Páginas

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alagoa Grande (PB): Assistência técnica introduz tecnologias alternativas em assentamento


Alagoa Grande PB
Biodigestor, defumador de carne, fogão solar, horta orgânica e tanque de peixes. Com tecnologias alternativas e sustentáveis de baixo custo, as entidades que prestam assistência técnica a 166 assentamentos da reforma agrária na Paraíba estão mostrando novas perspectivas aos agricultores assentados. 

 No assentamento Margarida Maria Alves II, em Alagoa Grande, no brejo paraibano, a 110 quilômetros de João Pessoa, a equipe da Assessoria de Grupo Multidisciplinar em Tecnologia e Extensão (Agemte), que presta assistência técnica a 37 assentamentos do Incra na Paraíba, está montando uma das dez unidades demonstrativas (UDs) que a entidade usará como local de teste de novas experiências, de intercâmbio entre técnicos e assentados, e de troca de ideias. As UDs da Agemte estão sendo montadas em parceria com o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), de Pernambuco. 

 Na semana passada, cerca de cem pessoas, entre assentados de 16 assentamentos e técnicos da Agemte, reuniram-se na parcela do assentado José de Arimateia do Nascimento para acompanhar a construção de um biodigestor, de um defumador de carne e de uma geodésica, e, no dia 13 de setembro, para assistir uma palestra sobre criação e manejo de suínos com professores e estudantes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O lote é estratégico, por ser banhado pelo Rio Mamanguape, que é perene, e estar localizado às margens da estrada que liga Alagoa Grande ao vizinho município de Areia. 

Revolução

 A revolução na parcela de Nenê, como Seu José é mais conhecido, começou há cerca de cinco meses. Inicialmente, foi adquirido um ovino reprodutor da raça Dorper – uma raça de corte para o melhoramento genético do pequeno rebanho, com 11 animais, do assentado. 

 A futura horta orgânica recebeu uma cerca de arame fabricada por seu Nenê com o auxílio de uma máquina e custou a metade do que custaria se adquirida pronta. A pocilga e a cocheira foram reformadas para abrigar de forma mais adequada os quatro suínos e nove bovinos do assentado. 

A UD também já recebeu uma geodésica construída com canos de PVC pelos técnicos da Agemte. Com 32 metros quadrados de área, o espaço será coberto com lona plástica e servirá como sala de aula. 

 Também serão construídos um tanque para peixes com seis metros de diâmetro e 1,5 metro de profundidade, e um fogão solar com estrutura de madeira em forma de parabólica, revestida com papel alumínio e tampa de vidro, que chega a 90 graus celsius. Os peixes serão alimentados pelo esterco suíno que, segundo o engenheiro agrônomo Moisés Barros, da Agemte, ainda mantém preservados os farelos dos cereais da ração, como o milho. 


Biodigestor e defumador 

O biodigestor é semi-enterrado e foi construído em formato tubular com tela de malha fina, uma camada de três centímetros de cimento e uma caixa d’água de fibra de vidro de três mil litros que armazenará o gás metano produzido pela fermentação do esterco bovino. Uma pequena horta ficará sobre a caixa d’água para que o peso evite que a pressão do gás levante a tampa. 

 O material sólido restante servirá como biofertilizante para a horta e o gás será utilizado no fogão e na iluminação da área externa da casa de Nenê. Estuda-se ainda o uso do gás no motor que levará água para a horta. 

 O defumador a lenha, que será usado para preservar e agregar valor à carne bovina e suína, ao peixe e ao queijo, foi construído com tijolos, cimento, varões de ferro e chapa de alumínio. 

Desenvolvimento contínuo 

De acordo com o engenheiro agrônomo Moisés Barros, da Agemte, o desenvolvimento das UDs será continuo e sempre haverá novas tecnologias sendo implantadas e testadas. “Todas as atividades serão ecologicamente interligadas. O objetivo é manter a sustentabilidade para que se precise do mínimo de insumos”, afirmou Barros.

 Segundo ele, a implantação de UDs é a experiência mais exitosa da Ater porque os assentados têm oportunidade de conhecer na prática tecnologias baratas e eficientes. “A adoção de UDs vai revolucionar os assentamentos. Já estamos sentindo mudanças na forma de pensar dos assentados”, disse o engenheiro agrônomo. 

 Nenê disse que, para o agricultor, é difícil acreditar sem ver as experiências funcionando. Ele visitou o Serta com os técnicos da Agemte antes do início da implantação da UD. “Achava que essas tecnologias eram um bicho de sete cabeças. Lá eu vi a realidade, vi que, apesar de serem ideias modernas, era tudo barato e simples”, afirmou. 

 Casado e pai de três filhos, Nenê trabalhava como vaqueiro para complementar a pouca renda obtida com a parcela. “Eu não acreditava que podia viver só da minha parcela porque do jeito que a gente trabalhava não dava pra tirar muito dinheiro. Na verdade, eu não me sentia muito estimulado”, contou.

 “Já basta o que sofri em noites sem dormir, debaixo de chuva. Agora é tudo pequeno, mas funciona e é organizado. Agora tenho esperança e vou passar tudo que estou aprendendo para meus filhos”, afirmou Nenê. 

Unidades demonstrativas 

Uma das exigências do Incra/PB às entidades de assistência técnica é a implantação de UDs para testar inovações nas atividades produtivas, organizativas, gerenciais e de assistência técnica, conduzidas por agricultores familiares, técnicos e pesquisadores, visando à geração de novos conhecimentos.

 “As UDs serão utilizadas de forma educativa, para intercâmbio, capacitação e oficinas, por permitirem a observação, experimentação e reflexão coletiva sobre as questões tecnológicas, econômicas, sociais e ambientais que envolvem o manejo dos recursos naturais e a gestão da unidade produtiva”, explicou o coordenador do programa de assistência técnica do Incra/PB, José Vandilson do Nascimento Silva. 

 No primeiro momento, serão contemplados com UDs apenas alguns assentamentos por lote, escolhidos pelas entidades de acordo com o potencial dos assentamentos, como as condições climáticas, a disponibilidade de água, a localização, a vocação e as habilidades da comunidade. A renda obtida com a comercialização da produção das unidades demonstrativas, que irão trabalhar com fundo rotativo, será utilizada, em parte, para a montagem de outras unidades. 

 BLOG DO CRISTIANO ALVES, com informações do INCRA.GOV
Blog rafaelrag

Nenhum comentário:

Postar um comentário