Por professor José Maria Gurgel.
Fiz meu Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática na Unicamp, Campinas, São Paulo.
Um de meus primeiros problemas que enfrentei ao chegar à Campinas pra fazer o curso foi o isolamento, pois, tinha poucos conhecidos, minhas únicas referências de amizade eram apenas os colegas de turma.
Nestas memóŕias enfatizo fatos relativos ao lado não acadêmico do curso, por sinal, muito rico até o fato inusitado de fazer amizade com o cachorro de um tio.
Minha mãe, Dona Doquinha logo entendeu o fato do meu isolamento e falou para eu procurar um irmão dela, Rozanam que morava em Osasco na grande São Paulo.
No final de semana me desloquei pra São Paulo e logo localizei a casa do meu Tio Rozanam em Osasco Ah, mas foi aquela festa, um puxava pra um canto, outro puxava pro outro, todos querendo conversar, abraçar saber das novidades do Nordeste, da família, me levavam pra conhecer o shopping, o clube, as atrações da cidade e de tanto ir pra lá e pra cá, tive que observar:
- Olha gente, não é preciso tanta preocupação, essa atenção toda, afinal vim apenas fazer uma visita a vocês.
Um primo entendeu e logo colocou o clima:
- Fique quieto Zé Maria, acontece que você é o único primo que nós conhecemos e que veio na nossa casa, sossega que vc é importante pra gente.
Fiquei todo envaidecido, agradeci o carimho dos primos e tios e sempre que podia, ia passar o final de semana na casa do Tio Rozanam em Osasco.
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Também pudera, era uma festa, a casa do tio. Tinha uma prima que era casada com um gaúcho e nunca faltava um tal de churrasco ao sal grosso, delícia, claro que regado a umas bramas bem geladas....
Aproveitei os encontros de Osasco pra vender o peixe e contar um pouco da saga dos Carneiros de Caraúbas, família do povo da casa. A parentada ficou pasma quando falei de um primo famoso da minha mãe, Antonino Carneiro, o justo, o valente, o corajoso, o temível, aquele que sempre lavou a honra da família e nunca levou desaforo pra casa, hoje é um herói, uma lenda, exemplo para todos.
Uma das coisas que mais me marcaram na casa do tio foi a amizade que fiz com o cachorro da família. Desde esse tempo, entendi porque o cachorro é o melhor amigo do homem.
Final de ano, tive que voltar à Paraíba, pois haviam encerradas as aulas presenciais na universidade e posso dizer que tive os melhores professores da época. Além disso, a Unicamp sempre realiza intercâmbio com outras universidades do Brasil e do exterior com a participação de pesquisadores e professores, a troca de experiências para reforçar o aprendizado.
O curso foi de uma aprendizagem incrível. Muita base filisófica para a educação, onde não devemos ter um ensino voltado apenas para aquisição de conhecimentos, mas para formar o cidadão, preparar para a vida. Piaget e Paulo Freire marcaram minha vida.
Na bagagem da volta, um Projeto de Dissertação de Mestrado sobre Educação Ambiental, aplicando como tema gerador, o Açude Grande de Cajazeiras.
A viagem de volta à Paraíba começou na casa do tio até chegar em João Pessoa. Saindo da casa do tio pra chegar a Estação de trem em Osasco teríamos que atravessar um cano curvo sobre o Rio Tietê.
O cachorro me acompanhou até a base do cano. Nunca tinha feito isso nas minhas vindas. Subindo os degraus do cano, olhei pra trás e vi aquele olhar canino, triste, de despedida, um lamento, prevendo como se dissesse o que iria acontecer:
- Zé Maria nunca mais vamos nos ver...
E como previsto, nunca mais nos vimos!
Professor José Maria Gurgel aposentado pela UFCG e mora em Cajazeiras.
Blog rafaelrag
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