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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Colunista comenta sobre a partida do jornalista Chico Maria


“Olá seu Chico”. A saudação recorrente não era impositiva, mas reverencial.

Tive pouca convivência com o advogado, delegado, jornalista e escritor Francisco Maria Filho, que ontem nos deixou.

Os contatos eram esporádicos, fruto de encontros nas dependências da Rede Paraíba de Comunicação, na qual trabalhamos por muitos anos.

Ele gostava de ir levar pessoalmente à redação do JP as crônicas que escrevia duas vezes por semana.

Posteriormente, quando ele passou a residir em João Pessoa, os encontros casuais aconteceram nas dependências da TV Cabo Branco.
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Certa vez, com o seu jeito, ao mesmo tempo carinhoso e sisudo, deparou-se comigo e exclamou:

“Gosto de ler Aparte”.

Muito da trajetória do ´Seu Chico´ me foi contada por amigos comuns, a exemplo de William Monteiro (saudade permanente) e o advogado Enriquemar Dutra nas memoráveis conversas da Praça da Bandeira (centro de Campina), que começavam pela noite e tocavam a madrugada.

“Meu amigo Chico Maria, agora navegante das estrelas, voando para Deus, que é fonte de vida. Seja como for, deixou-nos uma obra que documenta a sua vida e a nossa vida”, escreveu Dutra, ontem, ao compartilhar a despedida do amigo.

Chico Maria consagrou um estilo ímpar de entrevistar, que tomava por empréstimo a incisividade e a objetividade da fase anterior, quando foi delegado de polícia.

Esse programa de entrevistas – chamado Confidencial – marcou época na imprensa regional e nacional pelas declarações impactantes que recolheu e pelas personalidades que entrevistou numa época de cerceamento da liberdade de expressão (ditadura militar).

Algumas dessas antológicas entrevistas estão imortalizadas na ´atemporalidade´ do papel, a exemplo das realizadas com o escritor Ariano Suassuna, com o teólogo Leonardo Boff, com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, com o marcante líder político Luís Carlos Prestes e o lendário arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.

O livro ´Confidencial Entrevista´ foi lançado pela Editora da UEPB.

O seu lançamento é inesquecível para este colunista, devido à dedicatória que escreveu em meu exemplar: “Ari, como jornalista, ele sabe de tudo: culto, sóbrio, honesto e a melhor expressão do jornalismo nessa região do Nordeste”.

Francisco Maria Filho, que nos deixou aos 92 anos, ocupava a cadeira de número 36 na Academia de Letras de Campina Grande, cujo patrono é Raymundo Asfora.

A saudação de acolhida foi feita pelo acadêmico e jornalista Geovaldo Vieira de Carvalho.

“Como cronista, Chico Maria foi insuperável na cidade. Um poder de síntese incomum (…) Seus textos sempre conduzidos com a maestria lírica dos poetas, porém sem perder a capacidade analítica de quem se aproxima da ciência, aliado a um toque de ironia, deleitam seus leitores”, realçou Geovaldo, que ontem resgatou o texto que escreveu saudando há dois anos o 90º aniversário de ´seu Chico´.

O renomado jurista brasileiro Hélio Bicudo, que foi entrevistado no ´Confidencial´, assim qualificou o entrevistador: “Perguntas objetivas, às vezes até contundentes, mas não desrespeitosas”.

A melhor maneira para se despedir de Chico Maria talvez seja a frase com a qual arrematou o seu discurso de posse na Academia campinense, se reportando ao patrono Asfora: “Voa alto, bem alto, até cair nos braços da eternidade”.

*com informações da coluna Aparte, assinada pelo jornalista Arimatéa Souza.


Blog rafealrag/Paraibaonline

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