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domingo, 30 de dezembro de 2018

Quem Indicou o Novo ministro de Educação Fuma 3 Maços de cigarro por dia. Veja o que ele pensa sobre o aquecimento Global e a Teoria da evolução

“Não há limites para a burrice, quando é científica”, publicou Olavo de Carvalho no Diário do Comércio, em dezembro de 2007. O filósofo não era tão falado quanto agora, mas já espalhava seus aforismos contra teorias de cientistas consagrados. No mesmo jornal, o escritor chegou a acusar o pai da física moderna Isaac Newton de “espalhar burrice” e chamou a teoria da evolução de Charles Darwin de “tosca” e “confusa”.

Mentor do presidente eleito Jair Bolsonaro, Olavo é a personificação do pensamento do futuro governo brasileiro: muito religioso e bélico, porém pouco científico. Tanto é que indicou dois ministros com ideias parecidas com as suas: Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo Vélez Rodríguez, da Educação.

Por razões óbvias, as duas indicações preocupam cientistas. O astrônomo Thiago Signorini Gonçalves, professor do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é um dos aflitos. “Temo que ajude a legitimar as teorias pseudocientíficas, contestando o currículo atual e tratando temas como o geocentrismo e o criacionismo como, de alguma forma, equivalentes às teorias científicas, quando evidentemente não são”, diz. “É um falso debate que pode colocar em xeque a autonomia de professores em sala de aula.”

O temor de Signorini é compartilhado pelo doutor em engenharia biomédica pela USP, José Colucci Jr. “Uma abertura à pseudociência, como é o caso do criacionismo – influenciada, talvez, pelos evangélicos – seria desastrosa para a formação de nossos futuros cientistas. Nada em biologia faz sentido sem o evolucionismo”, afirma. “A teoria da evolução é essencial para a compreensão da biotecnologia e da engenharia genética. Qualquer tentativa de privar os jovens desse conhecimento seria criminosa. Espero que não aconteça.”

Mas será que algumas das queixas de Olavo de Carvalho possuem algum fundo de verdade? Quais são seus argumentos ou ideias para defender seus posicionamentos? Fomos atrás de alguns dos principais nomes científicos de áreas como física, meio ambiente, oncologia e biologia para que eles pudessem nos responder. Os resultados estão logo abaixo.

Aquecimento global

O que Olavo diz sobre:

“Bons tempos aqueles em que os idiotas acreditam em fadas e duendes. Hoje eles acreditam em aquecimento global e fumo passivo” (25/02/2016)

“A Guerra Fria acabou? Acabou, sim. Está ficando quente. Esse é o único aquecimento global comprovado” (02/05/2016)

Autor de livros como O Imbecil Coletivo (1996) e O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota (2013), Olavo Luiz Pimentel de Carvalho crê que o aquecimento global não existe. “Bons tempos aqueles em que os idiotas acreditavam em fadas e duendes. Hoje, acreditam em aquecimento global e fumo passivo”, postou no Twitter, em fevereiro de 2016. “A Guerra Fria acabou? Acabou, sim! Está ficando quente. Esse é o único aquecimento global comprovado”, reiterou, três meses depois.

Os cientistas mais respeitados da área, claro, não concordam. “Donald Trump usou apenas duas palavras para dizer o que pensava do aquecimento global: ‘Não acredito!’. Veja, a palavra ‘acreditar’ não existe em ciência. Você pode acreditar em Deus. Mas, em ciência, você analisa evidências científicas e, a partir delas, tira conclusões”, explica o físico Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) que, desde 2002, contribui com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão científico da ONU para avaliação das evoluções do clima.

O 5º relatório do IPCC, lançado em 2014, concluiu que há 95% de chance de a ação humana ser a principal causa do aquecimento observado desde a metade do século 20. Os negacionistas climáticos, ao contrário, dizem que a ação humana não teria qualquer influência sobre clima. Prova disso, acreditam, seria o hiato do aquecimento, período entre 1998 e 2012 em que o aumento da temperatura da Terra parecia ter desacelerado.

“O que há por trás do ‘negacionismo climático’? Interesses econômicos da indústria do petróleo e carvão. Quanto ao Olavo, ele não responde pela ciência. Aliás, não tem qualquer respaldo nos meios acadêmicos. É meramente um ideólogo da extrema-direita brasileira”, diz Artaxo.

