sexta-feira, 6 de julho de 2012

ALAGOA GRANDE. ÚLTIMAS MÁQUINAS DA OFICINA DO ALEMÃO SÃO REMOVIDAS DO LOCAL


Alagoa Grande vive momentos de tristeza ao ver as últimas máquinas da Metarlugia GEKADE, mais conhecida como oficina do Alemão, ser retirada para um depósito do seu atual dono.

A metalurgica que que foi erguida pelo alemão George Kaspar Deininger contribuiu bastante para o desenvolvimento do municipio, hoje é apenas ruinas, com quase toda sua estrutua desmoronada e sem mas nenhuma esperaça de vê-la ativada e gerando dezenas de emprego, agora só resta saudades.

Veja as fotos tiradas ontem, terça-feira (03) no período da tarde da remoção das últimas máquinas exitentes no local e no final leia a história desse alemão que mudou a história industrial da região.















UMA BREVE HISTÓRIA DE COMO SURGIU A OFICINA DO ALEMÃO

O município de Alagoa Grande, na região do Brejo, situado a 96 Km da Capital, possui uma história que pode ser dividida como nos períodos antes e depois de George Kaspar Deininger. E quem foi este personagem que deixou descendentes no interior da Paraíba e implantou inovações tecnológicas que, na época, para o povo da terrinha, se constituíam em fantásticas novidades? Basta ler o resto da reportagem, para que tudo venha à tona, da forma mais clara possível.George Kaspar Deininger era um engenheiro mecânico alemão, que ingressou na Marinha Imperial de seu país e foi destacado como membro da manutenção de um submarino de guerra. Consta que ele teria desertado, quando a embarcação chegou à costa do Brasil, aí pela década de 1920. Parte dessa história é contada por uma das filhas do galego, Marisa Deininger Nascimento, 74 anos, que mora no local conhecido como Usina Conde, em Alagoa Grande, numa alameda onde só residem membros da família.
De acordo com Marisa, George destacou-se na nova terra, justamente por ser detentor de uma mão-de-obra rara no Brasil de então, a mecânica de engenhos industriais. E por criar coisas úteis para os senhores de engenho locais, que chegavam a gastar fortunas contratando técnicos do Recife para consertar caldeiras e moendas. "Papai dava jeito em tudo isso no próprio engenho, bastando que o interessado comprasse algumas peças. Quando a peça não existia à venda, ele a fabricava", lembra Marisa.
Gaspar chegou em Rio Tinto, onde já existia uma casta de tecelões alemães, por volta de 1921. Depois, convidado por um casal de patrícios, que possuía uma bem equipada oficina, transferiu-se para Alagoa Grande. Após algum tempo de próspera parceria com o casal alemão, ele resolveu casar-se com Maria do Carmo, uma das filhas do barão de Mamanguape, o histórico Joaquim da Silva, avô de Marisa Deininger.
Já falando um português fluente e acostumado às lides da nova terra, Kaspar foi bem acolhido pela sorte e ganhou razoável herança do sogro. Com dinheiro bom na mão, ele comprou a oficina do casal de patrícios e tratou de modernizá-la, introduzindo, no seu acervo, máquinas de desfibrar agave e outras coisas que iriam melhorar a operacionalidade dos engenhos e usinas de açúcar da região do Brejo, às quais prestava assistência técnica, com muita eficiência e prestimosidade.
Kaspar, que era de uma criatividade fora do comum, também fabricava e consertava desfibradores de agave e algodão, destiladores e moendas. Seu português sem sotaque facilitava o entendimento com os empresários nativos. Aos poucos, foi se integrando aos hábitos da terrinha que o acolheu e onde deixou lembranças inesquecíveis. No Colégio São José, por exemplo, ele montou um galo que girava no alto de uma torre. A alegoria chamava a atenção de quem passava na rua. Não tinha utilidade prática. Era apenas um desenho de metal, que rodava ao sabor do vento.
Também em Alagoa Grande, onde a opulência proporcionada pelo agave, algodão e cana-de-açúcar contribuiu para a instalação do Teatro Santa Inês, um lazer exigido pela aristocracia rural, Kaspar instalou, pioneiramente, uma fundição de ferro, hoje dirigida pelo seu neto, Murilo Kaspar Deininger Filho. Murilo Neto ainda conserva a fundição, apenas para consertar ou retificar os artefatos de bronze dos engenhos e usinas. Na terra que o adotou, Kaspar só falava alemão se encontrasse com quem. Falar corretamente o português chegou a ser a sua maior preocupação.

