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sábado, 20 de abril de 2013

Na Paraíba, população indígena luta para sobreviver nos centros urbanos

Cacique do povo Tabajara, Edinaldo Santos e o presidente do Conselho de Liderança dos Tabajara, Paulo dos Santos, lutam para que seu povo saia dos subúrbios da capital e volte para as terras de origem

Dispersos entre as ilhas de concreto das periferias da Grande João Pessoa, uma significativa parcela da população indígena na Paraíba luta pela sobrevivência longe das aldeias e comunidades de origem. De acordo com o último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 3.475 indígenas vivendo hoje nas cidades de João Pessoa, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita e Campina Grande. Desses, pelo menos 10% moram em áreas de grande vulnerabilidade social, sejam bairros periféricos ou favelas propriamente ditas.

Segundo o cacique-geral dos índios Potiguara, Sandro Gomes Barbosa, a falta de recursos e projetos que viabilizem a subsistência da população indígena nas aldeias tem feito com que muitas pessoas abandonem esses locais para tentar ganhar a vida nos centros urbanos. “Estão saindo de lá em busca de oportunidades de emprego. Iludidos, acham que as grandes cidades têm muito a oferecer pra eles e quando chegam lá se arrependem, não se adaptam e alguns até querem voltar na mesma hora. Por vezes, as famílias precisam fazer empréstimos pra trazê-los de volta”, conta.

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Cacique-geral dos Potiguara, Sandro Gomes, também percebe migração de seu povo para as cidades
Os Potiguara vivem na área que corresponde às cidades de Marcação, Rio Tinto e Baía da Traição, no Litoral Norte paraibano. As terras, em grande parte já demarcadas, aguardam pelo processo de homologação e desintrusão para que a posse do território seja oficialmente reconhecida pela União, através de decreto da Presidência da República. O processo já tramita em Brasília há dois anos, sem que haja uma resolução. Para o cacique Sandro, a garantia da terra é a primeira importante medida a ser tomada para evitar a migração dos indígenas para territórios hostis.
“Quando o índio chega nas grandes cidades, só encontra espaço nas favelas. Lá ele se depara com droga e criminalidade. Não quer dizer que nossas aldeias estejam livres disso, mas pelo menos ali temos um controle maior da situação. Por isso insistimos na luta pela garantia da terra e também na viabilização de projetos que nos permita viver dos frutos dessas terras. Programas como Bolsa Família e envio de cestas básicas ajudam? Sim, muito. Mas não resolvem. Ajudaria mais executar projetos dos quais pudéssemos tirar dali nosso próprio sustento”, avaliou.
De acordo com o chefe da Coordenação Técnica da Funai em João Pessoa, Benedito Rangel, ainda que existam Potiguaras fora de suas aldeias de origem, a maior parte dos índios que vivem hoje na zona urbana paraibana pertencem à nação Tabajara. O fato está intimamente ligado à questão da terra. Há cerca de sete anos, os índios Tabajara lutam para reaver seu território, localizado numa área do Litoral Sul do estado, de onde foram expulsos há mais de meio século. Por muito tempo, se pensou que essa nação houvesse sido dizimada. De 2006 pra cá, um grupo vem tentando reunir os descendentes remanescentes, grande parte moradores das periferias da capital paraibana, para resgatar a cultura, as tradições e, sobretudo, a terra onde habitavam.
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Presidente da Coordenação Técnica da Funai na Paraíba, Benedito Rangel, acredita que quando o problema da terra for resolvido, os índios voltarão para suas aldeias de origem

“Os Tabajara estão tentando reverter esse processo. Em 2006 eles procuraram a Funai em busca do reconhecimento de seu povo e no final de 2009 constituímos um grupo de trabalho. Houve então um estudo, coordenado pelo antropólogo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Fábio Moura, que resultou num relatório de fundamentação antropológica da existência da população Tabajara no Litoral Sul da Paraíba. O estudo mostrou que a maioria desses indígenas, hoje cerca de 750 pessoas, moram em áreas de cidade, principalmente em João Pessoa”, explicou Rangel.
Dessa população Tabajara que hoje vive em João Pessoa, aproximadamente 60% mora nas periferias, conforme informações do presidente do Conselho de Liderança dos Índios Tabajara da Paraíba, Paulo dos Santos. Segundo ele, a população está distribuída por 12 bairros da capital, entre eles Valentina Figueiredo, Cristo, José Américo, Colinas do Sul, Grotão, Jardim Veneza e Mandacaru. Em se tratando das favelas propriamente ditas, há índios na Porto de João Tota (em Mandacaru), Nova República (Geisel) e Porto do Capim (Varadouro), dentre outras. Ainda de acordo com Paulo dos Santos, a maior parte desses índios trabalha como ambulantes, pedreiros e empregadas domésticas. Poucos desenvolvem atividades de agricultura e pesca.
“Quando nossos pais e avós foram expulsos das nossas terras, acabamos nos dispersando e vindo parar nas periferias”, contou Paulo, que hoje mora com a esposa e quatro filhos no bairro do Cristo. Assim como ele e a família, muitos dos índios que vivem nas cidades se adaptaram ao estilo de vida urbano, perdendo traços importantes da cultura indígena. “Apesar de nós estarmos resgatando nossas danças, o louvor e o culto religioso do nosso povo, nas grandes cidades muitos de nós também praticam outras religiões, principalmente a evangélica”, disse ainda o líder Tabajara.
Fotos: Vanessa Silva e Reprodução da Internet
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Para manter a cultura viva, índios Tabajara se reúnem para dançar o Toré, sua dança sagrada. Recentemente, dois livros foram lançados com participação da comunidade para contar a história de seu povo
O presidente da coordenação técnica da Funai na Paraíba acredita que há ainda um longo caminho a ser percorrido para que os Tabajara possam reaver suas terras. Segundo ele, o estudo iniciado ainda precisa de complementos para que se delimite o território. Benedito Rangel acredita que, uma vez solucionada essa questão, a maioria dos índios hoje habitantes dos centros urbanos da Paraíba voltariam para suas comunidades de origem. “A questão primordial é a da terra. O relatório elaborado está em Brasília aguardando a constituição de um novo grupo de trabalho para os estudos complementares, para aí sim delimitar uma terra para eles. Depois que a terra for identificada e demarcada, entra no processo de contestação, para que então venha a ser homologada”.
Uma das maiores dificuldades apontadas para a resoluções das questões indígenas na Paraíba, segundo as principais lideranças dos dois povos, tem sido a falta de autonomia administrativa e financeira da Funai no estado. Desde 2009, com o processo de reestruturação pela qual o órgão passou em todo o País, a Coordenação Regional de Fortaleza assumiu a administração do órgão na Paraíba. Para o cacique do Povo Tabajara, Edinaldo Santos, o processo não tem sido fácil, mas eles estão longe de desistir. “É como diz uma sabedoria do nosso povo: ‘derrubaram nossos troncos, quebraram nossos galhos, arrancaram nossas folhas, mas esqueceram de arrancar nossas raízes”.

Portal AraraFonte : Vanessa Silva/ NE10 PB
Blog rafaelrag/focando a notícia

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