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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sem chuvas, Paraíba pode enfrentar colapso de água no segundo semestre de 2016


Todo o volume de água atual dos reservatórios do estado representa apenas 16% da capacidade total de armazename

Divulgação/RCTV
Francisco Sarmento e João Fernandes, na RCTV
A situação da falta de água em mais de 75% dos municípios da Paraíba pode se tornar ainda mais crítica e, caso não chova como o necessário, o estado corre o risco de sofrer o maior colapso de água da história ainda no primeiro semestre do próximo ano. Hoje, todo o volume de água dos reservatórios do estado representa apenas 16% da capacidade total. 



A projeção é do ex-secretário de Recursos Hídricos do Governo do Estado, Francisco Jácome Sarmento. “Se o ano vindouro for igual a 2015, nós teremos o maior colapso da história do Nordeste”, afirmou o ex-secretário, em entrevista ao programa 'Rede Debate', da RCTV (canal 27 da Net Digital, emissora do Sistema Correio) nessa segunda-feira (23). Jácome é também consultor em recursos hídricos do Governo Federal. 



Entre os municípios que mais sofrem com a seca estão aqueles que são abastecidos pelo açude Presidente Epitácio Pessoa (Boqueirão). O manancial atende Campina Grande e outras 20 cidades e distritos da região. Com chuvas irrelevantes para reabastecer o manancial, Boqueirão já caminha para entrar no seu volume morto e pode ficar sem água para consumo em menos de dez meses.



Atualmente, Boqueirão que tem a capacidade para armazenar cerca de 410 milhões de metros cúbicos de água, possui pouco mais de 55 milhões, o que representa apenas 13,6% da capacidade do seu armazenamento total. Francisco Sarmento explica que todo mês é retirado do Boqueirão, seja para o abastecimento das cidades ou por evaporação, em média 4,3 milhões de metros cúbicos de água. Ele adverte que se esse ritmo for mantido, sem o reabastecimento necessário, não haverá mais água aproveitável no açude ainda em 2016.



“Hoje estamos com cerca de 55 milhões de metros cúbicos e se mantiver esse nível de retirada, seja por evaporação, seja pelo consumo, mesmo com o racionamento que tem sido feito, nós não chegaremos ao final de 2016. Isso não é uma previsão, é uma projeção. Basta fazer uma conta simples. Temos 55, basta descontas 4,3 mensal e em dez meses nós teremos 43 milhões a menos. Quer dizer: estaremos abaixo do volume morto do reservatório”, pontuou.
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O ex-secretário e professor da UFPB ressaltou que água do manancial já está com sua qualidade comprometida devido ao excesso da concentração de sais e o baixo nível no reservatório. 



“É uma água pesada, com alta concentração de sais e que o tratamento da água não retira isso. Isso não é só aqui na Paraíba, é em qualquer lugar do Brasil. A questão é que a água pura evapora, mas o sal fica. O sal não evapora. Então a concentração do sal vai aumentando a medida que o nível do manancial vai diminuindo”, afirmou.
A situação crítica abrange outros municípios além dos abastecidos pelo Açude de Boqueirão. A situação de emergência por causa da falta de água, decretada pelo governador Ricardo Coutinho, já atinge 170 cidades, em que várias delas passam por rodízio ou racionamento de água e precisam de carros pipas para atender minimamente a população.


Situação dos reservatórios



No estado já são sete açudes completamente secos. São eles Algodão, em Algodão de Jandaíra; Cabaceiras, em Picuí; Ouro Velho, no município de mesmo nome; Pocinhos, em Monteiro; Serrote, também em Monteiro; São José 4, em São José do Sabugi; e Vídeo, em Conceição. Eles estão entre os 53 reservatórios com 5% menos de sua capacidade. Outros  34 estão com menos de 20% da capacidade. 



Segundo o presidente de Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), João Fernandes, todo o volume de água atual dos reservatórios do estado representa apenas 16% da capacidade. Indo para o Semi-árido paraibano o número cai para 13,1%, segundo João Fernandes. 



“Nós temos 16% da capacidade de armazenar nos nossos mananciais no estado. No mês passado eram 17% e agora estamos com 16%. Por quê? Porque estamos apenas consumindo a água que se acumulada no passado. Não tem tido a recarga necessária. Não tem que ter choro. Tem que ter gestão”, frisou.
Ele discorda da projeção de que em julho do próximo ano, se não chover, Campina Grande terá um colapso no abastecimento. "Todos os nossos estudos indicam que a água de Boqueirão ainda sustenta esse abastecimento até 2017", garantiu.  
Falta de ações estruturantes


De acordo com Francisco Sarmento, desde 2011 os reservatórios não tiveram recargas significantes e, por isso, a Paraíba está em seu quinto ano consecutivo de seca severa. Para ele, a falta de ações estruturantes por parte do governo federal deve agravar ainda mais a situação no estado. 



“Se nós não enfrentarmos como a natureza do problema exige, de forma estrutural, com soluções definitivas, nós vamos vivenciar recorrentemente esses problemas”, taxou.



Segundo ele, a transposição do rio São Francisco deve solucionar o problema da seca no Nordeste, mas a demora nas obras contribui de forma significativa para o possível colapso na região no próximo ano.



“A transposição do rio São Francisco é a resposta para uma boa parte do território do Semiárido Setentrional, é uma resposta com esta característica estruturante. O problema é que não temos prazo para atender os municípios que ela beneficia. Caso o próximo ano de 2016 venha a ser seco como o de 2015, nós teremos uma situação nunca vivenciada no Brasil. Porque nós nunca tivemos uma população tão grande. Nós nunca tivemos tanta dependência da água como temos hoje e sem outra alternativa para atender essa população”, sentenciou.
João Fernandes e Francisco Sarmento concordaram que não há como construir novos reservatórios no estado. "São espelhos para evaporação", disse o ex-secretário. A exceção ficaria no rio Mamanguape.
Para Sarmento, a situação da Paraíba é pior do que a enfrentada por São Paulo. Lá, o plano B tem como alternativa 23 locais para transposição de água. Aqui, só a transposição do São Francisco. A probabilidade de se ter uma estiagem no ano que vem igual ou pior do que em 2015 é de 16%, segundo os estudos técnicos. 
No quadro abaixo, a situação de cinco dos principais açudes monitorados diariamente pela Aesa: 





MUNICÍPIO AÇUDE
CAPACIDADE(milhões de m³)
 VOLUME ATUALPERCENTUAL
 Cajazeiras Engenheiro Ávidos  255.000.000 18.393.010 (m³) 7,2%
 Boqueirão Epitácio Pessoa 411.686.287 55.880.355 13,6%
 Coremas Coremas  591.646.222 71.890.751 12,2
 Coremas Mãe dÁgua 567.999.136 89.183.566 15,7%
 Cajazeiras Lagoa do Arroz 80.220.750  5.019.918 6,3%
 FONTE: http://portalcorreio.uol.com.br/noticias/cidades/tempo/2015/11/24/NWS,269537,4,64,NOTICIAS,2190-SEM-CHUVAS-PARAIBA-ENFRENTAR-COLAPSO-AGUA-SEGUNDO-SEMESTRE-2016.aspx

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