A Comissão Nacional da Verdade, que
investiga crimes ocorridos durante a ditadura militar, vai recomendar às
Forças Armadas alterações no currículo de ensino das academias
militares (na foto em detalhe: sala de aula da Academia Militar das
Agulhas Negras – AMAN).
O foco da recomendação será a questão do golpe de 1964, segundo
informações do sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, um dos sete integrantes
da comissão, instalada em maio.
“As academias militares continuam a conviver com o mito de que o
golpe de 1964 foi uma revolução democrática para impedir o comunismo”,
disse Pinheiro em entrevista ao programa Roda Viva, que foi gravado no
fim de semana e será exibido nesta segunda-feira (08/10) à noite pela TV
Cultura.
Segundo o sociólogo, existe um descompasso entre a forma como a
sociedade encara o que houve no dia 31 de março, com a interrupção da
ordem democrática constitucional, e o que as academias militares
ensinam.
“Quando a sociedade inteira faz esse percurso, as instituições de
ensino nas Forças Armadas brasileiras não podem continuar repetindo
todos esses mitos sobre o que aconteceu entre 1964 e 1985″, disse. “Não
pode haver essa esquizofrenia. As Forças Armadas continuam fazendo um
ensino que não reconhecemos mais. É um anacronismo total.”
O sociólogo observou que a comissão, que deve apresentar o relatório
de suas investigações até 2014, não tem poder para intervir diretamente
na estrutura de ensino das academias. Não deixará, porém, de fazer
recomendações. “É evidente que haverá recomendações precisas sobre esses
programas de ensino”, afirmou na entrevista.
O general da reserva Durval de Andrade Néri, ex-diretor do Clube
Militar do Rio e conselheiro da Associação dos Diplomados da Escola
Superior de Guerra (Adesg), contestou as declarações do sociólogo.
“O que nós tivemos em 1964 foi um contragolpe em defesa da
democracia, uma ação dos militares para evitar o golpe de esquerda que
levaria à comunização do Brasil”, afirmou. “Essa verdade está na
história, nos documentos e nos tribunais.”
No programa que será exibido pela TV Cultura, Pinheiro também abordou
a questão dos arquivos militares sobre o período da ditadura. “Não
acredito que tudo foi queimado”, declarou, referindo-se às frequentes
afirmações de chefes militares de que a documentação sobre fatos
ocorridos entre 1964 e 1985 teria sido queimada. “Isso é conversa para
boi dormir.”
Agência Estado
Blog rafaelrag
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