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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Apenas 10% dos físicos brasileiros pós-graduados trabalham em empresas


Número é considerado baixo pela SBF, que organizou o relatório 'A Física e o desenvolvimento nacional'. Uma das recomendações é aproximar a ligação com a indústria

O Brasil tem por volta de 10 mil físicos, sendo 2.651 mestres e doutores com emprego formal no Brasil. Destes pós-graduados, apenas 270 exercem atividades na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em empresas ou entidades sem fins lucrativos. Ou seja, pouco mais de 10% dos titulados com mestrado ou doutorado estão aproximando a academia do setor produtivo.

Os dados, aferidos em 2009, fazem parte de um extenso relatório da Sociedade Brasileira de Física (SBF), intitulado 'A Física e o desenvolvimento nacional', que fez um mapeamento da área no País. O documento tem com um de seus objetivos promover uma ligação direta entre pesquisa e indústria e foi elaborado pela SBF em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

O presidente da SBF, Celso de Melo, explica que a entidade vem reportando há anos a relação entre a física e o desenvolvimento do País, mas que esta é a primeira vez que se obtiveram dados quantitativos. "Antes eram mais opinativos", compara. Ele conta que o relatório teve duas fases: o mapeamento propriamente dito, que revelou os números da área, e em seguida a descrição da interface da Física com as empresas e com a inovação no País. Para a obtenção dos resultados, foram cruzados dados da Capes, do CNPq, do Ministério do Trabalho e da própria SBF.

'A Física e o desenvolvimento nacional' envolveu a produção de um livro sobre as perspectivas dos diversos ramos da Física no Brasil nos próximos cinco anos e a realização de dois workshops, ocorridos entre o fim de 2011 e fevereiro deste ano, reunindo pesquisadores, representantes do governo e corporativos. A meta principal é diagnosticar os desafios e apontar soluções para introduzir melhor os físicos (e seu potencial inovador) na indústria brasileira.

Concentração no Sudeste

Melo afirma que não foi uma surpresa constatar que a maioria dos físicos está concentrada no Sudeste, mas sim descobrir que o número de físicos realizando atividades de P,D&I, citado acima, é "surpreendemente pequeno", "com enorme concentração no estado de São Paulo". De acordo com o documento, grande parte dos doutores e mestres empregados está nas regiões Sul e Sudeste.

São Paulo, com 687 mestres e doutores, é seguido de longe por Rio de Janeiro, com 298, Minas Gerais, 273, Paraná, 183, e Rio Grande do Sul, 166, seguidos pelo Distrito Federal, 131, e pela Bahia, 114. A maior concentração na região Norte é a do Pará, com 23 (dados de 2009). Pelo relatório, a Física parece ser uma área que privilegia o doutorado. Enquanto a proporção de doutores em todas as áreas em relação aos mestres titulados no mesmo período é de 36%, na Física, a proporção é de cerca de 94%. Na Astronomia e Biofísica, essa proporção é ainda maior e o número de doutores supera o de mestres.

De acordo com o texto, a maioria dos físicos empregados em empresas na época atuava em setores prioritários da política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior. As principais ocupações se relacionavam com atividades econômicas associadas à indústria extrativa e à de transformação, atividades profissionais científicas e técnicas e à defesa. O mapeamento mostrou também que há um equilíbrio entre físicos teóricos e experimentais - 35% em ambos os casos -, com outros 26% dedicados ao ensino. Os 4% restantes se encontram em atividades de gestão.

O presidente da SBF lembra um aspecto que contribui para o número baixo de físicos em empresas. Como a profissão não é regulamentada, algumas companhias contratam físicos sob diferentes denominações. "Deu muito trabalho o cruzamento de informações. Enquanto não houver a regulamentação da profissão, enquanto não houver instrumentos legais, vamos trabalhar sempre com margem de dúvida", lamenta, acrescentando que o Congresso Nacional está discutindo um Projeto de Lei de regulamentação da profissão. "É possível que parte desse pessoal esteja com emprego informal, trabalhando fora do Brasil, atuando em atividades empresariais como sócios proprietários ou ainda trabalhando como profissionais autônomos, como consultores, por exemplo", afirma o relatório.

A SBF se divide em dez comissões de áreas de atuação: Física Atômica Molecular, Física Biológica, Física Médica, Ótica e Fotônica, Física Estatística e Computacional, Física Nuclear e Aplicações, Pesquisa em Ensino de Física, Física de Plasmas, Física de Partículas e Campos e Física de Matéria Condensada e de Materiais.

Recomendações

Melo explica que o modelo de relatório é inédito na área científica do Brasil e que em parte se inspirou em um documento do Instituto de Física da Grã-Bretanha, que mostra o impacto da Física no século 20 para a economia da região. "Cerca de 2% a 3% de trabalhos de física tiveram contribuição na faixa de 6% na economia britânica, com participação expressiva em comparação, por exemplo, com o setor bancário britânico. A gente gostaria de conseguir dados eventualmente numa base suficiente para fazer um estudo semelhante", planeja.

Entre as recomendações do documento brasileiro figuram a criação de centros de excelência em parceria com as empresas e de um observatório de Física para a inovação; realizar uma autoavaliação da Física brasileira a cada cinco ou dez anos para subsidiar um planejamento estratégico; identificar com precisão o número de físicos nas empresas e sua titulação e o dos pesquisadores em instituições de ensino que realizam parcerias com as empresas; estimular a participação da Física brasileira em programas internacionais de pesquisa e atividades multidisciplinares; criar programas de estágio nas empresas para estudantes de Física e disseminar o potencial de empregabilidade dos físicos nos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT) e nas empresas.

O presidente da SBF acredita que as recomendações, apesar de dirigidas à própria entidade realizadora do censo, podem ser úteis também para a comunidade científica "se movimentar". "Não temos o poder de influenciar o Governo. Mas fizemos um diagnóstico e vamos distribuí-lo em agências de financiamento e órgãos de governo. Esperamos poder contribuir", conclui, acrescentando que a ideia é dar sequência ao documento e fazer uma espécie de planejamento estratégico da Física brasileira para a próxima década.

O relatório pode ser conferido na íntegra no endereço

(Jornal da Ciência)
Blog rafaelrag

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