No caso de Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, a preocupação é outra. Será que, por influência do escritor, o Brasil sairá do Acordo de Paris? “As mudanças climáticas não apenas são reais, como enfrentá-las exigem escolhas difíceis e urgentes. Quanto mais tempo demorarmos, piores serão os impactos ambientais, sociais e econômicos para o Brasil”, alerta Baitelo. “Um planeta 2º C mais quente poderá reduzir, significativamente, as áreas produtivas de arroz, soja e feijão até 2030. Na prática, o que isso significa? Menos oferta, preços mais altos. Para líderes políticos, a mensagem é clara: ‘Ajam agora. Não temos mais tempo a perder’”.

Teoria da evolução

O que Olavo diz sobre:

“Criacionismo e evolucionismo não são termos antagônicos. Mas, ao contrário do que pensa o vulgo, o primeiro pode ser provado, o segundo não. Nem refutado” (20/11/2016)

Quase nenhum cientista escapa das bravatas olavistas. O autor de O Gene Egoísta (1976), O Relojoeiro Cego (2001) e Deus, Um Delírio(2007) não foi o único a sofrer críticas de Olavo. Nem Isaac Newton e Stephen Hawking escaparam. Do primeiro, escreveu, em coluna do Jornal do Brasil, de junho de 2006: “Newton não espalhou só o ateísmo pela cultura ocidental: espalhou o vírus de uma burrice formidável”. Do autor de Uma Breve História do Tempo (1988) e O Universo Numa Casca de Noz (2001), publicou no Diário do Comércio.

, de setembro de 2010: “Qualquer que seja a competência de que desfrute na sua área de estudos, o dr. Hawking com frequência comporta-se com um astro do show-business, impressionando a plateia com declarações espetaculares que se tornam ainda mais espetaculares quando, uns anos depois, ele as desmente com o mesmo ar de certeza com que as proclamou”.

Seu alvo predileto, no entanto, parece ser o naturalista britânico Charles Darwin. O autor de A Origem das Espécies (1859) mereceu uma série de artigos em sua coluna no Diário do Comércio. “Não sei se a evolução biológica aconteceu ou não. Ninguém sabe. O que sei, com absoluta certeza, é que, como construção intelectual, o evolucionismo é um dos produtos mais toscos e confusos que já emergiram de uma cabeça humana – ou animal”, declarou, em dezembro de 2007. “Há muito tempo já compreendi que os cientistas são ainda menos dignos de confiança que os políticos, e os paradoxos da fama de Darwin não fazem senão confirmá-lo”, afirmou, em fevereiro de 2009.

Colucci, mais uma vez, pensa diferente. “Desde que Darwin a formulou, em 1859, a teoria da evolução foi submetida a muitas tentativas de refutação e sempre emergiu vitoriosa. A intuição de Darwin, aliada ao seu extraordinário rigor e método, chega a parecer sobre-humana. Enquanto a mecânica de Newton foi suplantada pela relatividade de Einstein, o mesmo não se deu com o evolucionismo”, explica.

José Colucci Jr. é dos raros cientistas que já se envolveu em “polêmica” com Olavo de Carvalho. Foi entre julho e outubro de 2004, no Observatório da Imprensa. Tudo começou quando Olavo, em sua coluna no jornal O Globo de 26 de junho, criticou trechos da entrevista dada por Richard Dawkins para a revista Veja, três dias antes. Colucci saiu em defesa do zoólogo inglês e, pronto, a confusão estava armada. De um lado, Colucci disse que Olavo “critica o que não leu e não entende o que leu”. Do outro, Olavo chamou seu oponente de “vigarista” e acrescentou: não merece “nem uma cuspida na cara”. “O debate serviu para mostrar que, intelectualmente, Olavo é um peso leve. Tire dele as bravatas, as frases de efeito e os ataques pessoais e sobrará muito pouco”, diz Colucci.

Quase 15 anos depois, qual a lição que ficou? “Hoje não debato publicamente com criacionistas. Parte da estratégia do criacionismo é buscar debates públicos com defensores da ciência. É uma maneira de conquistar a respeitabilidade que, de outro modo, não teriam”, responde Colucci.

O biólogo Eli Vieira, mestre em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutorando na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, concorda. “Olavo já afirmou que Darwin plagiou o próprio avô, Erasmus, na proposição da teoria e, também, escreveu que os biólogos de hoje consideram falsa a seleção natural. Quase sempre que fala de ciência, Olavo não sabe do que está falando”, afirma.

HIV

O que Olavo diz sobre:

Jean Willys deve verificar se sua saliva não transmite o vírus da Aids (19/04/2016)

As teorias de Olavo de Carvalho, na maioria das vezes, passam despercebidas pela comunidade científica. Mas há exceções. Em abril de 2016, a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), ONG fundada em 1996 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lamentou, em nota, as “doses vergonhosas de desinformação e preconceito” destiladas pelo escritor contra as “mais de 780 mil pessoas que vivem hoje com HIV/Aids no Brasil”.