Da união de Kaspar com Maria do Carmo nasceram Marisa, Bavária, Jonas, Carlos, Arlindo e Milton - os três últimos já morreram. Por serviços estratégicos prestados à nova pátria, Kaspar foi condecorado com o título de cidadão brasileiro, entregue em suas mãos, no Palácio do Catete (RJ), pelo próprio Getúlio Vargas, no final da década de 1940. Daí por diante, seu passaporte passou a ter cidadania única, a brasileira, pois Kaspar já estava inteiramente absorvido pelos hábitos e costumes do Nordeste. Nos dias atuais, Marisa e Bavária, duas filhas do alemão que nunca se interessaram em aprender a língua paterna, guardam essas lembranças em fotos amareladas, zelosamente embaladas numa caixa de papelão.
Marisa e seu filho Roberto José Deininger ainda são donos de uma área de aproximadamente 20 hectares no centro de Alagoa Grande. Aqui foi construída a alameda privativa da família. Filhos, netos e bisnetos de Kaspar, também não se interessaram pela língua que seu ascendente trouxe da Europa, com exceção de Milena, neta de Marisa, que se mantém neste objetivo há pelo menos cinco anos.
"Papai gostava de ler e presenteava os filhos com livros", diz Marisa. A paixão do alemão era a leitura técnica. Não era católico praticante, mas costumava pedir a Marisa para rezar por sua alma, quando a filha ia à igreja, assistir às missas dominicais. Entre os muitos serviços que prestou em Alagoa Grande, Kaspar dava manutenção ao motor da luz que funcionava na cidade. As luzes eram apagadas às 22 horas. E esta rotina permaneceu até a década de 1960, quando Alagoa Grande foi beneficiada com a energia elétrica fornecida pela Chesf.
Bonachão, sorridente e com um coração sempre cordial, Kaspar não tinha muito apego material aos bens que havia adquirido. Certa vez emprestou o seu carro a um amigo, para uma viagem até Areia, o município vizinho. O veículo despencou serra abaixo e acabou-se. Não havia conserto. O alemão aceitou as desculpas nervosas do amigo, não cobrou o prejuízo e, daí por diante, passou a andar a pé. E permaneceu assim até a morte, em 1982. "Vou lutar para resgatar a história completa de meu pai e seus ascendentes na Alemanha", revela Marisa. Ela não lembra, com muita exatidão, algumas datas, nomes ou acontecimentos.
A fundição da família Deininger, hoje, mudou pouco. Faz retíficas de peças de usinas e engenhos e trabalha o bronze para diversos fins. Os métodos permanecem tão originais quanto os que Kaspar introduziu em Alagoa Grande, ao comprar a oficina do casal amigo. As atividades exploradas pelos membros mais jovens da família atualmente são diversas. Marisa não lembra quais.
Sobre o pai, ela memoriza pelo menos 85% das coisas que ele realizou, dizia ou praticava. Não se sabe por que, mas o alemão gostava de ler e reler o livro Máquinas da Democracia, de Roger Bulingame. Nunca se interessou por política. E falava pouco do passado que deixara para trás, na Europa conturbada dos anos vinte. Nas fotos guardadas por Bavária e Marisa, Kaspar aparece como um jovem marujo sorridente, ora ao lado da tripulação de seu submarino, ora em festa em grupo, talvez com familiares.
Marisa relembra que seu pai gostava muito de falar em navios de guerra. Ela mostra fotos de destróiers, contratorpedeiros e fragatas alemães em mar aberto. E de um avião caindo em parafuso, atingido por um canhão anti-aéreo. Kaspar, com a calma que lhe era muito peculiar, apontava as fotos com o dedo e explicava: "São coisas de lá, minha filha, que ficaram para trás".
Saiba mais!
Alemão da Baviera
George Kaspar Deininger nasceu numa cidade da Baviera. Em Alagoa Grande, popularmente era conhecido por "Jorge alemão". Procurando se integrar aos costumes da nova terra, não ralhava com quem pronunciava seu nome teutão errado. Até hoje, em Alagoa Grande, os Deininger (leia-se Dáiningar), são conhecidos como os Deinínger, uma pronúncia bem aportuguesada, embora pouco sonora, por derivar de uma língua germânica. Em Rio Tinto, a poucos quilômetros de distância, os alemães operários da fábrica de tecidos não se miscigenaram com a população local, nem levavam o português para o âmbito de suas famílias. Kaspar fez o caminho contrário e gerou descendentes que se adaptaram melhor aos hábitos, usos e costumes latinos, por sinal bem brasileiros.
Hilton Gouvêa

Blog rafaelrag
Ciências e educação

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