Hiran de Melo - Professor
A compreensão do significado da Universidade Federal de Campina Grande exige um olhar além dos dez anos vividos pela instituição com esta denominação.
A UFCG surgiu do desmembramento da UFPB em dois grandes polos universitários, visando racionalizar os recursos dispersos pela concepção multicampi vigente na administração universitária. Essa parte da história, compartilhada pelas duas universidades, deve ser considerada em qualquer reflexão sobre os destinos da UFCG.
Outro fator significativo repousa na fundação da associação dos docentes (ADUFPB-CG) que na sua origem ia além das demandas determinadas pelos interesses sindicais. Constituindo-se, assim, num espaço aberto a discussões amplas de temas acadêmicos e humanistas, gerando os fundamentos da criação de uma nova instituição universitária.
As assembleias daquela época eram tão concorridas que algumas aconteciam em espaços abertos, a exemplo das escadarias da biblioteca central. Muitos professores paravam suas atividades rotineiras para pensar a universidade e seus possíveis caminhos, o significado do nosso trabalho e nossa contribuição ao desenvolvimento do país, em particular, ao estado que hospedava uma universidade federal.
Desses amplos e profícuos diálogos, surgiu a ideia da criação de uma nova universidade. Ideia que ultrapassou os muros do campus de Campina Grande e foi acatada como bandeira política por uma parte significativa dos políticos profissionais. E foi devido à presença desses agentes, nas instâncias de decisão do poder federal, que a UFCG foi criada com quatro campi. Essa participação, ao mesmo tempo em que viabilizou a criação, desvirtuou a ideia originária presente no movimento docente.
Naquela época, de saudosa memória, também existiam trevas. Uma delas consistia na separação dos docentes em duas vertentes ideológicas: os “de direita”, vagamente identificados como os integrantes da administração, e os de“esquerda”, nós que lutávamos por uma universidade de qualidade, gratuita e para todos. Esta separação era uma tolice sem pé e nem cabeça, mas permitia definir a luta que nos levava ao “bom combate”, ao que rotulamos hoje de “politicamente correto”.
Na difusão das ideias, na troca de experiência e visões de mundo entre profissionais dos mais diversos campos do conhecimento, fragmentado ou especializado (como queiram), construímos um “pensamento multidisciplinar”. Não um vago conceito.
Com essa prática, mesmo com as limitações provocadas pelas ideologias subjacentes ao discurso de todo pensador, construímos um corpo teórico orientador, que podendo considerar como bússolas, para as escolhas dos caminhos e as decisões nas suas bifurcações e encruzilhadas.
Por fim:
A história da criação da UFCG sugere que, neste novo tempo de redefinição de rumos e de escolha e/ou confecção de bússolas, seja retomado o diálogo aberto, franco, honesto e fraterno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário