POR QUESTÃO CULTURAL A MAIORIA DAS MULHERES NÃO ACEITA A CAMISINHA FEMININA
A
partir do próximo mês de maio, o Ministério da Saúde iniciará a
distribuição do primeiro lote dos 20 milhões de preservativos femininos
adquiridos pelo Governo. Entre muitas resistências que ainda são
obstáculos para o uso popular do meio contraceptivo e preventivo às
Doenças Sexualmente Transmissíveis, grupos feministas defendem a
camisinha feminina como mais uma forma de autonomia para as mulheres.
Um exemplo desses grupos é a
Rede Feminista de Saúde de Pernambuco (RFS-PE). Gigi Bandler,
representante da Rede e do grupo Loucas da Pedra Lilás, em entrevista a
Adital, fez críticas ao Governo em relação à demora pela aquisição dos
produtos. “É uma ótima notícia, pois o custo desse tipo de preservativo é
muito alto. É de preço proibitivo para o SUS [Serviço Único de Saúde],
mas seria uma grande vantagem para o planejamento reprodutivo. Em nosso
país, há a carência de campanhas sobre todos os métodos. A notícia dessa
distribuição deve ser divulgada, pois esse preservativo é um método de
barreira à gravidez e às DSTs bem como de controle corporal. Há muito já
esperava a realização dessa campanha que é uma obrigação do próprio
Governo. Contudo, mais do que o custo, ainda falta o ensinamento para o
uso”, disse.
Pouco utilizada e cercada
de tabus, a camisinha feminina é tão eficaz quanto a versão masculina na
prevenção às DSTs. E pode ser uma aliada das mulheres que se sentem
constrangidas ao pedirem que seus parceiros coloquem o preservativo.
Além de ser um símbolo de autonomia feminina, mostra que é possível se
proteger independente da iniciativa do seu parceiro.
Quanto à postura dos
profissionais da área de saúde, Gigi Bandler analisou: “Estes devem
seguir uma postura educativa sobre a camisinha feminina. Ela requer
preparos e deve ser advogada em um momento educativo, de
responsabilidade do SUS para com as usuárias. Porém, uma das maiores
barreiras é o não-conhecimento da mulher com o seu corpo. O uso dessa
camisinha requer preparos e expressa esse conhecimento corporal. Ainda
há a necessidade de profissionais que estejam sensibilizados a essa
questão.”
A respeito da resistência
para o uso do preservativo feminino, Gigi respondeu: “Há, sim, uma
resistência ao uso. As mulheres, em sua maioria, mesmo sem experiência
dizem que a camisinha é difícil de colocar, que não presta. Isso é um
preconceito cultural devido ao fato de aproximar as mulheres do seu
próprio corpo, um processo historicamente negado a elas, pois viviam na
condição de submissão aos homens”.
Entre as vantagens do uso
da camisinha feminina, Gigi também comentou que esta é feita de um látex
mais fino do que a masculina, portanto gera um conforto maior além de
deixar a mulher mais protegida. “Muitos dos métodos contraceptivos geram
efeitos colaterais e lançam no corpo da mulher uma forte carga
hormonal. Por causa dessas dificuldades, as mulheres procuram os métodos
definitivos. Porém, o preservativo feminino é bastante saudável, além
de eficaz.”
Outros fatores que levam as
mulheres ao uso de métodos definitivos e à rejeição de métodos
contraceptivos de elevadas cargas hormonais, segundo a entrevistada, é o
medo que estas têm de engordar, de terem sua libido diminuída e também
de sentirem náuseas. Aquelas que têm saúde debilitada e são fumantes não
são indicadas ao uso desses métodos, pois são utilizados muitos
hormônios em sua composição.
A população feminina também
sofre preconceito e restrição ao uso desse tipo de preservativo
principalmente pelos seus parceiros. “Em sua maioria, [eles] têm
preconceito pelo fato de não terem preparo para manusear. Também há a
desculpa de não obterem prazer na relação. Por não quererem se
responsabilizar pelo corpo delas, os parceiros entram em conflito. Com o
preservativo feminino, as mulheres se responsabilizam pelo seu corpo e
têm domínio sobre ele.”, concluiu Gigi.
De acordo com o Ministério
da Saúde, de 1997 até 2011, foram distribuídos 16 milhões de
preservativos femininos para os 26 estados e o Distrito Federal. A nova
aquisição representa um volume 25% maior do que a quantidade já
distribuída no país.
Rede Feminista de Saúde de Pernambuco (RFS-PE)
A Rede incentiva o cuidado e
o conhecimento do corpo feminino pelas mulheres e promove a ideia de
que o uso desse tipo de preservativo as encaminha para uma superação de
preconceitos pessoais e masculinos.
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