Um dia antes, Olavo tinha postado no Facebook que Jean Wyllys deveria se submeter a um exame para verificar “se sua saliva não transmite o vírus da Aids”. Durante a votação do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016, Wyllys cuspiu em Jair Bolsonaro no plenário. “A ciência já provou que saliva não transmite o vírus biológico, mas ela pode transmitir o vírus ideológico (o mais perigoso) quando usada em discursos desinformados e preconceituosos como o seu”, declarou a associação.

Vacinas

O que Olavo diz sobre:

“Vacinas matam ou endoidam. Nunca dê uma a um filho seu. Se houver algum problema, venha aqui que eu resolvo” (citando o homeopata Carlos Armando de Moura Ribeiro, 23/07/2016)

Se em relação ao aquecimento global Olavo garante não ter dúvidas – chegou a classificá-lo de “a mãe de todas as fraudes” em artigo publicado no jornal Diário do Comércio, de dezembro de 2009 –, em relação a outros assuntos, diz não ter tanta certeza. “Já li provas científicas eloquentes de que (vacinas) são úteis e de que são perniciosas, e me considero humildemente em dúvida até segunda ordem”, escreveu no mesmo veículo, de propriedade da Associação Comercial de São Paulo, em julho de 2006. Admite que alguns de seus oito filhos foram vacinados, outros não. “Todos foram abençoados com saúde, força e vigor extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência, mas a Deus e ninguém mais”, conclui. Dez anos depois, em julho de 2016, citando o homeopata Carlos Armando de Moura Ribeiro, já falecido, tuitou: “Vacinas matam ou endoidam. Nunca dê uma a um filho seu”.

Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai relembra o caso da varíola – em 1980, a OMS declarou a doença erradicada do planeta – para enfatizar a importância da vacinação. “Varíola, quando não matava, deixava sequelas. A vacina não só acabou com a doença como eliminou o vírus”, explica. O sarampo, em compensação, voltou a preocupar as autoridades brasileiras. Durante a década de 1990, o país chegou a registrar mais de 177 mil casos. Em 2016, recebeu o certificado de eliminação da doença. Desde o início do ano, no entanto, o número de casos confirmados já passa de 10 mil. “As pessoas costumam dizer que são contra as vacinas enquanto a doença não bate na porta delas. Quando o perigo ronda a vizinhança, vemos filas e mais filas à procura da vacina. Quando a pessoa não valoriza o perigo, não valoriza a prevenção”, lamenta.

Tabagismo

O que Olavo diz sobre: 

“Cigarro PODE fazer mal, é claro. Isso acontece se, a cada baforada, você ficar repetindo: ‘Esta m**** está me matando’. É a forma de auto-hipnose suicida mais aprovada socialmente” (16/12/2015)

“Eu fumo há meio século, dois ou três maços por dia, e o meu pulmão está INTACTO, graças a Deus” (16/07/2016)
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No dia 16 de julho de 2016, Olavo de Carvalho publicou um de seus famosos tuítes tabagistas. Nele, o escritor e jornalista de 71 anos se gabava de fumar havia meio século, “dois ou três maços por dia”. E mais: seu pulmão, graças a Deus, estava INTACTO (assim mesmo, em caixa alta!). Menos de dois anos depois, parece ter mudado ideia ou pensado melhor a respeito. Em mensagem postada em abril, disse adeus aos cigarros. Por recomendação médica, largou um hábito que começou aos 17 anos. “Sempre disse que, depois dos setenta, passaria a fumar só cachimbo. Aproveitei a convalescença da cirurgia para cumprir esse desígnio”, declarou, em seu perfil no Facebook.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo e responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis. Dessas, é responsável por 85% das mortes por doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema), 50% por doenças cardiovasculares (infarto, angina e acidente vascular cerebral) e 30% por diversos tipos de câncer (pulmão, boca e laringe, entre outros). “Não vejo como dizer que fumar faz bem. Ainda que existisse algum potencial benefício identificado, como perder peso ou controlar a ansiedade, só traz prejuízos à saúde. Não há relação custo/benefício que justifique seu consumo”, alerta Clarissa Baldotto, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

No Brasil, o percentual de fumantes acima dos 18 anos era de 34,8% em 1989. Em 2013, caiu para 14,7%. “Se não tiver consciência dos malefícios do tabagismo, cada nova geração está em risco. E, neste caso, não se trata apenas de ser ‘politicamente correto’. Há dados muitos claros, nacionais e internacionais, que atestam os malefícios do cigarro”, afirma a oncologista.
(Blog da Cidadania, 18.12.2018)

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