ideias que dão vida ao que parecia não ter mais nenhuma utilidade: as latas jogadas nos lixões impactando o meio ambiente, que se transformam em matéria-prima para o surgimento de belas peças artesanais, a exemplo de galos, pavões, araras, papagaios, tucanos e outras aves.
"Eu tenho 52 anos, trabalho e sobrevivo do artesanato desde o ano 2000. Sou casado e tenho dois filhos. Trabalho com latas de óleo, leite, todo tipo de lata, que consigo no lixão, ou compro aos catadores. Recorto tudo, soldo com ferro quente e depois pinto com tinta acrílica, que é para a lata não enferrujar. Invento pássaros da minha cabeça e considero o artesanato minha vida e o sustento da minha família", comenta.
Segundo informa Joca dos Galos, as peças artesanais são criadas por encomenda, já com venda certa. "Às vezes mando as peças para o Rio de Janeiro e São Paulo, mas no Brasil todo já tem peças minhas. Quando tem o Salão de Artesanato Paraibano, o pessoal do governo leva e expõe minhas peças lá. Esse trabalho me deixa feliz por conta da aceitação e porque ajudo a preservar o planeta, reciclando latas usadas, que antes eram consideradas lixo e hoje são peças aceitas como arte", comemora o artesão paraibano, que nasceu e reside em Bayeux.
Tudo que pode ser reutilizado e reciclado não é lixo
O Brasil gera 194 mil toneladas de lixo por dia, a maioria reciclável, segundo dados do IBGE. Na verdade, tudo o que pode ser reutilizado e reciclado deve ser chamado de resíduo e apenas o que não tem mais possibilidade de reutilização e reciclagem é que deve ser considerado lixo.
Para o professor e coordenador do projeto de extensão Apoio à Inclusão Digital (AID) do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), Renato Leite, já faz muito tempo que, em logística reversa, não se chama mais lixo eletrônico de lixo, se chama de resíduo, justamente por essa questão de que o lixo é o último subproduto do resíduo, aquilo que realmente não funciona ou não serve para mais nada. "Resíduo é o primário, é o que sai da cadeia consumidora e adentra na cadeia de logística reversa. Lá dentro, vai virar lixo apenas aquilo que não tem uso. Vai para aterros, vai para ser incinerado, ou algo do tipo, mas aquilo que tem reúso é resíduo", explica.
O projeto de Apoio à Inclusão Digital do Unipê reaproveita peças de resíduo eletrônico, monta microcomputadores e os doa a pessoas sem condições de ter acesso às novas tecnologias da informação. E assim, monitores, teclados, CPUs e outros componentes de computadores usados e que iriam para o lixo são submetidos a minucioso trabalho de restauração executado por alunos dos cursos de Ciência da Computação, Gestão da Tecnologia da Informática e Sistemas para Internet, que constroem novas máquinas ou recuperam máquinas doadas por empresas e instituições.
Blog rafaelag com o jornal A União
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