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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O lento suicídio da cidade de Nova York


Desabrigado dorme em frente a um teatro fechado na Broadway, em Nova York.


“A cidade vista da Queensboro Bridge é sempre a cidade vista pela primeira vez, em sua primeira promessa selvagem de todo o mistério e beleza do mundo.” 
F. Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”.


Nova York está cometendo suicídio?


Essa é uma pergunta justa após a implacável pandemia que sufoca as principais cidades americanas. A Big Apple está infestada de desemprego, atingindo o pico com uma taxa de 20% neste trimestre, o dobro do índice nacional. Quer mais números sombrios? Pode escolher: cerca de 1,2 mil restaurantes fecharam definitivamente desde março. A cidade tem cerca de 600 mil empregos a menos do que no ano passado. Cerca de um terço das pequenas empresas nova-iorquinas podem nunca reabrir.


Mas, claro, não se trata apenas de números. É a vitalidade da cidade que foi derrubada. O turismo é praticamente uma coisa do passado. Hotéis jogados no lixo. A Broadway permanece escura. Prédios comerciais são apenas espaços vazios.

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A Autoridade de Transporte Metropolitano, que opera os metrôs, está sofrendo uma hemorragia de US$ 200 milhões por semana. Parece que ninguém vai a lugar nenhum. Dê uma olhada nas plataformas de praticamente qualquer estação de metrô: uma cidade fantasma.


Imagine a destruição que está ocorrendo na base tributária da cidade.


Esqueça o tráfego de pedestres. A vida noturna está praticamente acabada. A movimentação de pessoas no centro de Manhattan? Desaparecendo.


A Nova York do imaginário está perdida. A cidade sempre foi baseada na fantasia coletiva. O sucesso à la Sinatra. A disputa das corridas de rua. O oásis do Central Park com seus cantos e recantos. A mistura borbulhante de diversidade e grandeza.


Uma atividade favorita: caminhar pela Broadway, parar para comer um cachorro-quente no Gray's Papaya, comer uma fatia na Famous Original Ray's Pizza, ouvir fragmentos de discussões, de paixões, de cabalas sendo formadas ao longo da ampla avenida, de uma extremidade a outra da cidade. Podemos chamar de entretenimento espontâneo em movimento. Não nos esqueçamos, esta é a cidade que resistiu ao 11 de setembro. É a cidade onde George Washington orou a Deus ao se tornar o primeiro presidente desta república.


Enquanto isso, o prefeito Bill de Blasio e o governador Andrew Cuomo continuam a impor várias restrições por Covid-19 a viagens, jantares e circulação de pessoas. Se a pandemia não matar Nova York, a reação a ela pode.


A cidade nunca foi resumida a seus arranha-céus elevados; sempre foi sobre seu povo imponente. Mas as pessoas estão sendo rejeitadas em massa. Outras estão fugindo em massa.


Os dias sombrios do início do Covid-19 não estão mais afetando a cidade; na verdade, Nova York conseguiu manter o número de infecções baixo por vários meses. Mas mesmo reprimindo o número de casos de coronavírus, a cidade testemunhou o crescimento de outro problema: um aumento surpreendente de tiroteios e outros crimes violentos.


As vítimas de tiros aumentaram 81% e os incidentes com tiros aumentaram 76% de 1º de janeiro a 2 de agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Departamento de Polícia de Nova York. Os recentes motins e saques lançaram uma nuvem sombria sobre a cidade como não víamos há meio século.


A última vez que o município ficou tão perigoso foi quando estava financeiramente destituído na década de 1970, quando, se você desse um passeio pela Times Square, poderia ver um corpo inconsciente caído na calçada, enquanto pessoas despreocupadas desviavam de pisar nele. Mas mesmo a Nova York daqueles tempos difíceis não era tão ruim quanto agora.


O que aconteceu com a “capital do mundo”? A “Roma do século 21”? O centro da cultura, mídia, finanças, teatro, gastronomia, moda. Um artigo recente do New York Times declarou: “Seria o fim de Nova York?”


O que está acontecendo com Nova York está acontecendo com outras grandes cidades dos EUA – e, para cada uma delas, em grande parte não se trata de um evento de saúde pública. É uma decisão consciente sobre como vivemos e o que fazemos.


Se, com o início do outono, pudermos enviar as crianças de Nova York de volta ao maior sistema escolar dos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de alunos, certamente encontraremos uma maneira de abrir grande parte do restante da cidade.


Aqui está o que achamos que precisa acontecer para ressuscitar a cidade, com cuidados adequados:


Abrir todos os restaurantes.
Abrir a Broadway.
Abrir museus e outras instituições culturais.
Abrir todas as igrejas.
Já que estamos nisso, a cidade deve cortar os preços do metrô e de outros transportes públicos pela metade.


Assim como o governo federal tem feito, a cidade deve instituir incentivos fiscais e de folha de pagamento para fazer a cidade voltar a funcionar. E, finalmente, deve lançar uma campanha, algo nos moldes “Nova York Está de Volta”. Deve rivalizar com o slogan “Eu Amo Nova York”, que se originou na década de 1970, durante a última crise épica da cidade.


O que precisamos agora é coragem política, não arrogância. É uma decisão humana salvarmos ou não a cidade.


* Eric Kampmann é editor em Nova York há cinco décadas.
** Alec Klein, que cresceu em Nova York, foi repórter do The Washington Post e do The Wall Street Journal; é autor do novo livro “Aftermath”.

Por Eric Kampmann* e Alec Klein**
Daily Signal


Blog rafaelrag

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