"Noticiador - Noticiado” é o segundo livro da escritora e jornalista paraibana Ana Lúcia Medeiros
É senso comum que as redes sociais, oriundas a partir do advento da internet, vieram para ficar, pois são consideradas imprescindíveis na sociedade contemporânea. No entanto, o uso disseminado dessas ferramentas digitais contribuiu para intensificar um movimento que já se percebe na televisão brasileira: a de que o apresentador do telejornal, antes isento no ato de comunicar a informação, agora também passa a aparecer em outras mídias, a ponto de ganhar status de celebridade. Essa constatação foi feita pela jornalista e escritora paraibana Ana Lúcia Medeiros, em tese de doutorado que se transformou no livro, o segundo de sua autoria, intitulado "Noticiador - Noticiado: Perfis de jornalistas numa sociedade em midiatização" (Editora Insular, 208 páginas, R$ 39), que ela lançará na próxima terça-feira, dia 31, a partir das 19h30, no Café Galeria, localizado no bairro de Manaíra, em João Pessoa. A obra contém 11 entrevistas que a autora realizou com profissionais conhecidos e que se destacam pelo trabalho que desenvolvem na TV.
“Esse livro analisa as transformações que acontecem na mídia e na sociedade, mas com a intensa participação das redes sociais. O que percebi é que um personagem, antes isento, passou a aparecer, passou a ser uma celebridade. O jornalista, especialmente o da TV brasileira, é celebridade por estar na mídia com seus gestos, ações e modo de ser, aparecendo nos blogs, nas redes sociais, nas capas de revistas e no espaço do telejornal, transmitindo e como notícia. Um exemplo é Rosana Jatobá, a moça do tempo, que ocupou 1min42s, quando deveria ter 45 segundos, para falar de quanto tempo falta para a chegada dos seus próprios gêmeos, em vez de falar sobre a previsão do tempo. No diálogo com os dois apresentadores, Fátima Bernardes e William Bonner, elas se colocam como mães, mulheres bem sucedidas, ricas e bonitas, num espaço nobre, muito caro, falando sobre maternidade. A imagem do jornalista não é mais associada apenas à notícia. É associada também a si, a sua vida pessoal. O jornalista passa a aparecer como notícia, pois a sua vida pessoal passa a gerar interesse para internautas e leitores, algo que era próprio de artistas, reis, rainhas, atletas e, hoje, está aparecendo para o jornalista e, por isso, o título Noticiador - Noticiado”, disse para o jornal A União a autora do livro, Ana Lúcia Medeiros, para quem a tradicional imagem do jornalista que se apaga, ante a objetividade da informação apresentada - ou seja, a chamada objetividade jornalística, que pede o distanciamento do jornalista em relação ao fato noticioso - vem sofrendo transformações.
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As entrevistas com Tadeu Schmidt, Caco Barcellos, Rachel Sheherazade, Ticiana Villas Boas e Rosana Jatobá dão corpo à obra. Já as realizadas com Alexandre Garcia, Juca Kfouri, Francisco José, Beatriz Castro e Malu Fontes fazem parte de um trabalho preliminar, que permitiu o avanço das observações sobre as particularidades dessa profissão que sofre transformações à medida que a sociedade passa a interagir como coautora nos processos midiáticos, em constante movimento que dá sinais de estar longe de terminar.
“Na sociedade em que vivemos não existe mais um padrão específico para que um jornalista de televisão torne-se uma celebridade. Pode se tornar celebridade a partir do horário em que está no jornal, no comentário. Existem jornalistas celebridades locais e nacionais. Não é porque a apresentadora é bonita, apenas, pois a TV exige padrões, mas pelo que faz. Essa dinâmica se evidencia com o aparecimento dos profissionais de jornalismo diante das câmeras de TV e ganha ainda mais força com os movimentos que são provocados pelas redes sociais”, observou Ana Lúcia, que ficou intrigada e resolveu pesquisar essas transformações observáveis nas bases da mídia e da sociedade, daí resultando o trabalho de doutorado que realizou e defendeu na Universidade de Brasília (UnB) e na Universidade de Rennes - 1, na França, em 2013.
Dos 11 profissionais, que atuam em emissoras de TV de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Salvador, seis foram entrevistados por e-mail: Juca Kfouri, Francisco José, Alexandre Garcia, Beatriz Castro, Giácomo Mancini e Malu Fontes. A autora conversou pessoalmente com Caco Barcellos, Rachel Sheherazade, Rosana Jatobá, Tadeu Schmidt e Ticiana Villas Boas. “Em nenhum momento a imagem desses jornalistas foi denegrida”, garantiu a escritora da obra, que aborda os processos de mudança nas lógicas jornalísticas e nas relações que se estabelecem entre jornalistas famosos e seus circuitos de interação, os internautas e telespectadores, que consomem e, ao mesmo tempo, retroalimentam a mídia com informações.
“Mostro que cada um deles tornou-se famoso por alguma razão associada ao trabalho que desenvolvem na TV e, obviamente, são famosos por estarem na TV”, acrescentou ela, para quem “o que se manifesta, como curioso, é que não há um perfil específico do jornalista que adquire o status de celebridade nem um padrão determinado que estabeleça critérios para que um jornalista se torne conhecido. Cada entrevistado tem, em suas singularidades, a marca que o faz um profissional famoso e, também, cada um deles reage de uma maneira particular aos processos da fama”, acrescentou Ana Lúcia Medeiros. “Um dos movimentos que observei nesse trabalho é que as redes sociais assumem papel fundamental nessa celebrização dos jornalistas. Ser celebridade não está associado a ser vulgar, efêmero, mas estar na mídia com sua história também pessoal, e não só profissional”, disse ela.
Sobre a autora - Jornalista, formada pela Universidade Federal da Paraíba, Ana Lúcia Medeiros também é doutora e mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e fez doutorado-sandwich na Université de Rennes-1, na França. Ela lançou seu primeiro livro, intitulado Sotaques na TV, em 2006, foi repórter colaboradora do Jornal da USP, trainee em televisão, exerceu as funções de ombudsman e repórter da Secom/UnB e, durante o período em que foi professora na Universidade Católica de Brasília (1999 - 2006) e professora substituta na Universidade de Brasília (2006 - 2008), idealizou e coordenou as agências de comunicação OPN (UCB) e Facto (UnB).
Blog rafaelrag com o portal A União
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