Da esquerda para a direita, os alunos Hugo Fares Menhem, Murilo de Andrade Porfírio, Lucas Tavares Vitoriano, Jônatas Augusto de Paula e Paulo Henrique dos Santos Silva, membros da equipe da OBF que disputou o IPhO no Japão.
Com um desempenho melhor que no ano passado, todos os cinco estudantes da equipe brasileira da OBF voltaram da Olimpíada Internacional de Física (IPhO), realizada no Japão em julho, com medalhas de bronze e prata
Por trás de toda honraria, condecoração ou medalha, há sempre uma história de superação. Nesse sentido, Jônatas Augusto de Paula, que mora em Fortaleza, no Ceará, é um grande exemplo. No início de 2023, ele perdeu a casa onde morava com os pais, justamente no momento em que se preparava para o Torneio Brasileiro de Física (TBF), que seleciona estudantes que podem representar o Brasil nas disputas internacionais da área.
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Os pais de Jônatas foram morar na casa de um tio e ele foi acolhido no alojamento do Colégio Master, instituição privada de ensino que concede bolsa a Jônatas desde o 6º ano do Ensino Fundamental. A situação toda, no entanto, foi mais um motivo para ele estudar ainda mais para o TBF. Como o alojamento fica ao lado da escola, Jônatas ganhou mais duas horas do dia, tempo que levava para ir e voltar do colégio de ônibus.
O esforço valeu a pena, pois Jônatas é um dos cinco estudantes da equipe da Olimpíada Brasileira de Física (OBF) a trazer uma medalha da Olimpíada Internacional de Física (IPhO), realizada em julho no Japão. O evento reuniu 394 estudantes de 82 países. O time brasileiro foi liderado pelos professores Ricardo Andreas Sauerwein (UFSM) e Leandro Cristante de Oliveira (UNESP). “A OBF e as conquistas internacionais mudam a história desses meninos”, diz Ricardo, Coordenador Geral da OBF.
Jônatas ficou com bronze, mesma medalha trazida por Hugo Fares Menhem (Colégio Dante Alighieri – SP) e Lucas Tavares Vitoriano (Colégio Farias Brito – CE). Já Paulo Henrique dos Santos Silva (Colégio Objetivo – SP) e Murilo de Andrade Porfírio (Colégio Etapa – SP) conquistaram medalhas de prata. “Meus pais ficaram muito orgulhosos”, diz Jônatas, estudante negro que cursa o 3º ano do Ensino Médio.
“Por ser negro, tenho ainda mais desafios. Se eu estivesse em escola pública como estava antes talvez não teria chegado até aqui. Mas a partir do momento que você tem oportunidades, como eu tive, as coisas ficam mais iguais”, afirma ele, que deseja prestar engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, em São Paulo. “Eu já sei Física, mas faltam algumas coisas em Química e Redação. E o importante de participar das Olimpíadas é aprender a estudar, a ter organização. Depois de aprender isso, as coisas ficam mais fáceis independente do que você faça.”
Paulo Henrique dos Santos Silva, 17 anos, também tem bolsa integral do Objetivo da Avenida Paulista, em São Paulo. Hoje vivendo no Parque Imperial, em Barueri, esse adolescente de classe média, cuja família imigrou da Paraíba para São Paulo antes dele nascer, sonha em estudar Engenharia Elétrica nos Estados Unidos em busca de soluções para geração de energia sustentável.
Na IPhO, além da medalha de prata, Paulo também conseguiu a melhor nota individual, com o melhor destaque individual da equipe brasileira. E ele vem disputando com sucesso olimpíadas internacionais na área da astronomia. Em 2021, levou ouro na Olimpíada Latino Americana de Astronomia no Peru, realizada on-line devido à pandemia. No ano passado, foi presencialmente até a Geórgia, no Leste Europeu, e obteve medalha de ouro. E, neste final de semana, Paulo conquistou a medalha de ouro e a melhor prova em grupo na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica, realizada na Polônia.
Além da medalha, Paulo avalia que o maior ganho é conhecer pessoas de lugares diferentes do Brasil e do mundo, que têm interesses parecidos, mas histórias completamente diferentes e para formar grupos de estudos online. “Isso me ajudou muito e tento retribuir essa ajuda ajudando outros alunos do Brasil inteiro, para criar uma comunidade Olímpica para trazer os melhores resultados para o Brasil. Mesmo se você não conseguir se classificar, o que fica é o aprendizado da comunidade. Você pode buscar outra vez, o importante é não desistir e focar no aprendizado de vida. É algo que pode trazer benefícios para outras áreas na carreira e na faculdade, vários contatos, e trazer um impacto social.”
Ricardo Andreas Sauerwein explica que o resultado da IPhO de 2023 foi melhor que a do ano passado. E, ainda, ressalta os bons resultados da Olimpíada Europeia de Física (EuPhO), realizada em junho, em Hanover, na Alemanha. Nesta disputa, os estudantes trouxeram uma medalha de ouro, três de da prata e uma de bronze. Alberto Akira Ito Alberna, do Colégio Farias de Brito (CE), garantiu o ouro, enquanto Gabriel Mazili Pedroza, do Colégio Etapa (SP), Paulo Otavio Portela Santana e Gabriel Hemétrio, ambos do Farias de Brito, levaram as medalhas de prata. Gabriel Baptista Bezerra de Melo, também do Farias de Brito, conquistou o bronze. “Sãos vários os objetivos das Olimpíadas. O primeiro deles é despertar o interesse pela Física e pela ciência de maneira geral. E, também, incentivar os talentos. Qualquer talento de futebol vai ser descoberto, mas nas outras áreas os estudantes não têm oportunidade de se desenvolver, de aproximá-los das universidades. A ciência é além daquilo que se vê na escola”, conclui Ricardo.
(Colaborou Roger Marzochi do portal da SBF)
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